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Limites ao quadrado igual a combate novo

Reconhecer crítica e lucidamente quer os limites dos partidos políticos, quer os limites dos movimentos sociais, poderá significar não ampliar os atavismos e bloqueios mas, pelo contrário, potenciar os novos combates.

Da banda dos partidos, existe por vezes burocracia, rotina, tentação de controlo, comunicação em forma de slogan, instrumentalização, estandardização dos próprios termos da discussão, institucionalização do espaço público e das formas de apresentação/representação.

Da banda dos movimentos sobressai aqui e ali a errância, a desorganização, a contradição de programas de ação, a amálgama de participantes com orientações por vezes antagónicas, as derivas populistas e sebastianistas.

O convite reside, pois, na identificação dos limites mútuos para desenhar superações, articulações e intersecções, num vaivém de ganhos recíprocos e de criação de momentos que reconfigurem não só os movimentos e os partidos, como a política e a sociedade.

Para tal, urge ultrapassar alguns vícios cristalizados: por um lado, o embevecimento dos que, nos partidos, olham para os movimentos sociais com a bovina crença quase-religiosa de uma cura milagrosa para os males de que os próprios padecem, espécie de quinta-essência sem mácula de pecado original; por outro lado, a diabolização dos que, nos movimentos, investem os modos de fazer política dos militantes partidários de um anátema de arcaísmo em vias de extinção; finalmente, a superioridade ontológica e moral de uns face aos outros.

Respeitar margens de ação, manter fronteiras para melhor comunicar (antes da tentação pós-moderna de as dissolver num patchwork), conhecer formas plurais de ação, experimentar, disseminar, transferir - eis alguns dos ingredientes fundamentais para a construção de um capital de militância que poderá confluir em algo mais do que uma manifestação, um congresso ou um site.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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