You are here

O que significa “Esquerda radical”

A Syriza tem demonstrado que o apoio social e a constituição de maiorias democráticas pode colocar engulhos tremendos à escalada da dividadura. E contribuir, mesmo, para o início da alternativa.

O que a Syriza, na Grécia, tem demonstrado, é que o apoio social e a constituição de maiorias democráticas pode colocar engulhos tremendos à escalada da dividadura. E contribuir, mesmo, para o início da alternativa. Com propositada cegueira ideológica, os analistas da nossa praça fazem equivaler o crescimento da esquerda anti-troika ao aumento de votação dos neo-nazis que negam o holocausto, quando tal esquerda tem também a sua origem no anti-fascismo. Mas é essa mesma cegueira ideológica (que nutre a fé de Gaspar na santidade imaculada dos seus números e estimula Passos a considerar o desemprego uma oportunidade) que os levará à derrota.

O que a Syriza propõe como Governo é sensato e exequível: renegociação da dívida, o que obriga a fazer o seu historial, não pagando juros ilegítimos (os bancos contraem empréstimos no banco central europeu a 1% e cobram posteriormente taxas de 5 a 7%) nem rendas (em Portugal isso significaria a coragem de reverter boa parte dos contratos milionários das parcerias público-privadas); manutenção da Grécia no Euro, mas no contexto de uma nova orientação, com mutualização da dívida e políticas de investimento, crescimento e emprego.

Pergunta inevitável: onde se vai buscar o dinheiro enquanto não há crescimento? Às tais rendas que alimentam burguesias parasitárias; ao imposto sobre as grandes fortunas; à taxa Tobin e ao controlo da evasão fiscal, nomeadamente nos offshores e, é claro, no combate permanente ao luxo e ao desperdício, num novo paradigma ecológico. Para isso é preciso coragem.

Esta esquerda é radical porque é relativa à raiz, origem ou fundamento. Assim, incomoda. Nasceu para incomodar e transformar. Sejamos pois capazes de convocar e construir essa maioria social anti-troika, abrangendo, quem, à esquerda, não se conforma com os despedimentos, os salários baixos e a destruição do serviço nacional de saúde.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
(...)