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O efeito Mente Rota

Numa espécie de auto de fé, que bem podia ser apelidado como “efeito Manta Rota”, ou "Mente Rota" melhor dizendo, o primeiro-ministro apresentou-se otimista e cheio de força para o que aí vem.

E de repente passamos do “tem de ser, que remédio..." para um efusivo “agora é que é, agora é que vai ser!". Com algumas meias palavras minuciosamente estudadas, evitando dizer explicitamente aquilo que no fundo quer dizer, Passos Coelho lá foi afirmando no seu discurso da reentré laranja que 2013 será o ano da “inversão” e de “preparação da recuperação económica”. Sem nunca falar em retoma ou sequer no fim da recessão, e mencionando ao de leve alguns ligeiros percalços encontrados pelo caminho (como o desemprego, por exemplo), lá conseguiu passar a mensagem de que 2013 é que será o grande ano por que todos esperamos.

Numa espécie de auto de fé, que bem podia ser apelidado como “efeito Manta Rota”, ou "Mente Rota" melhor dizendo, o primeiro-ministro apresentou-se otimista e cheio de força para o que aí vem. Conseguiu assim desempenhar aquele número sempre tão engraçado que consiste em anunciar o “princípio do fim da crise”. E tal atuação torna-se ainda mais interessante quando apresentada num contexto em que é sobretudo o cenário internacional que ditará as sortes nacionais. Um cenário internacional bastante incerto em que tudo se encontra em aberto, onde continuam sem existir quaisquer sinais que permitam descortinar com a mínima certeza o que aí vem.

Fica sempre bem a um governante apresentar uma atitude otimista. Sim, os países e os povos precisam de otimismos que os puxem para a frente, que os mobilizem, que os envolvam e lhes despertem vontade. E foi com certeza esta ideia que os spin doctors de Passos Coelho o recomendaram a passar. De qualquer modo, como é por demais evidente, importa não confundir otimismo com tontice aguçada.

Num momento em que continuam sem existir indicadores que apontem para qualquer inversão no trajeto seguido nos últimos tempos, num momento em que a Europa continua à beira da implosão e em que Portugal mantém-se tristemente na corda bamba, Passos brindou-nos com um delírio que serviu sobretudo para relembrar ao país que a silly season nas hostes laranjas ainda está muito longe do fim.

Sobre o/a autor(a)

Politólogo, autor do blogue Ativismo de Sofá
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