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Andaluzia e Astúrias: espanhóis já cobram a fatura a Rajoy

Nas eleições da Andaluzia e das Astúrias o PP, de Rajoy, ficou muito longe dos objetivos, os socialistas sofreram perdas mais limitadas do que as esperadas e a Esquerda Unida duplicou o número de deputados na Andaluzia. Uma derrota para a direita, apesar de Rajoy ter adiado para depois das eleições um gigantesco pacote de austeridade.

Bastaram 100 dias de austeridade não assumida por completo para o governo de Mariano Rajoy começar a sentir em Espanha o chamado "desgaste eleitoral". Nas eleições autonómicas da Andaluzia e das Astúrias a direita/extrema-direita do PP de Rajoy ficou muito longe dos objectivos, os socialistas sofreram perdas mais limitadas do que as esperadas e a Esquerda Unida subiu de maneira significativa em ambos os casos, duplicando o número de deputados na Andaluzia, indispensáveis para que o PSOE possa governar.

As perdas do PP foram registadas apesar de Rajoy ter adiado para esta segunda-feira, a pedido dos seus candidatos, a maior pacote de austeridade da democracia espanhola, cortes de 40 mil milhões de euros num momento em que os "mercados" começam a antecipar para Madrid um caminho semelhante ao de Lisboa.

O PP ganhou a Andaluzia mas os 50 deputados correspondentes a 40 por cento dos votos deixaram-no muito longe da maioria absoluta pretendida. A região andaluza é um feudo tradicional do PSOE, que governa a região desde a instituição, em 1982; poderia, no entanto, perder o governo no caso de se manter a dinâmica eleitoral que levou o Partido Popular à vitória nas últimas eleições gerais.

O preço que o PP já pagou após 100 dias de austeridade foi de 500 mil votos, ficando longe da maioria absoluta. O PSOE, com 47 deputados e 39,5 por cento, considerou os resultados uma vitória. Poderá manter o governo desde que chegue a acordo com a Esquerda Unida, que poderá assegurar uma maioria parlamentar folgada com os seus 12 deputados (mais seis do que na anterior consulta autonómica). A aliança de governo entre o PSOE e a Esquerda Unida já funciona na Extremadura.

Nas Astúrias o PSOE ganhou, colhendo no imediato os resultados do facto de o chefe do governo regional, o direitista Francisco Alvarez Cascos, ter forçado a antecipação das eleições e estar em guerra aberta com a corrente política a que pertence, o PP. Ex-ministro de Aznar, Cascos tem desenvolvido uma forma de poder pessoal nas Astúrias mas não conseguiu ir além dos 13 deputados, ficando a três do PSOE e com outros três de vantagem sobre a lista do PP. A direita poderá governar se Cascos se entender com o PP, mas o clima de guerra aberta não é, para já, muito propício a que isso aconteça. A Esquerda Unida subiu de quatro para cinco eleitos, que somados aos 16 do PSOE ficam a dois da maioria absoluta –o que poderá permitir um governo minoritário no caso de se manter o fracionamento da direita.

Os resultados das Astúrias confirmaram, de qualquer modo, a rápida perda de apoio eleitoral de Mariano Rajoy, depois das suas medidas tomadas em contacto directo com Angela Merkel e que ainda não foram expostas por inteiro.

Rajoy vai hoje anunciar o segundo pacote de medidas de austeridade, num valor de 40 mil milhões de euros, que a generalidade dos analistas considera um caminho para aprofundamento da recessão económica e do desemprego, já bastante acima dos 20 por cento e que, segundo as estimativas europeias, poderá chegar a 25 por cento no final deste ano. O primeiro pacote, anunciado em Janeiro, foi de 16 mil milhões de euros.

Os candidatos do PP na Andaluzia e nas Astúrias tinham pedido a Rajoy que só divulgasse o segundo plano depois das eleições, razão pela qual será anunciado hoje.

As centrais sindicais já conheciam, porém, o seu conteúdo, razão pela qual convocaram para quinta feira a segunda greve geral no país em poucos meses. Ao contrário do que sucedeu em Portugal, onde as duas últimas greves gerais tiveram um intervalo semelhante ao que vai acontecer em Espanha, a UGT organiza a greve geral a par das Comisiones Obreras.


Artigo publicado no site do grupo parlamentar europeu do Bloco de Esquerda.

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