You are here

Estudantes de medicina exigem internato e formação de qualidade

Mil estudantes das várias escolas médicas do país participaram numa ação de sensibilização, exigindo o internato (IAC) e uma formação de qualidade. O futuro pode ser negro, porém, os estudantes e a sociedade têm o mesmo objetivo: a excelência no SNS e na prestação de cuidados.

A falta de médicos é um assunto evidente no dia-a-dia das pessoas, visível em muitos locais de prestação de cuidados de Saúde à população e na contratação de profissionais estrangeiros. A Ordem dos Médicos (OM) e a ANEM (Associação Nacional de Estudantes de Medicina), no entanto, afirmam que a situação se está a inverter e que dentro em breve haverá excesso de médicos. Mas o que se passa? O aumento de escolas médicas e do número de vagas nas já existentes, na última década, justifica-se? Será só uma questão de má distribuição de especialistas e da típica assimetria Litoral/Interior? O que podem esperar os estudantes? O que se passou na sua ação de sensibilização no dia 31 de maio? Haverá desemprego médico e precarização da profissão? E a qualidade do SNS, será afetada?

As respostas a estas perguntas não são consensuais e os dados que existem estão dispersos, entre outras entidades, pelos Ministérios da Saúde e o da Educação e Ciência, a OM e a ANEM. Estas duas últimas afirmam que há que ter cuidado com o aumento do número de estudantes, pois não tem havido alterações significativas no número de doentes nos hospitais, pelo que um só paciente é abordado por um maior número de alunos, o que põe em causa o seu repouso e a formação dos alunos.

Outra questão que tem vindo a ser discutida é a formação após a conclusão do curso. Atualmente, após os 6 anos de curso, os médicos recém-formados fazem o IAC (Internato de Ano Comum), em que passam pelas especialidades mais relevantes para a população, sob supervisão, seguindo depois para a especialidade. Só após o primeiro ano de especialidade é que os médicos são autónomos – podem ver doentes e passar receitas sozinhos. Pode deixar de haver vagas no IAC e na especialidade para todos os jovens médicos já em 2013, e o IAC pode mesmo vir a acabar, o que pode ter consequências drásticas para os doentes, alertam a OM e a ANEM. De acordo com a estrutura atual dos cursos, os médicos não estão preparados para exercer logo após a sua conclusão, pelo que o IAC é indispensável. Se o Governo pretende suprimir o IAC, poupando custos e tendo os profissionais mais rapidamente disponíveis, tem de alterar a formação médica, tornando os últimos anos do curso de Medicina mais profissionalizantes e tem de haver um período de transição em que se mantenha o IAC! O fim de médicos especialistas afetará os médicos e os utentes, pois sem especialidade não se pode exercer (Medicina Geral e Familiar é uma especialidade) e a especialização, seguindo o modelo europeu, foi um dos triunfos da Saúde em Portugal. Toda esta situação levará à precarização da profissão, como já aconteceu com os enfermeiros e com os médicos dentistas, avisam a OM e a ANEM.

Os estudantes têm estado alerta para estas situações e a ANEM tem definido posições e fez chegar uma carta aberta ao Ministro da Saúde. Em maio, os estudantes divulgaram esta mensagem à população, pela comunicação social e redes virtuais, através de três pontos fundamentais: prestação de cuidados de Saúde, utilização de impostos e expectativas dos jovens. Há uma petição, lançada pela ANEM, que pretende atingir as 4 000 assinaturas para que este assunto chegue à AR, que defende ainda a diminuição do numerus clausus em Medicina. No dia 31 de maio, quase 1 000 estudantes das várias escolas médicas do País participaram numa ação de sensibilização convocada pela ANEM e pelas Associações de Estudantes, junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa, exigindo o IAC e uma formação de qualidade. Os estudantes usaram batas brancas (símbolo da profissão) e tinham tickets a partir do número 1.500, simbolizando os médicos recém-formados que terão de esperar pelo IAC (é este o número de vagas para esta formação pós-graduada, inferior ao atual número de médicos recém-formados). É interessante constatar que esta ação, para muitos estudantes, foi o seu primeiro momento de participação democrática na rua e de luta pelos seus direitos e que este também foi um processo de transformação: aquilo que a ANEM não pretendia que fosse uma manifestação, foi assim denominado por quem participou, e acabaram por se proferir palavras de ordem!

O futuro pode ser negro, porém, os estudantes e a Sociedade têm o mesmo objetivo: a excelência no SNS e na prestação de cuidados, que passam pelo rigor na formação e no exercício da Medicina!

Sobre o/a autor(a)

Estudante de medicina
Comentários (2)