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Debate de presidenciáveis norte-americanos não toca em questões climáticas

Em nenhum dos debates o assunto veio à tona, mesmo considerando que o país passou por uma das piores secas e teve o mês (julho) mais quente já registado. Por Fernanda B. Muller do Instituto CarbonoBrasil.
O terceiro debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos perpetuou o silêncio visto durante os encontros anteriores de Barack Obama e Mitt Romney sobre a questão das mudanças climáticas - Imagem de Climate Silence

O terceiro debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos perpetuou o silêncio visto durante os encontros anteriores de Barack Obama e Mitt Romney sobre a questão das mudanças climáticas. Em nenhum dos debates o assunto veio à tona, mesmo considerando que o país passou por uma das piores secas e teve o mês (julho) mais quente já registado.

Apesar de os debates sobre energias terem sido amplos, foram focados na criação de empregos e não relacionados com a crise ambiental.

A impressão é que os candidatos estão a evitar falar do assunto, já que, no momento, os norte-americanos estariam muito mais preocupados com os efeitos da crise económica e os altos índices de desemprego.

A imprensa internacional especula se a população realmente deseja que os seus candidatos falem sobre mudanças climáticas neste momento.

Divulgada no início de outubro, uma análise do Centro de Pesquisas Pew mostrou que 67% dos questionados concordam que há evidências sólidas de que a temperatura média da Terra está a aumentar ao longo das últimas décadas, portanto, o problema parece estar no facto de eles enxergarem a questão como sem solução.

Segundo a sondagem, 42% dizem que o aquecimento é principalmente causado pela atividade humana (em 2011 eram 38%).

“As mudanças climáticas são perturbadoras”, escreveu a socióloga Kari Norgaard no livro ‘Living in Denial’, de 2011. “É algo que não queremos discutir. Então o que fazemos no nosso quotidiano é criar um mundo onde não está lá, e mantemos [o assunto] à distância.”

Especulações à parte, para complicar, os Republicanos têm colocado as medidas para mitigação das mudanças climáticas como algo que prejudicaria a geração de emprego e aumentaria taxas e impostos.

A imprensa também tem a sua culpa. Jeremy Hance, do portal Mongabay.com critica que a cobertura sobre mudanças climáticas caiu muito desde a conferência do clima em Copenhaga e do episódio do roubo de emails de investigadores da Universidade de East Anglia.

Os extremos climáticos que o país enfrentou em 2011 e o degelo recorde no Ártico, que surpreendeu muitos cientistas, não foram suficientemente cobertos pelos média norte-americana, lamenta Hance.

Nas eleições passadas, tanto Obama como o seu oponente John McCain haviam colocado a questão como crítica. Porém, desde a sua vitória, Obama tem sofrido uma série de derrotas no Congresso nas tentativas de emplacar uma legislação para mudanças climáticas.

A sua estratégia, não muito popular, e, portanto, mais um motivo para não ser debatida antes das eleições, tem sido utilizar a Agência de Proteção Ambiental para colocar em ação medidas de apoio às energias renováveis, padrões para combustíveis e regras para centrais a carvão.

Já o posicionamento atual de Romney é um tanto polémico, tendo zombado das estratégias ambientais de Obama, contrastando-as com suas prioridades económicas durante o lançamento oficial da sua candidatura. Uma das suas propostas é abrir o Refúgio Selvagem do Ártico para exploração de petróleo.

Grupos de ativistas fizeram uma campanha para lidar com o chamado “silêncio climático” e estão a usar o #climatesilence para protestar contra a ausência do assunto na agenda dos candidatos.

“Não falar sobre mudanças climáticas garante que o nosso país não responderá com a intensidade e urgência necessárias. Neste sentido, a equação é simples: apenas as palavras não nos salvarão, mas o silêncio sela o nosso destino. Está na hora de o silêncio terminar”, protesta o grupo.

Artigo de Fernanda B. Muller do Instituto CarbonoBrasil.

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