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15 de Setembro: a rua é só o começo

Só uma coisa pode evitar que, no Natal, a voz pausada de Vítor Gaspar nos entre pela casa dentro num anúncio de mais austeridade: escolhas claras.

No dia 15 de Setembro será difícil ficar em cima do muro. As últimas medidas de Passos e Gaspar traçaram uma divisória clara, este Governo ou é sustentado, ou é rejeitado. Já percebemos, para já, quem o sustenta – EDP, BCP, SONAE, MOTA-ENGIL e outros gigantes encaixam milhões de euros com a redução da TSU. A estes não incomoda que se diga a uma pessoa que tenha de sobreviver um mês inteiro com um salário mínimo de 397 euros. É a aritmética cínica de um António Mexia (EDP), que ganha apenas 347 euros e 22 cêntimos…por hora. Pode um mês de esforço valer uma hora de abuso? É tempo de dizer que não. Para isso vale a pena debater a política tal como ela se nos apresenta.

O ataque ao Estado é um ataque às pessoas

A austeridade falhou e destruiu a economia. A austeridade como justificativa política começa agora também a falhar. O argumento de que o retorno aos mercados da dívida é o caminho de via única para o crescimento económico e que para tal se tem de estrangular os salários já não colhe adeptos até mesmo em boa parte da direita (e as autárquicas aqui tão perto). Nos últimos dias o CDS e a JSD correram a lembrar os gastos do Estado – corte-se na despesa, já e em força. O que não se retira em salário direto vai se buscar no ataque ao SNS, à Escola Pública, à Segurança Social, mais receita para os privados, menos salário para quem trabalha. E já sabemos quem serão os primeiros a sofrer com os despedimentos na função pública, os contratados a prazo, ou seja, os precários. O défice é mesmo uma arma – Manuela Ferreira Leite e outros cavaquistas não a guardarão na caixa da história.

Não há tempo para meias escolhas

Só uma coisa pode evitar que, no Natal, a voz pausada de Vítor Gaspar nos entre pela casa dentro num anúncio de mais austeridade: escolhas claras. Por isso António José Seguro terá de escolher se continua com o jogo do toca e foge ou assume a rutura com a base de sustentação do Governo da troika. O encontro com Cavaco Silva, para além de uma jogada boba, não antecipa nenhum endireitar de coluna por parte do PS. No momento mais crítico deste Governo, Seguro escolheu encontrar-se com o problema.

Também a UGT ganharia em falar claro. O carpir de João Proença perante estas medidas não faz esquecer o seu deslizar da caneta no acordo de concertação social que ditou o despedimento simples e a normalização da precariedade. Só ele o pode rasgar. E bem podia aproveitar a viagem que tinha marcado ao Porto no dia 15, para participar como convidado de honra na malfada rentrée do CDS-PP, para se juntar aos protestos da Invicta e anunciar isso mesmo.

A rua é só o começo

No dia 15 saímos à rua contra à troika e contra este Governo. É só o começo. Um começo decisivo para a construção de uma luta que seja travada nas escolas, nas universidades, nos locais de trabalho e por quem batalha por ter trabalho, nos Hospitais com morte decretada, na resistência de quem não suporta mais os aumentos dos combustíveis e da eletricidade, na indignação organizada dos trabalhadores precários.

Todos contam, todos fazem falta. É só o começo.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, dirigente do Bloco de Esquerda e ativista contra a precariedade.
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