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É preciso empobrecer, dizem-nos
Portanto, para a Srª Bli somos todo/as un/mas malandro/as porque andámos a comer bifes todos os dias (salvo seja) e a lavar os dentes com água corrente. Cada um/a de acordo com as suas possibilidades, seja. Como a Srª Bli tem possibilidades que lhe permitem não trabalhar remuneradamente, pode então dedicar-se com todo o conforto ao/às que não podem viver acima das suas possibilidades, ou seja, ao/às que não têm outra possibilidade a não ser a pobreza e a ajuda caridosa de pessoas como a Srª Bli. Cada um/a no seu lugar, como no antigamente. Nesses tempos de Salazar onde o/as pobres viviam dentro das suas possibilidades e havia a caridade para obviar as carências mais prementes desde que o/as pobres continuassem na sua pobreza.
As palavras da Srª Bli, assim tratada pelos pares da classe social a que pertence1, não espantam nos tempos que correm. E com colegas de universidade como Vítor Gaspar ou professores de economia como Cavaco Silva, ainda menos. É deste meio que se engendra a ideologia do empobrecimento como enaltecimento social. Outra vez.
É que esta ideologia não vale por si só. Ela serve, como outrora, para legitimar ou dar cobertura a políticas de austeridade que reforçam o poder de un/mas à conta de outro/as. Porque é do poder das elites económicas e financeiras que se trata. Desta vez trata-se da troika, da Srª Merkel e dos seus capachos que os apoiam ou nos governam, aliando elites económicas e financeiras nacionais com europeias. Mais uma vez a pretexto da dívida e das contas públicas quer-se empobrecer o povo. Pelo caminho precisam de destruir os direitos laborais e sociais conquistados e o Estado redistributivo construído em democracia. É daqui que nasce o saque fiscal para fazer uma transferência massiva de rendimentos dos salários e pensões para a recapitalização da banca e as benesses fiscais do grande patronato e se coloca agora a tónica no emagrecimento brutal do Estado social e redistributivo (como seja a educação, a saúde, a segurança social). Resta, portanto, a pobreza da sociedade e a caridadezinha entregue a pessoas como a Srª Bli. Cada um/a dentro das suas possibilidades, portanto.
E percebe-se porque são tão parecidos os discursos da Srª Bli com os de um Sr. Ulrich, dono de um banco recapitalizado com o dinheiro que todo/as pagamos ao Estado e que tem rendimentos milionários, quando este diz coisas como a educação pública é um luxo (é viver acima das possibilidades) ou que temos de aguentar mais austeridade “ai, pois temos”. E porque coincidem tanto estes discursos com as políticas efetivas de um Sr. Gaspar e de um Sr. Coelho. Porque trata-se de ideologia pura e dura, em que o Estado não serve o povo mas as elites. E nós somos o seu laboratório experimental.
Derrotar a política do empobrecimento implica olhar para a democracia e a economia.
Olhar para a democracia significa derrotar a ideologia que está no poder. Ou seja, demitir o Governo e rejeitar os discursos e políticas da auteridade da troika e da Merkel. Para isso é preciso crescer nas ruas, no protesto popular, nas greves gerais. Para isso é preciso fazer construir a alternativa política em unidade com quem rejeita esta ideologia da austeridade e a sua prática.
Olhar para a economia significa derrotar a economia do desemprego, dos salários baixos, da precaridade, da exaustão ambiental. Ou seja, implica planear estrategicamente a economia para criar empregos com direitos na produção de bens e serviços que são socialmente úteis e não servem apenas o propósito de obter lucro, acumular capital e ser competitivo à conta da exploração do trabalho e do crescimento material e energético infinito. Planear esta economia significa decidir em democracia com todo/as o que faz falta e como podemos todo/as viver com mais qualidade, com mais tempo de lazer e com prudência perante os limites naturais. Para isso é preciso resgatar a democracia para as pessoas e o bem comum, ou seja, resgatar a capacidade de decisão e os instrumentos políticos para a efetivar.
1 Quem quiser saber mais sobre o percurso da Srª Bli: http://visao.sapo.pt/a-sra-banco-alimentar=f635944
Comments
É preciso empobrecer mais...
É preciso empobrecer mais... os bancos!! Tenho feito campanha há mais de dois anos para retirada de contas correntes e poupanças dos bancos comerciais, colocando-as na CGD ou Montepio. Porém, com a deriva privatizante, que não irá poupar estas duas instituições, será apenas uma solução provisória. A solução seria montar-se um banco ético como existe noutros países, mas ainda não aqui. Isso iria ter repercussões tanto nas pessoas, que passariam a confiar que é possível encontrar soluções práticas que respeitem os direitos humanos e o ambiente, como nestes investimentos que seriam financiados deste modo (e de outra maneira teriam recusa ou dificultade em serem apoiados)e também iria ao âmago do sistema do lucro: com efeito, poderia retirar grandes somas (muitas pequenas somas) e clientes à banca comercial
«Portanto, para a Srª Bli
«Portanto, para a Srª Bli somos todo/as un/mas malandro/as ...»
Portanto ... a autora do texto quer decididamente ignorar o que a SrªBli disse, e quis dizer, para vender a sua versão do que quer que acreditem que ela disse.
Processo típico da calúnia e da má-fé!
Sem novidade; é o padrão da esquerda dominante - começo a crer que é a própria essência do conceito de esquerda - que sem se fazer de vítima dos maiores horrores não obtém a atenção de que tanto carece.
E a imprensa - povoada de correligionários, idiotas e oportunistas - está aí para assegurar o indispensável coro.
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