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Caça ao elefante origina críticas ao rei de Espanha

A viagem de caça que o rei Juan Carlos efetuou ao Botswana, e durante a qual sofreu uma queda e fraturou a anca, suscita polémica em Espanha. Em causa está a alegada "falta de ética" da Casa Real espanhola.
Numa altura em que Espanha atravessa uma crise financeira, a viagem de Juan Carlos foi alvo de fortes críticas, com vários setores a acusarem o rei de “frivolidade e falta de ética” e a apelarem para que abdique. Foto Maikelnai71/Flickr

No centro da polémica está a decisão de Juan Carlos realizar uma viagem de caça grossa num momento de grandes dificuldades económicas para Espanha, assim como o facto de ter caçado elefantes quando ele próprio é presidente de honra da secção espanhola da organização ambiental WWF (World Wildlife Fund).

Numa altura em que Espanha atravessa uma crise financeira, a viagem de Juan Carlos foi alvo de fortes críticas, com vários setores a acusarem o rei de “frivolidade e falta de ética” e a apelarem para que abdique.

A viagem ao Botswana realizou-se na semana passada e, numa caça a elefantes o rei de Espanha caiu e fraturou a anca. Na madrugada de sábado, já em Madrid, foi operado para a implantação de uma prótese e deverá continuar internado mais quatro ou cinco dias. Segundo o último boletim médico, "a evolução é muito satisfatória", adianta o El País. Entretanto, o rei delegou os seus deveres de chefe de Estado no filho, o príncipe Felipe.

Segundo o mesmo jornal espanhol El País, a WWF Espanha, uma dos três principais ONGs ambientais no país, irá dirigir-se, esta segunda-feira, à Casa Real para comunicar o seu desagrado proporcionado pelo facto dos seus membros e simpatizantes se terem manifestando negativamente em relação à imagem do rei como um caçador de elefantes. A organização tem, entre outros, um programa específico para a conservação de elefantes em África e está a ser criticada por manter o rei como presidente de honra.

A WWF Espanha, que tem cerca de 33 mil membros, enfrenta agora um problema de imagem. A questão não passa por se saber se o safari com elefantes no Botswana, no qual o monarca participou, foi legal ou não, mas certo é que muitos ativistas não entendem como um grande caçador possa presidir à ONG.

No dia em que a notícia saiu, a WWF optou por não comentar, mas na Internet cresceram queixas via twitter. Às cinco da tarde de domingo, 15 mil pessoas pronunciaram-se para que o rei deixe a presidência. "Na segunda-feira temos de ir a casa do rei, dar conta das mensagens que estamos a receber", disse Juan Carlos del Olmo, secretário geral da organização.

“Viagem privada ao Botswana demonstrou falta de ética da Casa Real”

O assunto está a dominar o debate nas redes sociais, com alguns líderes políticos espanhóis a romperem o silêncio. E até mesmo a atriz francesa Brigitte Bardot tornou pública a sua crítica.

Patxi López, (chefe do Governo basco), socialista, afirmou que "não estaria mal que o rei pedisse desculpa “pela viagem de caça que realizou, num momento de grave crise em Espanha. Ainda que recorde que o monarca, "como toda a gente, tem direito a um espaço privado", López disse que "nos tempos que correm há certas coisas que a cidadania não entende e esta é uma delas".

Duran Lleida (Convergência e União-CiU) disse, por seu lado, que é bom, no momento atual, evitar destabilizar a monarquia espanhola, ainda que questione o facto de a viagem ter sido, eventualmente, paga por dinheiro público.

Formalmente os dois maiores partidos evitaram comentários oficiais sobre o caso, com o PP a remeter para os comunicados da Casa Real e o PSOE a considerar que "normalmente não comenta a agenda privada do rei, goste ou não goste dela".

Também o coordenador geral da Esquerda Unida, Cayo Lara, considerou que com a sua viagem privada ao Botswana, o chefe de Estado e a Casa Real demonstraram “falta de ética”.

O senador Iñaki Anasagasti do Partido Nacionalista Basco considerou que o acidente do rei ao Botswana mostra o “anacrónico de uma instituição opaca e perdulária” que vai “frivolamente de viagem” num contexto de crise e cortes financeiros. Num artigo publicado este domingo no seu blogue, Anasagasti questionou porque com “os seus achaques e situação familiar” não aproveita a comemoração do Dia da República para “abdicar de uma vez”.

Também Brigitte Bardot, grande defensora dos direitos dos animais, afirmou estar escandalizada com a caçada do rei de Espanha no Botswana. "É indecente e indigno de uma pessoa da sua importância. O senhor não vale mais que os caçadores ilegais que roubam e saqueiam a natureza. Você é a vergonha de Espanha", escreveu a atriz francesa numa carta publicada pela sua fundação.

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