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A luta toda contra a fome e a miséria!

Por um dia, mostrar-lhes-emos que temos voz, que somos gente, que não somos escravos, nem números de uma contabilidade absurda que nos retira o ar que respiramos quando não nos permite viver com dignidade! E não estaremos sós!

Como vão distantes a palavras de Martin Luther King, que em frente à casa branca americana, dizia “ Eu tenho um sonho que um dia brancos e negros se possam sentar à mesma mesa (…)”, que influenciaram a minha infância e que me vieram à memória ao escrever este texto, porque para mim a vida só tem sentido se as pessoas forem tratadas com a dignidade que merecem, porque a vida só tem sentido se a justa distribuição da riqueza for uma realidade, a vida só tem sentido se cada um e cada uma puder construir a sua realização pessoal, a sua felicidade!

Vivemos tempos duros, tempos que adivinham ruturas profundas com o que era considerado adquirido, “normal”, e que está todos os dias a ser alterado, todos os dias a ser cortado, todos os dias a ser posto em causa!

O povo português tem uma cultura de poupança, uma cultura de deixar o futuro “arrumadinho” aos seus filhos e preparar que os dias de velhice sejam tranquilos, dentro do possível. Tem também uma cultura de pagar a quem deve, apontando e criticando os que de alguma forma ficam a dever deixando-os socialmente mal vistos… e é a este povo, a esta forma de estar, que hoje os meninos recém-saídos do infantário, a maioria deles sem qualquer experiência laboral, mas titulares de cargos conseguidos por jogos de influência, que nunca tiveram que esticar o salário para que ele chegue até ao final do mês, são eles que gritam em toda a comunicação social: “ Que vivemos acima das nossas possibilidades”!

Esquece esta gente que quando se senta nas cadeiras de ouro que ocupa, quando assume as mordomias escandalosas normalmente inerentes a essas posições, que quem está a pagar-lhes os luxos é o povo que espera horas intermináveis em filas de transportes, que vai de madrugada para a porta da Segurança Social, que espera meses por uma consulta e anos por uma cirurgia, e que na maioria dos casos leva para casa pouco acima dos quinhentos euros, pagando ainda impostos pesados para que tudo aquilo que não tem, seja esbugalhado por quem não precisa!

Estas serão algumas das razões que levaram a que milhares de pessoas de setembro para cá tenham saído à rua, estão cansadas, estão revoltadas, querem pôr um BASTA porque isto ultrapassa tudo o que poderia ser admissível! Com o aumento brutal de impostos, salários cortados, subsídios cortados na Função Pública que agora serão largados ao privado, com a vida toda de pernas para o ar, o governo, os tais que nos dão lições diárias porque fomos esbanjadores, não conseguiu cumprir o défice, ficou muito acima do que devia, falhou, não foi capaz, perdeu toda a credibilidade!

Se a todo este sacrifício juntarmos ainda, o anúncio das várias medidas inseridas no OE para 2013, não nos faltarão razões para fecharmos o país, pararmos e por um dia, que tiraremos do nosso já tão reduzido salário, mas por um dia, mostrar-lhes-emos que temos voz, que somos gente, que não somos escravos, nem números de uma contabilidade absurda que nos retira o ar que respiramos quando não nos permite viver com dignidade! E não estaremos sós, estaremos com os trabalhadores espanhóis, com os trabalhadores gregos, com os trabalhadores cipriotas, estaremos com os trabalhadores malteses, com os trabalhadores croatas, com todos e todas que que defendem uma Europa assente em direitos sociais, em trabalho digno, assente num projeto de sociedade humanista e livre!

Nas ruas no dia 14 de novembro, os trabalhadores europeus unir-se-ão para gritarem a uma só voz: Por uma terra sem amos, a luta é internacional!

Sobre o/a autor(a)

Professora aposentada. Dirigente sindical.
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