Poucas semanas depois da denúncia da falta de macas no hospital de Aveiro, uma situação que se repete noutros hospitais do país, o Diário de Notícias revela esta segunda-feira que as cirurgias do Hospital Garcia da Orta estiveram em risco na semana passada por falta de compressas. O stock acabou após dois meses de suspensão do fornecimento e o Hospital já deve 260 mil euros ao fornecedor, pelo que teve de recorrer ao empréstimo do Amadora-Sintra, em número suficiente apenas para cobrir as cirurgias até ao início desta semana.
As compressas de contraste distinguem-se das restantes por serem identificáveis no fim da cirurgia, por terem uma risca visível no raio X . "Isto porque quando uma compressa toda branca está encharcada de sangue não se distingue" e aumenta o risco do cirurgião não a retirar no fim da operação, disse ao DN uma fonte hospitalar.
"Sei que vários serviços estiveram à beira de não poder realizar operações, e por isso esse empréstimo [do Amadora-Sintra] foi quase uma bolha de oxigénio que permitiu ao Garcia de Orta aguentar até sexta-feira", acrescentou a mesma fonte. De acordo com o DN, só na sexta-feira se conseguiu renegociar com o fornecedor o envio de uma pequena quantidade destas compressas. "É com esta pequena quantidade que nos foi enviada que nos estamos a governar; é um sufoco", prosseguiu a mesma fonte.
Os cortes na despesa com os hospitais públicos levam ainda à falta de outro material essencial para proteger a saúde de utentes e profissionais hospitalares. É o caso do desinfetante para as arrastadeiras que também tem faltado no Garcia da Orta. Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros, confirma esta situação e diz que ela está a pôr em risco a saúde de todos os utentes, mas a administração diz desconhecer a situação.
A falta de material nos hospitais provocou este fim de semana o caos nas urgências do hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro. A grande afluência registada sobretudo por causa das doenças respiratórias afetou as urgências de todo o país e obrigou a transferência para o Garcia da Orta e para o São Bernardo, em Setúbal. O aumento do tempo de espera também é uma realidade, com a urgência no hospital do Barlavento, em Portimão, a registar até oito horas de espera, o dobro do tempo de atendimento na urgência do hospital D. Pedro, em Aveiro, para quem tinha pulseira laranja, segundo dados recolhidos pelo Correio da Manhã.
Garcia da Orta sem desinfetante nem compressas para cirurgias
05 de March 2012 - 13:05
Com uma dívida de 260 mil euros ao fornecedor a arrastar-se há 19 meses, o hospital de Almada esteve prestes a cancelar as cirurgias a meio da semana passada por falta de compressas. Valeu-lhe o Amadora-Sintra, que emprestou compressas suficientes para operar até ao início desta semana.
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Cortes no financiamento da Saúde já estão a pôr cirurgias em risco. Foto CMAlmada/Flickr