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“O 25 de Abril é a antítese da estabilidade e da transição”

O livro Revolução ou Transição, História e Memória da Revolução dos Cravos, editado pela Bertrand e lançado em Abril passado, critica a “tentativa de revisionismo da história do 25 de Abril".

“Este livro é polémico porque ancora em si visões diferentes e teoricamente distintas, mas tem uma espinha dorsal comum: ele foi escrito por um grupo de cientistas sociais, historiadores, que olham a história como um processo, feito de sujeitos sociais, classes e suas frações, e que tem como núcleo explicativo do processo histórico o conflito social”, lê-se na Introdução de Revolução ou Transição, História e Memória da Revolução dos Cravos.

Este livro, editado pela Bertrand e lançado em Abril passado, critica a “tentativa de revisionismo da história do 25 de Abril", explicou à Lusa a historiadora Raquel Varela, da Universidade Nova de Lisboa, que coordena estas investigações publicadas em torno da Revolução de 25 de Abril de 1974.

O livro incluiu investigações de António Simões do Paço, Carla Luciana Silva, Constantino Piçarra, Dalila Cabrita Mateus, Fernando Rosas, Jorge Fontes, Luciano Soutelo, Luís Leiria, Raquel Varela, Ricardo Noronha e Valério Aracary.

“Aquilo que nós discutimos é que o conceito de transição para a democracia é um conceito absolutamente errado. Quando há um processo revolucionário nós não sabemos se ele vai acabar na transição para a democracia ou em outra coisa qualquer e, portanto, os historiadores não têm de dar conceitos sobre o que vai acontecer, têm que analisar o que é que aconteceu”, disse à Lusa a Raquel Varela.

“O 25 de Abril é a antítese da estabilidade e da transição. É um Estado que entra em crise. Não há elites. Vai-se buscar o MFA para se tentar recompor o Estado. O que há é literalmente o poder na rua. Os governos e os partidos políticos, incluindo os partidos políticos de esquerda andam atrás do que se passa nas ruas. A dinâmica das greves, das manifestações, das comissões de trabalhadores, do controlo operário das empresas nacionalizadas. Sistematicamente os partidos andam atrás do que se passa nas ruas. É justamente a antítese daquilo que é um regime estável”, explica a historiadora.

Para Raquel Varela, o 25 de Abril faz parte da memória coletiva das pessoas, ao contrário do que acontece em Espanha onde o revisionismo sobre o franquismo é muito maior.

“A primeira grande derrota do 25 de Abril é o 25 de Novembro de 1975”, diz ainda, “ou seja, atualmente, bocados de nós são 25 de Abril, bocados de nós são 25 de Novembro”. A democracia representativa “é um retrocesso face à democracia que existia durante a democracia de 74/75”, afirma Raquel Varela.

A historiadora defende que “a instituição de um regime liberal, representativo foi a forma de pôr fim à revolução”.” Nós não temos uma contra revolução sangrenta, nós temos uma contra revolução democrática que, ao mesmo tempo, é um substancial avanço em relação ao regime que tínhamos anteriormente”, sublinha Raquel Varela.

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