You are here

Médicos em greve com grande adesão

Fontes sindicais estimam uma "adesão brutal" à greve de dois dias convocada pela FNAM e pelo SIM, naquele que já é o maior protesto desde os anos 80. Os utentes evitaram deslocar-se aos hospitais e os médicos têm concentração marcada em frente ao Ministério da Saúde a partir das 15h.
Foto Paulete Matos.

Os sindicatos previram uma adesão esmagadora e logo pela manhã Pilar Vicente, da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) avançou com a estimativa de 90% de adesão no hospital de São José, em Lisboa. Aqui se encontram a dar consultas apenas um ortopedista e um neurocirurgião, e um anestesista está de serviço. Num dia normal de funcionamento daquele hospital, cerca de 40 médicos dão consultas.

Alguns deles estão desde manhã à porta do hospital, vestindo a bata branca e uma braçadeira negra, explicando aos utentes os motivos do protesto, que tem sido em geral bem acolhido. Por estarem prevenidos sobre a greve, a generalidade dos hospitais e centros de saúde encontra-se com pouco movimento.

No pré-aviso de greve, os dois sindicatos reclamam a defesa da “qualidade do exercício da profissão médica e da sua formação contínua” e recusam “as múltiplas e graves medidas governamentais de restrição no acesso aos cuidados de saúde para um número crescente de cidadãos, colocando permanentes situações dramáticas aos vários sectores de profissionais de saúde”.

Os sindicatos contestam ainda o concurso para entregar a empresas privadas as contratações de médicos dos serviços públicos. No seu entender, ele pretende "destruir a contratação colectiva e as carreiras médicas" e eliminar "a qualidade e a segurança da profissão médica e dos cuidados prestados".

“Numa situação de crise, em que cada vez mais estamos a ser afetados nas nossas condições sociais, é de todo legítima a luta pelos direitos de todas as classes”, disse à Lusa Rosa Silva, enquanto aguardava pela sua vez para ser atendida no hospital do Barlavento, em Portimão, onde foram adiadas algumas cirurgias programadas e consultas de várias especialidades.

O incómodo provocado aos utentes foi em larga medida minorado pelo aviso prévio da greve, tendo a maior parte ido à consulta após confirmar se teria médico no atendimento. Os serviços mínimos são assegurados como se fosse fim de semana ou feriado, prestando cuidados de quimioterapia e radioterapia, de diálise, urgência interna e indispensáveis para a dispensa de medicamentos de uso exclusivamente hospitalar.

Mas sempre há quem vá ao hospital e ali receba a notícia de não poder ser atendido e ver adiada a consulta. Foi o caso de Fernando Fortes, de 73 anos, utente de urologia em São José e que viajou desde Massamá. Mas nem por isso protestou contra a greve. “Se não for atendido vou para casa. Não me importo porque sei bem o que estão a fazer aos médicos e aos enfermeiros. Eles querem acabar com o Serviço Nacional de Saúde, o que seria uma tragédia para os que dele precisam”, disse à Lusa, com lágrimas nos olhos.

Outro utente do mesmo hospital, também com 73 anos, teve melhor sorte mas fez questão de dizer que “se não fosse atendido ia-me embora, na mesma, satisfeito. Os médicos têm razão, o ministro é que não. Onde é que já se viu pagar quatro euros à hora”, comentou, referindo-se ao concurso aberto para contratação de enfermeiros através de agências de trabalho temporário, que tinha como critério de preferência quem apresentasse o salário mais miserável.

O primeiro dia do protesto dos médicos ficará ainda marcado pela manifestação em frente ao Ministério da Saúde, para a qual os sindicatos apelam a que todos tragam vestida a sua bata branca. Os sindicatos organizam transportes para os médicos de norte a sul do país poderem participar na manifestação.

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Sociedade
Comentários (3)