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O caso da Cinemateca, para lá dos serviços mínimos de cultura

A Cinemateca cancelou programação porque não pode pagar o sistema de legendagem. O caso é, a todos os títulos, ridículo. Porque não se trata de uma estrutura qualquer, trata-se do único museu responsável por exibir o património cinematográfico nacional e internacional.

muito pouco tempo, mesmo muito pouco, escrevi aquisobre o desastre que iria ser o Agrupamento Complementar de Empresas. Um devaneio de Gabriela Canavilhasque subjugaria os teatros nacionais do país, a companhia de dança do país, a única orquestra sinfónica do país e ainda o única museu de cinema do país a uma única estrutura de gestão. É óbvio que não ia resultar, só não estava à espera que o desastre fosse tão rápido. Continua a ser um mistério porque é que Francisco José Viegas adotou esta ideia.

A Cinemateca cancelou programação porque não pode pagar o sistema de legendagem. O caso é, a todos os títulos, ridículo. Porque não se trata de uma estrutura qualquer, trata-se do único museu responsável por exibir o património cinematográfico nacional e internacional. Francisco José Viegas deixar a desorçamentação desta estrutura ir a este ponto é nem sequer cuidar de garantir os serviços mínimos, é o mesmo que fechar as urgências num hospital porque o Ministro da Saúde decidiu que não paga a conta da luz. Ridículo. Não passaria pela cabeça de ninguém. E digo sem qualquer exagero que em situações normais o caso levaria à demissão imediata da tutela, neste caso, de Francisco José Viegas.

Mas mesmo os tempos de exceção começam a não ser desculpa para as sucessivas trapalhadas governativas do secretário de estado. Sem sequer contar com os cortes de 100% que impôs assim que chegou ao lugar, Viegas garantiu que a nova lei do cinema era para entrar em vigor este ano. Falhou. Garantiu que ia abrir concursos de apoio às artes em Setembro. Falhou. Fragmentou a rede de museus e submeteu o património a uma lógica de produto de valor acrescentado para turismo pirata. Recusou-se a enfrentar o cancelamento abrupto de temporadas e festivais e o fecho de portas da grande maioria dos teatros do país. 

Tudo isto em apenas um ano. É um legado monstruoso que, não fosse fazer parte de um governo de quem já ninguém espera nada a não ser disparates sucessivos, teria garantido que seria demitido e expulso para o caixote da vergonha nacional.

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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