You are here
Médicos em greve com grande adesão
Os sindicatos previram uma adesão esmagadora e logo pela manhã Pilar Vicente, da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) avançou com a estimativa de 90% de adesão no hospital de São José, em Lisboa. Aqui se encontram a dar consultas apenas um ortopedista e um neurocirurgião, e um anestesista está de serviço. Num dia normal de funcionamento daquele hospital, cerca de 40 médicos dão consultas.
Alguns deles estão desde manhã à porta do hospital, vestindo a bata branca e uma braçadeira negra, explicando aos utentes os motivos do protesto, que tem sido em geral bem acolhido. Por estarem prevenidos sobre a greve, a generalidade dos hospitais e centros de saúde encontra-se com pouco movimento.
No pré-aviso de greve, os dois sindicatos reclamam a defesa da “qualidade do exercício da profissão médica e da sua formação contínua” e recusam “as múltiplas e graves medidas governamentais de restrição no acesso aos cuidados de saúde para um número crescente de cidadãos, colocando permanentes situações dramáticas aos vários sectores de profissionais de saúde”.
Os sindicatos contestam ainda o concurso para entregar a empresas privadas as contratações de médicos dos serviços públicos. No seu entender, ele pretende "destruir a contratação colectiva e as carreiras médicas" e eliminar "a qualidade e a segurança da profissão médica e dos cuidados prestados".
“Numa situação de crise, em que cada vez mais estamos a ser afetados nas nossas condições sociais, é de todo legítima a luta pelos direitos de todas as classes”, disse à Lusa Rosa Silva, enquanto aguardava pela sua vez para ser atendida no hospital do Barlavento, em Portimão, onde foram adiadas algumas cirurgias programadas e consultas de várias especialidades.
O incómodo provocado aos utentes foi em larga medida minorado pelo aviso prévio da greve, tendo a maior parte ido à consulta após confirmar se teria médico no atendimento. Os serviços mínimos são assegurados como se fosse fim de semana ou feriado, prestando cuidados de quimioterapia e radioterapia, de diálise, urgência interna e indispensáveis para a dispensa de medicamentos de uso exclusivamente hospitalar.
Mas sempre há quem vá ao hospital e ali receba a notícia de não poder ser atendido e ver adiada a consulta. Foi o caso de Fernando Fortes, de 73 anos, utente de urologia em São José e que viajou desde Massamá. Mas nem por isso protestou contra a greve. “Se não for atendido vou para casa. Não me importo porque sei bem o que estão a fazer aos médicos e aos enfermeiros. Eles querem acabar com o Serviço Nacional de Saúde, o que seria uma tragédia para os que dele precisam”, disse à Lusa, com lágrimas nos olhos.
Outro utente do mesmo hospital, também com 73 anos, teve melhor sorte mas fez questão de dizer que “se não fosse atendido ia-me embora, na mesma, satisfeito. Os médicos têm razão, o ministro é que não. Onde é que já se viu pagar quatro euros à hora”, comentou, referindo-se ao concurso aberto para contratação de enfermeiros através de agências de trabalho temporário, que tinha como critério de preferência quem apresentasse o salário mais miserável.
O primeiro dia do protesto dos médicos ficará ainda marcado pela manifestação em frente ao Ministério da Saúde, para a qual os sindicatos apelam a que todos tragam vestida a sua bata branca. Os sindicatos organizam transportes para os médicos de norte a sul do país poderem participar na manifestação.
Comments
Se o senhor de 73 anos
Se o senhor de 73 anos soubesse que os médicos recebem não 4 euros mas 30 à hora e que estão-se a queixar porque dantes recebiam 80, se calhar já não era tão compreensivo...
A situação dos enfermeiros é completamente diferente da dos médicos. Estes últimos têm taxa de empregabilidade de 100%, sendo a saúde o sector que neste momento mais empregabilidade tem, estando acima do das tecnologias informáticas.
A grande adesão à greve reflecte apenas a situação privilegiada que goza a classe médica. Só quem está numa posição privilegiada consegue, nesta conjuntura, aderir a uma greve geral sem preocupações profissionais e/ou financeiras.
Gostava de ver esta solidariedade social quando o governo toma medidas muito mais drásticas em relação a outras classes trabalhadoras. Não é a olhar só para o seu umbigo que cada um de nós vai melhorar o País.
Gostaria apenas que me
Gostaria apenas que me indicasse em que hospital publico se ganha a 30 euros à hora....neste momento, após descontos ganho a 8,75 euros à hora num hospital de referencia do país. Sei que sou uma recem especialista....mas ao fim de 11 anos (entre curso e especialização) é essa a remuneração!!!!!
E quer o povo qualidade se com estes valores nem formação em cursos de actualização conseguimos fazer. Em apenas 1 gastamos pelo menos metade do rendimento mensal....trabalhamoos de noite, aos fins de semana....
8,75*8h diárias * 22dias =
8,75*8h diárias * 22dias = 1540.
1540€/mês p/ inicio de carreira é inatingível a 80% da população portuguesa.
O facto de dizer que é pouco revela a falta de alinhamento com a situação actual do país que a classe médica têm.
O ordenado médio em PT são 750 euros. No 1º ano de carreira, conseguiu mais que o dobro da média.
Acho que devemos tdos ter consciência social e perceber que p/ certas causas o momento actual ñ é o mais indicado. Estes dois dias de greve prejudicam o SNS e sobrecarregam outros profissionais de saúde.
Na minha área também existem coisas q estão mal, mas atendendo à situação geral do país nem penso em fazer greve. Sentir-me-ia mal em ir para a praia na altura q o país + precisa que a economia floresça.
Não é difícil perceber q tdos sofremos consequências da crise, má gestão politica e corrupção. Os q menos recebem estão muito pior q os q recebiam bem. Mas se tdos reivindicarmos direitos e salários... já pensou o q aconteceria?
É a minha perspectiva.
Add new comment