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Filme da Comissão Europeia é racista?

A Comissão Europeia lançou este filme que tenta resumir a sua mensagem universalista de paz entre os povos e culturas de todo o mundo. Gerou uma grande contestação e críticas de racismo.

O filme é racista? Sem sombra de dúvida, mas não o é por uma falsa representação do real. E esse é o verdadeiro problema porque, tal como em qualquer regime, o problema não é agir contra aquilo que o regime defende mas sim deixar a nu que não somos aquilo que somos.

Basta investigar a política de refugiados da União Europeia e encontramos um sem número de verdadeiros centros de concentração de imigrantes do além mediterrâneo, tratados como suspeitos e terroristas, obrigados a passar meses sob condições abjetas após uma travessia por mar que em 2011 reclamou mais de três mil vidas. A grande maioria é deportada de volta ao país de origem. O que não é público é a caça que uma frota armada de vasos de guerra Franceses, Italianos e Espanhóis fazem às escunas e jangadas dos refugiados. E sim, disparam e matam em caso de recusa de obedecer a ordens. A Europa transformou o Mediterrâneo numa vala comum.

Dentro da UE o caso não melhora. A nova hegemonia cultural da direita berlusconiana não se tornou a regra apenas a nível nacional, tornou-se a narrativa implícita de toda a Europa, incluindo as instituições europeias. E este é um processo cultural de rapar um tacho sem fim. Porque já não são apenas as comunidades ciganas em França que estão em perigo de ostracização, mas também os portugueses em Paris, os gregos em Berlim, os italianos em Londres, os checos na Áustria e os húngaros em todo o lado. A xenofobia latente é o principal motor de repugnância moral e económica de todo o norte europeu em relação ao sul, é a matriz de interação entre os povos de uma Europa irreconhecível.

Qualquer regime que vive sob uma imagem falsa de si próprio é profundamente preocupado com as aparências. Com Estaline não estava em perigo apenas quem criticava o regime mas também quem acusava o crítico de ser louco em criticar, porque isso sim, desmascarava o regime.

É por isso que este filme, em princípio benigno e bem intencionado, representa mais do que aquilo que é suposto, representa o irrepresentável, aquilo que não queremos ver. É este dispositivo que criou uma reação negativa tão forte nos media europeus. Agora que caiu a máscara talvez estejamos prontos a começar a mudar alguma coisa.

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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