Sandra Cunha

Sandra Cunha

Feminista e ativista. Socióloga.

São dois irmãos e vivem num carro debaixo de uma ponte em Paris. Primeiro disseram que não. Com o tempo, os sorrisos foram substituindo a desconfiança e o receio iniciais.

Quando se vivem crises económicas como a que o país atualmente vive e quando a miséria e o desespero se instalam para tantos de forma perene, parece existir uma tendência - que se assume quase como natural - para hierarquizar a importância das coisas. E das causas.

“O país está melhor” sustenta o Governo. “Há uma nova esperança a nascer em Portugal”é a convicção do Presidente da República. Mas afinal de que é feito este país?

No dia 1 de Maio comemoram-se os direitos alcançados pelos trabalhadores. A jornada das 8 horas de trabalho. O direito a férias. A justa retribuição. No entanto, a sombra que paira sobre as gentes deste país é negra, densa e cerceia cada vez mais as conquistas de Abril e Maio.

O paradigma neoconservador que assola a Europa investe igualmente no ataque ao reconhecimento e do direito fundamental da mulher à saúde sexual.

Só Pedro Passos Coelho para não entender que ser mãe ou pai implica a necessidade de assegurar que os filhos terão uma vida melhor que a sua. Só Pedro Passos Coelho para não perceber que não se fazem filhos com micro-ondas e máquinas de lavar roupa.

Enquanto noutros países a estratégia passa por apostar na formação superior e na ciência, em Portugal remete-se a geração mais qualificada de sempre para o limbo do desemprego ou da emigração e a ciência para um lugar residual na estratégia de desenvolvimento do país.

São já vários os relatórios de organizações internacionais, como a OCDE ou a UNICEF que alertam para os riscos das políticas de austeridade que grassam um pouco por toda a Europa.

Devemos manter na nossa consciência e nas nossas ações a convicção de que apenas a defesa de um Estado Social forte e justo poderá destruir as desigualdades, aplacar a fome e reverter a miséria.

Em nome de uma suposta “liberdade de escolha” vão roubando o futuro a milhares de crianças e negando-lhes o direito à dignidade social. Vão sobretudo, espezinhando a liberdade destas crianças que só o direito à educação em igualdade de circunstâncias pode oferecer.