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O provável Feliz Natal de Rupert Murdoch

A equipa do presidente Obama está a tornar possível a Murdoch aumentar o seu poder, premiando justamente o homem que fez de tudo para que Obama não chegasse ao segundo mandato. A Comissão Federal de Comunicações (CFC) parece estar a preparar um presente de natal grandioso para Murdoch. Por Bill Moyers e Michael Winship.
Rupert Murdoch no Fórum de Davos, janeiro de 2009 – foto de wikimedia

Até agora, 2012 não foi o melhor dos anos para Rupert Murdoch. Para começar, nenhum dos que estão na folha de pagamento da sua Fox News –nem Newt Gingrich, nem Rick Santorum, nem Mike Huckabee, nem Sarah Palin – foi candidato à presidência pelo Partido Republicano.

É claro que, quando Mitt Romney foi o nomeado, o império do magnata de média não serviu senão para ampará-lo. E a despeito da vitória esmagadora que previram para os republicanos na noite de apuramento, os especialistas da Fox, Dick Morris e Karl Rove, estratega e captador de recursos republicano número um, tiveram de engolir o segundo mandato de Barack Obama.

Ainda por cima, esta semana a News Corporation anunciou o encerramento dos trabalhos do The Daily, um periódico nacional multimilionário para iPads. Também, na semana passada foi publicado em Londres o Relatório Leveson, que trata dos brutais abusos dos média britânicos – entre os crimes há escutas telefónicas ilegais e subornos. O jornal de escândalos de Murdoch, The News of the World, está mais do que envolvido, é o que mais delinquiu.

As acusações compreendem “mau governo” e “reiterada falta de respeito pela privacidade e dignidade individuais”. Os efeitos colaterais custaram a Murdoch o maior negócio da sua carreira, a multibilionária BSkyb, rede televisiva via satélite.

Mas a sorte de Rupert está a mudar. Apesar da Fox News ocupar o cargo de ministério da propaganda do Partido Republicano, a equipa do presidente Obama está a tornar possível a Murdoch aumentar o seu poder, premiando justamente o homem que fez de tudo para que Obama não chegasse ao segundo mandato. A Comissão Federal de Comunicações (CFC) parece estar a preparar um presente de natal grandioso para Murdoch.

Tudo indica que o magnata está de olho em dois dos últimos grandes periódicos norte-americanos, o Chicago Tribune e o Los Angeles Times, propriedades da falida Tribune Company. Mas Murdoch, mesmo que divida a sua News Corporation em duas companhias (uma para os média impressos, outra para cinema e televisão), estaria a infringir assim leis que restringem companhias mediáticas de manter periódicos, canais de televisão e estações de rádio na mesma cidade. A CFC, porém, planeia suspender essas regras, abrindo caminho para que Murdoch adquira qualquer um dos dois jornais.

Conglomerados mediáticos receberiam autorização para devorar ainda mais canais de comunicação, o que aumentaria os seus já consideráveis poderes, destruiria vozes independentes, ajudaria a erradicar noticiários locais, eliminaria a competição e a diversidade.

Em anos anteriores, a Comissão já havia renunciado a algumas das regras, mas o atual movimento oferece efeitos mais permanentes, como permitir a corporações monolíticas como a News Corporation, a Disney, a Comcast, a Viacom, a CBS ou a Time Warner, em qualquer uma das cidades do país, a posse de jornais, dois canais de televisão, oito estações de rádio e mesmo o provedor de internet.

Um estudo recente da própria Comissão Federal de Comunicações mostra que 6,8 por cento dos canais de televisão e estações de rádio são propriedade de mulheres, 2,8 por cento de latinos, 0,5 por cento de asiáticos e menos de um por cento de afro-americanos.

Suspender as atuais regras só pioraria tal situação. Essa é uma das razões pelas quais o senador Bernie Sanders, independente eleito em Vermont, e alguns de seus colegas enviaram uma carta para o presidente da Comissão Federal de Comunicações, Julius Genachowski. “O Congresso incumbiu-o de promover o regionalismo e a diversidade para a América”, escreveram. “Embora a corrente legislação ainda não tenha alcançado essa meta, ela permanece um bastião contra os interesses corporativos e pela preservação de vozes locais”.

Esta não é a primeira vez que a CFC tenta algo do tipo. Em 2003 e também há cinco anos, enquanto George W. Bush estava na Casa Branca, uma Comissão dominada por republicanos esgueirou uma tentativa de suspender a legislação, o que foi rejeitado tanto pelo Senado quanto pelo Tribunal Federal de Apelação. Entre os oponentes da suspensão estavam o senador novato Barack Obama e os senadores Joe Biden e Hillary Clinton.

Sob comando de Genachowski, a CFC esteve ao lado do interesse público em algumas ocasiões – a recente decisão de aumentar o número de estações FM comunitárias, por exemplo, ou a disponibilização online de informações sobre quem compra e quanto custam anúncios políticos. Mas desta vez tem-se a impressão de que Genachowski está a tentar apressar a mudança na legislação, esquecendo-se do tempo necessário para que sejam feitos debates públicas e auditorias.

Eles terão de escutar as nossas vozes. Escreveremos para Genachowski, para os nossos senadores e representantes, dizendo que eles devem adiar essa decisão e oferecer à população uma oportunidade de tornar clara sua oposição. Já fizemos isso antes. Basta perguntarmos à Comissão Federal de Comunicações uma questão básica: que parte do “não” vocês não entenderam?

Artigo de Bill Moyers e Michael Winship, publicado em Common Dreams. Tradução de André Cristi para Carta Maior

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