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O impacto da ‘Crise de 1929’ na Ditadura
Parte-se do princípio de que, para além das flutuações económico-financeiras e sociais nos planos europeu e mundial, Portugal viveu uma conjuntura de bloqueio económico e social — entrecruzada, embora, por fases de crescimento mais ou menos especulativo e transitório — desde 1890/1891 até aos anos da Segunda Guerra Mundial. A relativamente longa duração da “Crise de 1929” e da ”Grande Depressão” — fruto de determinadas opções políticas e diplomáticas, do predomínio do marginalismo e do corporativismo, do reforço das tendências proteccionistas ou autárcicas e imperialistas ou xenófobas — agravou, no entanto, as dificuldades do nosso país enquanto Estado (“Metrópole” e “Colónias”) semiperiférico da economia-mundo capitalista.
Tendo sido implantada a partir do Golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, a Ditadura Militar não resultou do agravamento da conflitualidade inerente à “Crise de 1929”. Estruturado entre 1928 e 1933, o Estado Novo teve já de responder aos desafios e foi significativamente influenciado pela “Grande Depressão”: afirmação de uma estratégia social-global conservadora em alternativa a mundividências essencialmente tradicionalistas ou modernizadoras, consolidação das opções económicas nacionalistas e colonialistas, aumento dos níveis de regulação pública da economia e das relações sociais, repressão sistemática do “movimento operário” e enquadramento corporativo das “classes trabalhadoras”.
Relevante será, também, compreender a reacção das “classes populares”, do “movimento operário” e de outras organizações da “sociedade civil”, quer às sequelas da crise económico-financeira e social, quer ao processo de implantação do Estado Novo. Destaque, finalmente, para a análise, tanto do relacionamento entre os movimentos e partidos políticos de centro-esquerda e de esquerda — socialistas, anarquistas, sindicalistas revolucionários, comunistas —, como para as implicações do elevado grau de conflitualidade verificado na (in)capacidade de resistência à afirmação de um regime ditatorial de direita de cariz totalitário (“fascismo”).
João Paulo Avelãs Nunes nasceu em 1965, é Professor Auxiliar de História Contemporânea na FLUC, Investigador Integrado do CEIS20 da UC e Investigador Colaborador do IHC da FCSH/UNL. É sócio do SPRC e da APH. Foi militante da JCP e do PCP.
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