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Bolhão: A luta continua!

Dinheiro não falta à Câmara Municipal do Porto. O que falta eles nunca tiveram. Falta dignidade.

Houve na semana passada um incêndio no Mercado do Bolhão. Há fios eléctricos explosivamente desorganizados e desprotegidos nas zonas de entrada. Há obras urgentes a fazer, no betão por exemplo. Também eu já fui, durante alguns anos, cliente semanal do Mercado do Bolhão, mas actualmente fico deprimido de cada vez que por lá passo e, na ala Sul me deparo com os andaimes – a degradação que a inacção da CMP votou aquele edifício. Das peixeiras, neste momento há menos cinco, após este incêndio. Segundo a associação de comerciantes do Bolhão, eram cerca de 400 comerciantes, e após os últimos anos restam cerca de 100 comerciantes. Não é isto suficiente para se começar de imediato com o projecto de reabilitação do Mercado? Há um projecto. Há um orçamento. “Faça-se a adjudicação da obra!”… Só que o ditador disse em Assembleia Municipal que “afinal” não há dinheiro para o Bolhão (!) / e o PS correu atrás a voluntariar-se para propôr (portanto) a hipótese de um abaixamento do preço do projecto existente (um novo projecto, portanto…)

Foram feitos durante os últimos 20 anos vários projectos para o Bolhão. E quanto mais tempo passa, mais (obviamente) se poderia e deveria adaptar qualquer um deles ao “nosso respectivo tempo – a contemporaneidade” (a marcha do tempo é imparável de facto.) Para os anos 90 tínhamos o Projecto do Arq.º Massena  (orç. 12 milhões), para os anos 2000 tínhamos o projecto da TCN com os “problemas” que sabemos (“tão só e apenas” acabaria com o mercado e introduziria barbaramente um shopping center naquele histórico lugar). Não fora a acção do Movimento popular a travar essa intentona e hoje não haveria Mercado do Bolhão. Actualmente, e para os anos 2010 temos o Projecto do IGESPAR (orç. 20 milhões), já revisto com a participação dos vendedores que pediram uma cobertura envidraçada por questões de protecção entre outros não-luxos… e tudo foi aceite em sede própria, e tudo foi desenhado e tudo foi acertado e  projectado… com a aceitação da Câmara Municipal. E em 2020 teremos mais um projecto?  e em 2030 outro ainda?, e cada um conforme as necessidades do seu tempo… E em 2040 outro… Só obra é que não nasce. Obra para uma data concreta, para um tempo concreto, para aquelas pessoas em concreto aqui  e agora ainda vivas(!) e que ousam ainda estar a tentar vender as suas frutas, peixes e legumes,… e para os milhares de turistas que tentam visitar o Bolhão (vagos conceitos como “economia / turismo”, não enternecem sequer a CMP?). Bolhão - Quantas vezes 20 milhões já foram arrecadados afinal pela Câmara?

A Câmara do Porto tem evidentemente hoje em dia, dinheiro em caixa mais que suficiente para recuperar no mínimo 2,5 Mercados do Bolhão e muito mais, se quisesse fazê-lo… - “ Quantas vezes 20 milhões de Euros (o custo orçamentado do actual projecto de reabilitação do Mercado do Bolhão) existem, por exemplo – no valor total de Património Municipal que a Câmara do Porto liderada pelo PSD  arrecadou em cerca de 10 anos de funções?” A resposta é: 2,5 vezes 20 milhões de Euros arrecadados, só em 2006: “Em Dezembro de 2006 foi a “transferência” para um Fundo de Investimento Imobiliário de vinte e uma propriedades do município (terrenos e imóveis em que funcionam serviços camarários), avaliados, por baixo, em 45 milhões de euros: imóveis da Rua do Bolhão nº 164, da Rua de Entreparedes nº 51-63, da Rua de S.Dinis nº 249, ex-Matadouro na Rua de S. Roque da Lameira e terrenos na Estrada da Circunvalação / Rua D. Jerónimo de Azevedo, na Rua Dionísio Santos Silva, na Rua Lopo Soares de Albergaria, na Avª Fernão de Magalhães / Rua Barros Lima, na Rua das Classes Obreiras / Rua da Constituição, na Rua das Cruzes / Travessa do Poeta, na Rua Acácio Lino / Rua Monte dos Burgos, na Rua Diogo Botelho / Rua de Serralves, na Rua Martins Sarmento e ainda os lotes 8.2, 8.4 e 9.1 da Alameda das Antas e os lotes 21, 22 e 23 do Parque da Cidade, bem como a Quinta do Forte e a Quinta de S. Roque da Lameira. Estes 45 milhões de Euros poderia ter sido dinheiro em parte usado para reabilitar o mercado do Bolhão (ah, mas a  cartilha liberal não deixa…).

Faltava também o ditador ter arranjado parte desses 20 milhões de euros para reabilitar o Mercado do Bolhão suspendendo – por exemplo - a participação (ruinosa) da CMP no negócio do Aleixo (São mais  alguns milhões que poderiam ser usados pela CMP para reabilitar o Bolhão…). Simples, não é? E claro, nunca ter posto 1 cêntimo em corridas de carros, em revistas de propaganda da CMP, etc (mas a estupidez própria não deixa). Era mais dinheiro para engrossar os tais 20 milhões para recuperar o Mercado do Bolhão… Mas o ditador, com a lata que já lhe conhecemos voltou a “bater um côro ao pessoal“ : “que não há dinheiro / que não há dinheiro”… Só há uma resposta digna para esse choradinho e que é: -” Se não há dinheiro, arranje-o!”.

As pessoas dignas cansaram-se de esperar, Neste momento, 20 anos passados desde 1992 – o concurso de Arquitectura, e 11 anos passados de mandatos em que o ditador só vendeu património, não investiu e arrecadou imenso dinheiro continuando a não investir… Vamos ser uma vez mais complacentes para com o Presidente da Câmara? Ele merece a nossa complacência? Outra vez? Não fomos já enganados várias vezes por ele? Seremos assim tão boas-pessoas? Rui Rio merce ainda uma 5ª oportunidade: de adiar uma vez mais fazer a sua obrigação de reabilitar o Mercado do Bolhão? Alterar uma vez mais o Projecto – nem que seja para o embaratecer não implica um novo adiamento dos prazos – uma vez mais ?– … com a vida do popular mercado a morrer aos pedaços dentro e riscos iminentes de derrocadas e incêndios/ curto – circuitos? Às senhoras do Bolhão eu recomendaria a invasão da Câmara e só saírem de lá com o início das obras. Dinheiro não falta à CMP. O que falta eles nunca tiveram. Falta dignidade.

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Arquiteto
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