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Trabalhistas e liberais empatados nas sondagens

Há coligação à vista na Holanda após as eleições de dia 12. O Partido Trabalhista ganhou terreno ao Partido Socialista nas últimas semanas e pode ter assegurado a presença num governo para prosseguir as medidas de austeridade. Artigo de João Novaes, da Opera Mundi.
Foto José Nuno Pereira

A três dias das legislativas holandesa, os líderes partidários saíram as ruas em diferentes regiões do país para tentar convencer o alto número de indecisos, que chega a um terço do eleitorado, e num cenário de total indefinição sobre os rumos políticos do próximo governo.

A tendência, segundo as sondagens, é de que quem for vencedor terá de formar um governo de minoria, já que os votos estão fragmentados entre seis dos doze partidos concorrentes. Assim como a atual formação do Parlamento, nenhum partido deverá chegar perto dos 76 assentos necessários para governar com maioria absoluta, de um total de 150. A fragmentação dificultará a formação de coligações, sendo preciso três ou quatro partidos para conseguir a maioria.

Nas duas últimas semanas, o PvdA (Partido Trabalhista), liderado por Diederik Samson, ganhou muita força, subindo oito pontos percentuais. Segundo o instituto Ipsos, eles teriam 22,7% do eleitorado, empataria com os liberais do VVD (Partido Liberdade e Democracia), do atual primeiro-ministro Mark Rutte, com 22,5%. Na prática, cada um deles teria 35 deputados. Atualmente, o PvdA conta com 30 membros contra 31 do VVD.

Outro partido que se destaca pelo crescimento é a esquerda, representada pelo SP (Partido Socialista) de Emile Roemer. Com 15 deputados na atual legislatura, ele obteria 21 segundo a sondagem. No entanto, essa projeção já alcançou 30 deputados há duas semanas, e acredita-se que haja uma forte migração dos simpatizantes do SP para o PvdA.

Numa campanha na qual os temas económicos e a crise europeia da dívida tiraram de foco o tema da imigração, a extrema-direita, guiada pelo Partido da Liberdade, de Geert Wilders, é a que deve perder mais espaço. Dos 24 deputados eleitos na última eleição, em 2010, restam 20. Agora, a bancada pode ser reduzida a 19.

Há, por mais paradoxal que pareça, uma agenda comum entre os dois representantes da esquerda e o grupo liderado por Wilders: todos são contrários aos contributos financeiros à União Europeia para o pagamento de juros da dívida a outros países (em especial a Grécia) e às medidas de austeridade fiscal internas, apoiadas pelos liberais. O próprio Rutte, que apoiou as reformas, endureceu o seu discurso, e diz agora que a Grécia não receberá “um euro a mais”. A União Europeia tornou-se objeto de rejeição num dos países historicamente mais fieis à ideia de integração continental.

Ainda podem fazer diferença no equilíbrio de forças da campanha os democratas-cristãos do CDA (tem 21 assentos, cairia para 13), liderados por Sybrand Buma, e os social-liberais do D66, de Alexander Pechtold, que subiria de 10 para 11.

Campanha

Os líderes políticos aproveitaram o último fim de semana antes das eleições de quarta-feira para pedir votos nas ruas. Roemer, líder do SP, pediu votos na capital holandesa, Amsterdão, tradicionalmente de esquerda. Wilders também se concentrou num local onde obtém muita simpatia do eleitorado: no sul, na cidade de Tilburg.
Rutte, vestido de maneira informal, sem fato e gravata, optou pela cidade de Dordrecht, e não muito longe de lá, em Utrecht, Samsom distribuía rosas à multidão.

Assustados com o crescimento dos Trabalhistas, os liberais iniciaram uma campanha pesada contra os rivais, baseada no medo: "O PvdA é um perigo para a Holanda porque com eles haverá menos trabalho, menos estradas e mais listas de espera", disse Mark Rutte neste fim de semana ao saber do resultado das intenções de voto. "Pensava que a estratégia desta campanha era explicar as nossas propostas, e não atacar o programa dos outros", rebateu Samsom.

Coligação

Analistas políticos ouvidos pela agência de notícias Efe e pelo jornal britânico Guardian afirmam que o cenário mais provável do próximo governo será uma coligação entre trabalhistas e liberais, embora este seja negado publicamente pelos representantes das duas listas.

"Ao contrário das outras eleições, há uma alta probabilidade de que os trabalhistas formem uma coligação com o VVD", disse à Agência Efe Ruud Andeweg, professor de Política da Universidade de Leiden.

O socialista Emiler Roemer e o democrata-cristão Buma afirmaram já existir um esboço de consenso nos programas dos partidos, coordenado secretamente. No entanto, Rutte e Samsom precisariam de mais um partido para formar uma coligação majoritária – muito provavelmente com o D66.

Caso se associem, liberais e trabalhistas terão que se mostrar muito flexíveis para chegar a compromissos. Um dos pontos difíceis de serem conciliados é como aplicar os cortes orçamentais, especialmente nas áreas de saúde e habitação.

Os liberais, que ganharam as últimas eleições pela diferença de apenas uma cadeira contra os trabalhistas, formaram em 2010 uma coligação de minoria com os democratas-cristãos, e tiveram o apoio de Wilders.
 


Artigo publicado na página Opera Mundi.

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