Dias 9 e 10 de Julho decidem os enfermeiros sobre muitos dos seus problemas, sobre muitas das meias soluções que marcam um trajeto em que se trabalha com mais qualidade científica e humana, mas em condições cada vez mais adversas e deficientes.
Diz-nos o ditado que é por vezes necessário um passo atrás para dar depois dois em frente. Numa altura de demasiados passos atrás paira a nebulosa dúvida se ainda é possível dar algum em frente.
Vivemos no país das Matryoshkas, e atrevo-me a dizer, vivemos no mundo das Matryoshkas. Tal não se deve a uma global conversão ao extinto sovietismo, mas antes à escalada da conversão à ilusão.
Uma distância é imutável; percorrer a mesma, de forma mais ou menos prazerosa, mais ou menos breve, mais ou menos sofredora, depende dos meios e forma de percorrer.
Aceitamos as tragédias como um mal necessário, as dificuldades como um calvário inevitável. O caminho que nos mostram esconde outros que podemos seguir.
Assiste-se a uma redução das remunerações dos profissionais de saúde, penalizados em 50% nas horas de trabalho especial, castigados com vínculos cada vez mais precários e mal remunerados no valor base.
Adoecer é, hoje em dia, um imenso deserto. Longe do oásis onde se tratava da melhor forma, e depois se dava lugar à contabilidade, atravessa-se uma aridez em que a calculadora substitui a dignidade.
Escondemos, desesperados, o direito a pelo menos uma quadra festiva recheada, talvez apenas polvilhada, com o que se tornou miragem no restante ano: esperança.