Tiago Pinheiro

Tiago Pinheiro

Enfermeiro. Cabeça de lista do Bloco de Esquerda pelo círculo Europa nas eleições legislativas de 2019

Não há cegueira mais grave que aquela causada pela ilusão.

Dias 9 e 10 de Julho decidem os enfermeiros sobre muitos dos seus problemas, sobre muitas das meias soluções que marcam um trajeto em que se trabalha com mais qualidade científica e humana, mas em condições cada vez mais adversas e deficientes.

Diz-nos o ditado que é por vezes necessário um passo atrás para dar depois dois em frente. Numa altura de demasiados passos atrás paira a nebulosa dúvida se ainda é possível dar algum em frente.

Vivemos no país das Matryoshkas, e atrevo-me a dizer, vivemos no mundo das Matryoshkas. Tal não se deve a uma global conversão ao extinto sovietismo, mas antes à escalada da conversão à ilusão.

Uma distância é imutável; percorrer a mesma, de forma mais ou menos prazerosa, mais ou menos breve, mais ou menos sofredora, depende dos meios e forma de percorrer.

Aceitamos as tragédias como um mal necessário, as dificuldades como um calvário inevitável. O caminho que nos mostram esconde outros que podemos seguir.

Assiste-se a uma redução das remunerações dos profissionais de saúde, penalizados em 50% nas horas de trabalho especial, castigados com vínculos cada vez mais precários e mal remunerados no valor base.

Adoecer é, hoje em dia, um imenso deserto. Longe do oásis onde se tratava da melhor forma, e depois se dava lugar à contabilidade, atravessa-se uma aridez em que a calculadora substitui a dignidade.

Escondemos, desesperados, o direito a pelo menos uma quadra festiva recheada, talvez apenas polvilhada, com o que se tornou miragem no restante ano: esperança.

Enfermeiros, médicos, doentes, todos beliscam o direito à saúde, quando se curvam perante a curva descendente do Direito à saúde.