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Greve Geral: modo de usar

Mas como pode um trabalhador precário, a falsos recibos verdes ou a trabalhar através de uma ETT fazer greve sabendo que pode perder o seu emprego? Esta é uma daquelas equações que só se pode resolver com a solidariedade entre as pessoas que trabalham.

A greve é uma das armas mais fortes que as pessoas têm para reivindicar justiça, melhorar as suas condições de trabalho e obrigar a que a distribuição do valor do que é produzido seja mais equitativa.

Mas uma Greve Geral é um outro momento.

É o momento em que cabem as lutas pela melhor distribuição da riqueza no interior de um local de trabalho, mas também em toda a sociedade; é o momento no qual cabem as lutas pelo trabalho com direitos e por melhores salários; é o momento em que os trabalhadores, precários ou não, desempregados ou não, se unem e exigem empregos para todos; é o momento em que os professores e as professoras fecham as escolas, pelos seus empregos, mas também pelos seus alunos e pela Escola Pública; é o momento em que médicos, enfermeiros e auxiliares se juntam, pelos seus salários, mas também pela defesa do Sistema Nacional de Saúde; é o momento em que se rejeitam as injustiças de um patrão, mas também se rejeita o pagamento de toda a dívida externa que não foi contraída em nome das pessoas; é o momento em que rejeitamos a política da austeridade em uníssono, porque somos todos as suas vítimas.

Em suma, a Greve Geral de amanhã é momento em que em cada empresa, mas também em cada cidade e em cada bairro, os cidadãos e as cidadãs fazem milhares de pequenas lutas que confluem no combate à política da austeridade que destrói a economia, a vida das pessoas e o Estado Social.

Mas como pode um trabalhador precário, a falsos recibos verdes ou a trabalhar através de uma Empresa de Trabalho Temporário fazer greve sabendo que pode perder o seu emprego? Esta é uma daquelas equações que só se pode resolver com a solidariedade entre as pessoas que trabalham.

Um trabalhador precário pode sempre escolher fazer greve; é seu direito e o pré-aviso de greve abrange todos os trabalhadores, pelo que a falta estaria justificada. Mas sabemos bem que em muitos casos isso não quer dizer nada e que a pessoa pode perder o seu emprego.

Importa então que os precários se organizem, pois, se muitos aderirem à Greve Geral, os patrões dos call centers ou das ETT não poderão simplesmente demitir toda a gente em bloco. As greves nunca foram momentos pacíficos entre os trabalhadores e os patrões, aliás as primeiras greves eram ilegais e sempre reprimidas com enorme brutalidade. Apenas a força e a união das pessoas que trabalham impôs o direito à greve.

Mas se tal não for possível, quem tem um emprego precário pode sempre meter um pauzinho na engrenagem, produzindo menos, aderindo aos piquetes de outros trabalhadores e participando na manifestação da Greve Geral que permite dar visibilidade a este importante dia de luta.

O mesmo acontece com as pessoas que não têm emprego. O desemprego atinge já mais de um milhão e duzentas mil pessoas e, se algumas delas ajudarem nos piquetes da Greve Geral e participarem na manifestação dessa tarde, estarão a contribuir decisivamente para proteger contra a recém-publicada lei do subsídio de desemprego que deixa de fora desta prestação social ainda mais pessoas.

Todos os motivos, todas as lutas e todas as pessoas cabem nesta Greve Geral, porque é esta a grande arma que as pessoas têm para defender o Estado Social e a Democracia.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
Termos relacionados Greve Geral 22 março 2012
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