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“Que se lixe a troika”. Qual é a parte que não percebem?

É a certeza de que o caminho do Governo é um buraco que juntou um milhão de pessoas na rua no dia 15 de Setembro. E é a exigência de uma alternativa real que as faz não desistir.

Hoje é claro para todos e todas que a austeridade não é caminho. A cada indicador vemos que todas as previsões do governo e da troika falharam. E a razão por que não há nenhuma conta do governo que bata certo é pura e simplesmente porque a austeridade não resulta. Com menos salário, menos consumo, menos investimento, nenhum país pode equilibrar o seu défice ou reduzir a sua dívida. Com a economia em recessão aumenta o desemprego e a pobreza, o défice e a dívida. É o que está a acontecer.

Se há alguns meses era possível acreditar que o problema fosse da forma da austeridade, hoje não restam dúvidas que só há caminho mudando de receita. A economia tem de crescer, criar emprego, para poder pagar as suas contas. E ninguém mais pode aceitar que tudo se pode cortar – o salário, as pensões, o SNS, a Escola Pública – menos os juros. A rejeição do memorando e a renegociação da dívida são os primeiros passos para reconstruir a economia: recuperar salários e pensões, assegurar financiamento à economia, criar emprego.

É a certeza de que o caminho do Governo é um buraco que juntou um milhão de pessoas na rua no dia 15 de Setembro. E é a exigência de uma alternativa real que as faz não desistir.

O país saiu à rua para mandar o Governo para a rua. Pedro Passos Coelho tinha acabado de lançar uma das ideias mais disparatadas dos últimos tempos: uma alteração na contribuição para a segurança social que consistia pura e simplesmente em tirar um mês de salário aos trabalhadores para entregar às empresas. O país não se calou e o Governo teve mesmo de voltar atrás no disparate da TSU. Mas, na verdade, não aprendeu nada.

Pedro Passos Coelho, com a coerência que lhe conhecemos, anuncia agora a mesma receita de sempre: mais impostos sobre quem trabalha. Se o Tribunal Constitucional não deixa tirar salários e pensões de uma maneira, o Governo tira de outra. E mais, cada vez mais. Porque as contas pioram a cada dia de imposição de uma receita que só pode falhar.

Só há uma conta que não falha: a do empobrecimento. A dívida aumenta, o défice derrapa e o Governo insiste na mesma receita. Será estupidez. Mas é acima de tudo cegueira ideológica: baixar salários como a receita para tudo. No terceiro país mais desigual da Europa, e em que trabalhar não é sequer garantia de sair da pobreza, os salários já baixaram e muito. As trabalhadoras e trabalhadores mais penalizados são os mais jovens, mas também os menos qualificados, os que já têm os salários mais baixos. Entretanto o desemprego atinge já bem mais de um milhão; metade das pessoas em situação de desemprego não recebe qualquer apoio do Estado e está dependente da caridade. Exclusão, humilhação. Total desrespeito pelos direitos humanos.

O Governo, fechado no seu casulo de incompetência e intriga, não olha para o país. Se olhasse teria já percebido que não foi para alterar a TSU que o país saiu à rua. Foi para dizer que BASTA. Às pessoas interessa pouco a forma como estão a ser roubadas. Simplesmente querem acabar com o assalto. O país continua a sair à rua enquanto o governo da troika não for para a rua. O próximo encontro é já no sábado.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Atriz.
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