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SNS ou SMS? Governo reduz SNS a serviços mínimos de saúde

A direita pretende ir mais longe no desmoronar do SNS. Quatro notícias recentíssimas tiram qualquer dúvida que ainda pudesse subsistir sobre o que pretende o governo.

Não foram poucos aqueles que manifestaram a sua simpatia pela “eficácia” do ministro da saúde Paulo Macedo, apontado como exemplo da “austeridade inteligente”: combater os desperdícios, racionalizar a oferta de serviços, evitar duplicações, cortar no pagamento à indústria farmacêutica, acabar com as horas extraordinárias. Para os adeptos de Paulo Macedo, seria assim possível cortar mil milhões de euros no orçamento do SNS sem que o acesso aos cuidados de saúde e sua qualidade fossem minimamente beliscados. Aliás, diziam mesmo, que tudo era feito em nome da qualidade do SNS.

A realidade desmentiu-os. Os meses foram passando e nada melhorou. Ao contrário, tudo começou a piorar: as listas de espera recomeçaram a crescer, marcar uma consulta num centro de saúde é cada vez mais difícil, os exames estão muito mais atrasados e demorados. A austeridade inteligente de Paulo Macedo mostrou do que é capaz.

Mas a direita pretende ir mais longe no desmoronar do SNS. Quatro notícias recentíssimas tiram qualquer dúvida que ainda pudesse subsistir sobre o que pretende o governo:

- Maternidade Alfredo da Costa: obrigado a recuar pelo protesto popular contra o fecho, o governo começou a desmantelar a maternidade, transferindo serviços para outros hospitais (cirurgia da mama deslocada para o S.José)

- mega contratação de empresas privadas que alugam e colocam médicos à hora e a preço de saldo nos hospitais e centros de saúde do SNS, continuando estes proibidos de contratar diretamente e em condições de estabilidade os profissionais de que precisam;

- reduzir os cuidados a que, hoje, os portugueses têm acesso e direito, deixando de garantir alguns tratamentos e exames por serem demasiado caros e que ficarão apenas acessíveis a quem tiver dinheiro para os pagar;

- e, finalmente, a manchete do fim de semana, a nova Carta Hospitalar apresentada pelo governo e que se traduz no encerramento de dezenas de unidades do SNS, sobretudo no interior e ao nível dos hospitais distritais, pondo em causa a proximidade dos serviços, o acesso de muitos milhares de portugueses aos cuidados de saúde e a prontidão na assistência médica de que precisam.

Não podiam ser mais claros os propósitos de Paulo Macedo: reduzir o SNS a serviços mínimos, poupar com a saúde dos portugueses, obrigar os doentes a pagar do seu bolso o seu próprio tratamento, alargar o negócio dos privados na saúde.

Com Paulo Macedo regressámos ao tempo do “quem quer saúde, pague-a”. É o PSD no melhor da sua tradição liberal e conservadora. Os privados aplaudem e agradecem!

Sobre o/a autor(a)

Médico. Aderente do Bloco de Esquerda.
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