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A BBC como apologista da mentira sobre o Libor
Esta coluna aborda o editor de negócios da BBC, Robert Preston. O título do seu artigo enfatiza a sua opinião que é excepcionalmente difícil saber se as mentiras dos bancos sobre o Libor eram desejáveis: "A verdade evasiva sobre a mentira do Barclays." Preston colocou a questão de uma forma que favorece a opinião que a mentira de Barclays fosse desejável.
"Além da análise forense sobre quem disse o quê a quem, há uma questão muito simples no centro da ira da participação do Barclays no escândalo da manipulação do LIBOR: é aceitável mentir?"
A questão manipula a resposta. Claro que é aceitável mentir nalgumas circunstâncias. Se os nazis tivessem invadido com êxito a Inglaterra e tivessem exigido aos bancos identificar os seus clientes judeus teria sido um acto de coragem moral ao mentir e falsificar documentos que supostamente mostrassem que o banco sempre se recusou fazer negócios com os judeus.
Preston deixa claro que a City de Londres está amplamente abastecida de quadros directivos dos bancos que pensam que os funcionários do banco e (falsos) reguladores foram nobres quando mentiram acerca do Libor.
"Acontece que uma série de figuras de alto nível na City que não estão relacionadas com o Barclays considera que essa mentira era devida às circunstâncias. Eles pensam que o senhor [Paul] Tucker [Vice-Governador do Banco de Inglaterra] incentivou o Barclays a mentir e aplaudiu-o por isso.
Você poderia dizer que isto evidencia um relativismo moral canceroso no centro da City. Ou você pode aplaudir o seu realismo do senso comum."
E quel é a opinião de Preston sobre esta questão moral “difícil”?
"A defesa é que o Barclays considerava terrivelmente injusto que os seus custos de financiamento fossem superiores aos de outros bancos. E está convencida que muitos desses bancos eram mais mentirosos sobre o que estavam a pagar para emprestar".
A defesa do Barclays afirma a existência do que os economistas, criminólogos e (reais) reguladores descrevem como a clássica “dinâmica de Gresham”, segundo a qual uma má ética expulsa dos mercados uma boa ética. A função primordial dos reguladores financeiros é a de servir como "policía de ronda" empenhada na regulamentação, exame, fiscalização e execução, fornecendo as referências essenciais criminosas ao Ministério Público, a fim de evitar obter uma vantagem competitiva imoral. A alternativa é que os mercados se tornam perversos e a fraude pode chegar a ser a estratégia dominante. Uma dinâmica de Gresham é "cancerosa", mas não produz o "relativismo moral". Produz-se um comportamento endémico imoral, não por um maior bem comum, mas para enriquecer os altos funcionários que comandam a fraude. Também requer o cancelamento de um governo eficaz e a introdução dum “ambiente [agressivo] imoral no topo do sistema”. Pode-se contar com altos funcionários que dão o tom imoral no topo para que “aplaudam” a fraude. Com o tempo os funcionários mais morais abandonam o cenário indignados e a escória moral aflora à superfície da fossa séptica. Os funcionários muitas vezes acham que as mentiras adicionais aumentarão a sua riqueza.
Uma vez que a mentira se torna banal e “aplaudida” pela administração, proliferam os eufemismos e as "piadas" sobre as mentiras. O artigo de Robert Preston demonstra as duas características: "Precisamos da versão da história de Paul Tucker para avaliar se, efectivamente, empurrou o senhor Diamond a optar pela "economia com a verdade" quanto aos custos de endividamento do banco…" Diamond consegue combinar um eufemismo clássico inglês para se referir às mentiras com a ironia e um gracioso jogo de palavras que se refere à banca: "a economia com a verdade".
A imagem da BBC, se o leitor clicar para ler o artigo completo de Preston, deixa clara a resposta à "difícil" questão da moralidade.
A verdade evasiva sobre a mentira do Barclays http://www.bbc.co.uk/news/business-18704715
Era a mentira do Barclays sobre os seus custos de empréstimos um objetivo legítimo para tentar salvar-se da falência? Ou era o seu instinto de estar no cerne do problema, a razão pela qual tinha tão pouca confiança nos mercados e teve de pagar mais que os outros para emprestar?
A manipulação do Libor através de mentiras para produzir um índice falso é um "objetivo legítimo". A posição da BBC é que qualquer empresa (ou particular) com problemas financeiros pode "legítima [mente]" mentir para enganar os seus credores e investidores, evitando que saibam que tem problemas financeiros. Os bancos podem matar o autor da denúncia sob esta "lógica", porque a sua ação em favor da verdade deve ser "ilegítima". (Se lhe parece exagerado, não perca a minha próxima coluna.)
Maltratam o Tony. O seu projeto "Cool Britannia" [movimento cultural do Reino Unido, que coincide com a chegada de Blair ao governo. NdT] teve muito êxito. A Inglaterra é agora tão cool que os rapazes bêbados, que fazem sexo em público na Grécia, não chegam a ser ponto de comparação com os banqueiros da City de Londres no concurso de depravação moral. Os banqueiros mais importantes são tão cool que "aplaudem" descaradamente a fraude nas suas entrevistas (mas nunca para atribuição) ao editor de negócios da BBC. O Reino Unido voltou aos seus bons tempos, quando deram cartas aos corsários e os enviaram para saquear o comércio mundial. Sir Walter Raleigh é o próprio modelo do banqueiro da City de Londres. Inclusivamente, voltam para ajudar a despovoar de novo a Irlanda.
* William K. Black - é um dos maiores penalistas norte-americanos vivos, é especialista em delitos económicos, particularmente, financeiros. Foi director executivo do Instituto para a Prevenção da Fraude, entre 2005 e 2007.
Publicado em: http://www.sinpermiso.info/textos/index.php?id=5145
Tradução: António José André
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