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A odisseia dos imigrantes na Grécia

Há um mês teve início a campanha contra os estrangeiros ilegais na Grécia, dentro de uma estratégia que incluiu o fechamento da fronteira com a Turquia, sobre o Rio Evros, e o deslocamento de imigrantes das grandes cidades para improvisados centros de detenção. Artigo de Apostolis Fotiadis, publicado na IPS.
Na foto, a polícia anti-motim numa estação de comboio de Atenas aguarda a chegada do comboio do Norte da Grécia, para procurar entre os passageiros os imigrantes sem papéis.

No dia 2 deste mês, a polícia colocou 1.881 efetivos ao longo do Evros, numa tentativa de selar a fronteira. O porta-voz dessa força, Christos Manouras, disse à IPS que essa ação "efetivamente impediu novas chegadas". Ele explicou que, "quando, por meio das câmaras infravermelhas ou das nossas patrulhas, ficamos a saber que alguém tenta cruzar o rio, os oficiais da polícia formam um escudo humano e impedem a entrada".

Por outro lado, só em Atenas a polícia deteve 12.900 imigrantes que residiam irregularmente no país. Cerca de 400 estão num novo acampamento de detenções em Amugdaleza, arredores de Atenas. Os demais foram enviados para duas academias de polícia convertidas em acampamentos improvisados em Xanthi e Komotini, no norte do país. Membros da organização Médicos Sem Fronteiras (MFS) visitaram os dois acampamentos no mês passado e descreveram as condições como “de má qualidade”.

"A nossa equipa registrou sérias carências em relação à infraestrutura e às condições de detenção, apesar dos esforços óbvios das autoridades para melhorar a situação", disse à IPS a directora geral da MSF, Reveka Papadopoulou. "Controlaremos mais a situação, mas não nos envolveremos de maneira a impedir que o governo enfrente as responsabilidades derivadas de uma opção policial de implantar uma política de detenções em grande escala", acrescentou. As autoridades não permitem que jornalistas visitem os acampamentos de detenção, e o acesso à fronteira está limitado em coordenação com a Guarda Fronteiriça grega.

A Comissão Europeia não descarta financiar tais medidas, e "organiza regularmente missões técnicas no terreno para debater com as autoridades gregas se as ações se enquadram no contexto dos programas cofinanciados pela União Europeia", detalhou à IPS a Comissão por correio eletrónico, referindo-se à sua missão na fronteira. As autoridades instalaram, há alguns dias, um acampamento improvisado no lugar de umas velhas barracas militares em Korinthos, 75 quilómetros ao sul de Atenas, que podem abrigar outros dois mil detidos.

"As detenções durarão até um ano", enquanto as autoridades tentam enviar essas pessoas de volta aos seus países de origem, explicou Manouras. "Muitos poderão optar por voltar mediante o programa que implantámos juntamente com a Organização Internacional para as Migrações" (OIM), acrescentou. Cofinanciado pela Grécia e pelo Fundo Europeu para o Retorno, o programa já enviou de volta cinco mil pessoas. No final de julho, a OIM e a Grécia assinaram um acordo de um ano no valor de dez milhões de euros que oferecerá retorno voluntário assistido a cerca de sete mil imigrantes ilegais.

Desde 2005, a Grécia é o principal ponto de chegada de imigrantes ilegais. Mais de 80% entram na Europa através da Turquia, pelo Mar Egeu ou pelo Evros. A vasta maioria destas pessoas espera seguir para o norte da Europa. Contudo, a distância que as separa de outros países europeus, além de cláusulas do Regulamento Dublin II, que determina o regresso de solicitantes de asilo ao país europeu onde chegaram primeiro, condena dezenas de imigrantes a permanecerem perdidos num limbo na Grécia. Isto transformou o país, e Atenas em particular, num depósito de centenas de milhares de imigrantes sem a documentação necessária e solicitantes de asilo, que sobrevivem com rendimentos ínfimos num vasto mercado negro.

A nova política migratória do governo de coligação da direitista Nova Democracia, o tecnocrata Pasok e o esquerdista moderado Demar, implementa-se num momento em que muitas organizações internacionais expressam a sua preocupação pelo fracasso das autoridades em proteger os direitos humanos de imigrantes e solicitantes de asilo, e em oferecer-lhes proteção diante de uma crescente onda de ataques racistas. A política também acontece durante uma bancarrota económica, surgida em 2009, quando a Grécia não conseguiu fazer frente aos pagamentos da sua elevada dívida. Após quatro de recessão, o desemprego chega a 29% da população economicamente ativa da Grécia.

No meio desta crise, o sentimento xenófobo propagou-se na sociedade. Os ataques racistas aumentaram nas ruas de Atenas e propagam-se rapidamente por todo o país. No dia 23 de julho, a violação e tentativa de assassinato de uma adolescente de 15 anos na ilha de Paros por parte de um trabalhador paquistanês sem documentos legais disparou a indignação social. No contexto das ondas de ataques contra estrangeiros, iniciada depois desse fato, no dia 12 de agosto um imigrante iraquiano foi morto a punhaladas por cinco jovens encapuzados.

"Sabemos que isto pode ocorrer cada vez que se sai de casa", disse em fluente grego à IPS o solicitante de asilo Ramadan Sah, que fugiu do movimento extremista Talibã no Afeganistão. "Alguém pode parar-te e perguntar de onde és. E, então, podem aparecer muitos mais e atacar-te. Está realmente perigoso ali fora", ressaltou. Sah esteve perdido no sistema de solicitações de asilo por mais de uma década. Há dois meses, o comité de apelações avaliou o seu pedido. Está por terminar uma licenciatura em ciência política, mas enfrenta renovados temores. "É como quando nos escondíamos para fugir dos Talibã, quando nos chamavam de esquerdistas. Agora somos os estrangeiros", afirmou.

Atenas, Grécia, 6/9/2012

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