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Os milagres de Crato
Nas vésperas do despedimento de dezenas de milhares de professores com vínculo precário ao Ministério da Educação, os propagandistas de Nuno Crato já começaram a trabalhar. O professor de História José Carvalho, autor da “História das Aparições de Nossa Senhora de Fátima” (Publiçor, 2011), engana os leitores da edição do Público de 14 de agosto. Mas a mentira tem perna curta.
As estatísticas oficiais não enganam: ao contrário do que pretende José Carvalho, que fala de descida da natalidade e menos alunos no sistema, o que se verifica é um aumento efetivo do número de alunos inscritos, tanto no básico como no secundário (GEPE/ME; Estatísticas do Pordata).
Para defender o ministério, José Carvalho avança números errados: “desde os anos 90, o número de alunos caiu mais de 30%”. Errado: no básico e secundário havia, em 1990, 2,1 milhões de alunos; em 2010, eram 2,4 milhões. “Nos cursos gerais do secundário, em 2010, já só eram 175.658 alunos”. Errado: segundo o governo e a Pordata, são 484 mil.
A baixa natalidade é uma preocupação legítima, mas não pode explicar o despedimento de 25 mil professores no próximo mês. A chegada destes docentes aos centros de emprego resulta de outras escolhas. Não as de quem faz filhos – ou deixa de os fazer, mas sim de quem faz as políticas educativas: aumento do número de alunos por turma e degradação do apoio individual, mega-agrupamentos de escolas, revisões curriculares sem nexo. Vejamos cada uma dessas “medidas destinadas a gerir melhor os recursos humanos”, como diz Carvalho.
A reorganização curricular é muito corte e nenhuma costura: corta-se no número de horas a várias disciplinas e reduz-se o número de professores. É assim que se obterão melhores resultados?
O aumento do número de alunos por turma terá como consequência imediata a degradação do trabalho em sala de aula e o abandono dos que já partem com mais dificuldades, a começar pelos alunos com necessidade educativas especiais, privados assim de qualquer hipótese de acompanhamento eficaz.
Com os mega-agrupamentos, muitos professores terão que percorrer até cem quilómetros diários para lecionar em duas escolas mega-agrupadas. Poderão recusar o horário caso não haja transporte viável? Pagará o ministério as deslocações? Quando estavam na oposição, PSD e CDS recomendavam um máximo de 1500 alunos por agrupamento. No poder, mais do que duplicam essa fasquia, criando uma Escola Pública desqualificada, sem recursos e sem meios, e abrindo caminho à escola privada.
O professor José Carvalho insulta os seus próprios colegas, que chama de “pendurados-no-Estado”. Mas não tem sido o contrário? Pela minha parte, trago o Estado pendurado desde 1999, sem respeito pela sua própria lei, exigindo-me que seja profissional mas negando-me uma carreira e remuneração condigna. Com o número de docentes abaixo dos mínimos, poder-se-á sequer falar em ensino de qualidade?
A política da troika aplicada à escola pública só podia dar uma razia assim, o maior despedimento da história do país. Para defender esta política, em breve só vão sobrar a Nuno Crato fundamentalistas como José Carvalho.
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De facto o Estado é que se
De facto o Estado é que se tem pendurado ao longo dos anos nos professores contratados...Belo artigo Belandina!
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