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O murro de Mélenchon
Esse sentimento de "juntar forças" para reivindicar uma nova etapa de conquistas políticas e sociais esteve bem presente no comício da parisiense e simbólica Bastilha, com mais de 100 mil pessoas que ali foram. Não por acaso, Mélenchon terminou o seu discurso dando um viva à bandeira vermelha! Ele que sustenta que a campanha preconiza uma revolução cidadã por uma nova República.
O candidato do Front de Gauche (englobando Parti de Gauche - liderado por ele mesmo, PCF, e Gauche Unitaire e várias associações políticas de esquerda) representa um frentismo com tradição na frente popular de 1936, de Jaurés. E mais proximamente, no programa comum PS-PCF da primeira eleição de Mitterrand (1980) de que ele próprio foi membro ativo. Melénchon destaca muito nos seus escritos e intervenções essas cíclicas convergências. O seu abandono do PS para formar o PG, em 2008,deveu-se à conclusão que o PS era irreformável para a esquerda. Atacou simultaneamente a cedência ao liberalismo, "terceiras vias, etc.", e a social-democracia que apenas preconiza a "regulação do capitalismo". Fê-lo em nome de um "socialismo republicano que ultrapasse os horizontes do capitalismo". O programa com que se apresenta a estas eleições de 2012 é disso sintomático: polo público financeiro, unificando a banca estatal e fazendo nacionalizações, impostos fortemente progressivos, taxar as transações in shore e off shore para idêntico imposto, romper com o tratado de Lisboa para uma nova Europa cooperativa, retirar as tropas do Afeganistão e abandonar a Nato, política de rendimentos a favor do salariato e da segurança social, planificação ecológica. Para tudo isto, reclama-se caminho para maioria social e política e para a eleição de uma Constituinte. Que um Programa radical, na atual adversidade de forças que enfrentam os progressistas, se possa impor como fator de esperança e só através desse programa se tenha conseguido ampliar a desiludidos do PS ou de organizações sectárias, ativando abstencionistas e despolitizados, esse é justamente um referente que não deve ser escamoteado.
Contudo, esse Programa não começa sem uma dura autocrítica, quer de Melénchon e seguidores, quer do Partido Comunista Francês, todos subscritores deste processo. "É preciso romper com as políticas seguidas pelos governos no poder nas últimas décadas. É claro, houve diferenças entre a política dos governos de direita e aquela dos governos de esquerda. Mas houve também infelizmente pontos comuns: a crença na construção atual, liberal, da União Europeia, a vontade de reduzir o "custo do trabalho", o desmantelamento dos serviços públicos, a recusa de enfrentar os bancos e os mercados financeiros". Vindo de um ex-ministro do governo de Jospin e de um parceiro desse governo, como os comunistas, são atitudes de grande significado estratégico para o reagrupamento socialista.
Num pequeno depoimento que gravei em vídeo para a campanha de Melénchon, disse que ele é um símbolo do arco-íris que a esquerda alternativa deve ser. Não foi uma simpatia de momento. Penso mesmo que a acumulação de forças alternativas na Europa para derrotar os liberais-conservadores só pode ser dinamizada à esquerda e não ao centro, o do pântano lembram-se?, como mostram os últimos 30 anos da social-democracia europeia. O arco-íris é, como se sabe, paleta de cores, diverso nas composições, não quer ser unitário porque é pluritário, mas não aliena conceitos de império e soberania, estado e propriedade, trabalho e classes que são o património comum do socialismo.
É interessante verificar a posição da candidatura sobre uma esperada 2ª volta: derrotar Sarkozy, sem tibiezas. Mas se ocorrer uma eleição de Hollande não contem com o Front de Gauche para fazer parte do governo francês, as políticas não são próximas nem miscíveis. Curiosamente, para as eleições legislativas, que vêm já a seguir, PCF e PS abandonaram acordos eleitorais que vinham desde o pós-guerra e que não poucas vezes manietaram o PCF.
O programa do Front de Gauche está articulado com programa, recentemente aprovado em congresso (Erfurt) do Die Linke da Alemanha. São bons prenúncios para a corrente de esquerda europeia, com espaço próprio. O murro de Jean-Luc Melénchon é um aviso ao austeritarismo mas, malgré tout, um arranque sem fronteiras.
Comments
Boa Fazenda ! Obrigado pela
Boa Fazenda ! Obrigado pela notícia. Zé
Boa! É preciso ler o
Boa! É preciso ler o Esquerda.net para sabermos de alguns acontecimentos e notícias boas daquilo que vai por essa Europa da UE.
Desculpe-me, professor, mas o
Desculpe-me, professor, mas o sr. está redondamente iludido a respeito de Mélenchon. O sr. escreveu: "a relevância de uma esquerda que não se rendeu ao liberalismo". A realidade é exatamente ao contrário disso e de tudo o que ele prega.
De esquerda, se é que ainda existe esquerda e direita, creio mais que hj. somos pró-sistema ou antissistema (enquadro-me aqui), Mélenchon só tem a camisa e o discurso pró-eleitoral. Aproveita-se, fazendo uso de um discurso de esquerda (antissistema), para enganar os eleitores socialistas franceses que estão desiludidos com o papel ultraliberal que há anos dominou a dita esquerda francesa.
Mélenchon aprovou, quando senador, o Tratado de Maastrich, assinou diversos outros bem como leis contrárias aos interesses da França e favoráveis à União Europeia, essa que junto com o sistema está destruindo pouco a pouco os países.
continuação Portugal já
continuação
Portugal já conhece bem e sente na carne (infelizmente) os efeitos disso (UE). Assinale-se que as aprovações foram para a para com François Hollande.....Autodenomina-se candidato do povo, mas é um pró-Comunidade Europeia convicto, o que determina seu caráter ultraliberal.
Aprova a imigração em massa, que sempre foi estimulada pelos grandes empresários para disporem de mão-de-obra barata, deixando ao Estado o custo social. Socialização dos “deveres” e privatização dos lucros (regra clássica).
E para finalizar, Mélenchon é maçon do Grande Oriente da França. Quem conhece bem toda a história da globalização, da União Europeia, etc , conhece o papel da maçonaria nesses feitos. Portanto Mélenchon jamais será um combatente, um opositor do sistema. Somente se oporá ao sistema verbalmente.
Ademais seu papel é fazer
Ademais seu papel é fazer crer às pessoas menos avisadas que existe alternância (como pretende o sistema), mas se os menos avisados não acordarem tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes (leia-se sistema globalizado).
Essas são as grandes surpresas que o sistema está nos trazendo.
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