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Hoje, dia 15
Disseram-nos que vivemos acima das possibilidades, que temos de pagar. Pagámos. Disseram-nos que o que pagámos, e não foi pouco, afinal não chegava, teríamos de pagar mais. Disseram-nos que era para acalmar os mercados e sermos respeitados. Tudo isto nos foi sendo imposto porque dos mercados se fez gente com estados de alma e da gente se fez moeda de troca. Tudo isto teria de ser aceite por nós e por gente como nós sem ruído, porque até para se ser objecto se deve ser obediente. Prometeram-nos, aliás, que dessa obediência viria a redenção. Mas ela não veio, e lá nos pediram para acatar mais. E calar mais também, para não irritar os mercados. Caladinhos ficaríamos todos supostamente bem, mas, como seria de esperar, os mercados não passaram cartão ao nosso silêncio.
Hoje, dia 15, pode até ser outro dia da semana, do mês, do ano, da vida. Qualquer dia serve para reivindicar direitos, recusar humilhação e recuperar a condição de ser gente. Gente que não aceita que a vida só é vida se for pior, se for mais pobre, se recuar, se aceitar que a fome e a miséria fazem parte dela, se for submissa. Gente que quer honrar os seus compromissos, mas que se recusa a continuar a pagar uma dívida que não contraiu. Gente que se recusa a perder o emprego ou a sacrificar o que ganha a trabalhar para continuar a alimentar os interesses de alguns poucos.
Hoje tenho companhia. Também sairão à rua outros “culpados” como eu que não especularam, não enriqueceram, não preguiçaram, mas a quem disseram que teriam de pagar mais, de trabalhar mais e ganhar menos se continuassem a ter a “sorte” de ter trabalho.
Hoje, dia 15, basta, fazemo-nos gente. Em nosso nome e contra os ditames da troika. É um começo. Não consta que haja história sem se começar. Levantemos a voz, que o silêncio de nada tem servido.
Artigo publicado no jornal As Beiras a 15 de Setembro 2012
Comments
Hoje vamos, sim. Amanhã vamos
Hoje vamos, sim.
Amanhã vamos começar a organizar a mudança desta palhaçada que fizeram da democracia.
Vamos, por dentro (an inside job) ou por fora (a hostile takeover) acabar com esta corja.
Vamos pedir aos nossos irmãos Islandeses que nos ajudem com a sua bem sucedida experiência.
Vamos até acabar com esta gatunagem.
Durante muito tempo contive-me e não usei esta palavra, "gatunagem", mas hoje não me coíbo em usá-la.
Só tenho pena de não ter começado a usá-la há mais tempo.
Que os astros e os deuses estejam connosco.
E a força do povo também.
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