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Cada vez mais estudantes abandonam o ensino superior

Em Portugal, as famílias suportam uma das propinas mais caras da Europa. Quase metade dos estudantes do ensino superior passam por dificuldades económicas e o número de bolsas concedidas pelo Ministério da Educação é cada vez mais diminuto. No ano letivo de 2011/2012, mais de 7.000 estudantes cancelaram a sua matrícula por razões económicas.
Foto de Paulete Matos.

São cada vez menos os alunos do ensino superior que conseguem fazer face ao aumento das despesas com os seus cursos.

De acordo com o estudo “Quanto Custa Estudar no Ensino Superior Português", coordenado por Luísa Cerdeira, da Universidade de Lisboa, tirar um curso superior custava, em 2011, uma média de 6.624 euros por ano, o que representa um aumento de 8,1 por cento em relação ao ano letivo de 2004/2005.

Há oito anos, o Estado gastava cerca de 4 mil euros por cada aluno, tendo essa verba diminuído para 3601 euros no ano passado. O contributo dos estudantes e das suas famílias foi 60 por cento mais elevado do que o esforço do Estado.

O aumento das propinas, que já ultrapassam os 1.000 euros no 1º ciclo e que, no 2º ciclo, não tendo um teto máximo, podem ascender a dezenas de milhares de euros, contribuem marcadamente para o encarecimento dos custos dos cursos superiores e, consequentemente, para o aumento do abandono escolar. No ano letivo de 2011/2012, mais de 7.000 estudantes cancelaram a sua matrícula por razões económicas.

Desinvestimento no ensino superior

O Estado português financia apenas 66% do Ensino Superior, uma percentagem notoriamente inferior aos 79% de média da União Europeia. Em 2012, o investimento em educação representa apenas 3.8% do PIB, enquanto a média europeia é de 5.5%.

Em 2013, o governo planeia cortar ainda mais na despesa com o ensino superior, pondo em risco o funcionamento de várias universidades e politécnicos e contribuindo ainda mais para o abandono escolar.

Cada vez menos alunos beneficiam de bolsa de estudo

Os dados divulgados pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) no ano letivo 2011/2012 não deixam margem para dúvidas: no final do mês de maio deste ano, num universo de cerca de 400 mil estudantes do ensino superior, foram atribuídas 53.105 bolsas de estudo.

Este número só é comparável ao do ano 2000, durante o qual se atribuíram 56.046 bolsas de estudo, porém num universo de 373 mil estudantes, menos 20 mil estudantes que no ano 2011.

Se atendermos ao facto de que dois anos antes, em 2009, havia 74.935 estudantes bolseiros num total de estudantes idêntico ao ano de 2011, o sistema de ação social excluiu mais de 20 mil estudantes nestes dois anos.

Ainda que a crise social se tenha vindo a agravar profundamente, o executivo PSD/CDS-PP veio a restringir ainda mais o acesso de milhares de estudantes a apoios de ação social escolar. Um dos critérios introduzidos no novo Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo do Ensino Superior que mais dificuldades se prevê estar a criar no acesso ao ensino superior é a existência de um motivo de indeferimento fundado nas dívidas ao fisco ou à segurança social por parte de elementos do agregado familiar do estudante.

Quase metade dos alunos do Ensino Superior atravessa dificuldades económicas

Em março de 2012 foram tornados públicos os resultados de um inquérito promovido pela Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) sobre a situação económica e as dificuldades sentidas pelos universitários.

Neste questionário, 48% dos estudantes afirmaram passar dificuldades económicas, sendo que, destes, 65% adiantaram que temem abandonar o Ensino Superior por esse motivo e 69% revelaram que não recebem qualquer bolsa de ação social.

Já 55% dos estudantes admitiram que ponderam emigrar após terminarem o seu curso superior.

Estudantes cada vez mais endividados

No ano letivo 2011/2012, 4,9% dos alunos do ensino superior viram-se obrigados a recorrer a empréstimos bancários para poderem custear os seus estudos. No ano letivo 2004/2005, essa percentagem era de apenas 1,6%.

Em média, cada estudante contraiu um empréstimo de 9.851 euros. Segundo a SPGM – sociedade de Investimento, SA, 12 mil estudantes já devem 200 milhões de euros ao sistema bancário.

Há estudantes a passar fome

Segundo Inês Soares, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, a situação está a tornar-se "cada vez mais insustentável". “As medidas orçamentais têm sido levadas ao extremo, deixando o Ensino Público num estado crítico. Nós presenciamos casos de fome, tanto na nossa Faculdade como em toda a Universidade do Porto e isto não pode continuar”, alertou a dirigente associativa em declarações ao Jornal Digital da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.

"Os estudantes não são imunes aos cortes na saúde e na segurança social. Não são imunes a terem os pais desempregados ou despedidos, com subsídios de desemprego que vão reduzindo. Portanto os estudantes têm também uma palavra a dizer em relação a isso", avançou ainda Maria João Antunes, presidente da AE da Escola Superior de Educação.

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