Garcia da Orta sem desinfetante nem compressas para cirurgias

05 de March 2012 - 13:05

Com uma dívida de 260 mil euros ao fornecedor a arrastar-se há 19 meses, o hospital de Almada esteve prestes a cancelar as cirurgias a meio da semana passada por falta de compressas. Valeu-lhe o Amadora-Sintra, que emprestou compressas suficientes para operar até ao início desta semana.

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Cortes no financiamento da Saúde já estão a pôr cirurgias em risco. Foto CMAlmada/Flickr

Poucas semanas depois da denúncia da falta de macas no hospital de Aveiro, uma situação que se repete noutros hospitais do país, o Diário de Notícias revela esta segunda-feira que as cirurgias do Hospital Garcia da Orta estiveram em risco na semana passada por falta de compressas. O stock acabou após dois meses de suspensão do fornecimento e o Hospital já deve 260 mil euros ao fornecedor, pelo que teve de recorrer ao empréstimo do Amadora-Sintra, em número suficiente apenas para cobrir as cirurgias até ao início desta semana.



As compressas de contraste distinguem-se das restantes por serem identificáveis no fim da cirurgia, por terem uma risca visível no raio X . "Isto porque quando uma compressa toda branca está encharcada de sangue não se distingue" e aumenta o risco do cirurgião não a retirar no fim da operação, disse ao DN uma fonte hospitalar.



"Sei que vários serviços estiveram à beira de não poder realizar operações, e por isso esse empréstimo [do Amadora-Sintra] foi quase uma bolha de oxigénio que permitiu ao Garcia de Orta aguentar até sexta-feira", acrescentou a mesma fonte. De acordo com o DN, só na sexta-feira se conseguiu renegociar com o fornecedor o envio de uma pequena quantidade destas compressas. "É com esta pequena quantidade que nos foi enviada que nos estamos a governar; é um sufoco", prosseguiu a mesma fonte.



Os cortes na despesa com os hospitais públicos levam ainda à falta de outro material essencial para proteger a saúde de utentes e profissionais hospitalares. É o caso do desinfetante para as arrastadeiras que também tem faltado no Garcia da Orta. Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros, confirma esta situação e diz que ela está a pôr em risco a saúde de todos os utentes, mas a administração diz desconhecer a situação.



A falta de material nos hospitais provocou este fim de semana o caos nas urgências do hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro. A grande afluência registada sobretudo por causa das doenças respiratórias afetou as urgências de todo o país e obrigou a transferência para o Garcia da Orta e para o São Bernardo, em Setúbal. O aumento do tempo de espera também é uma realidade, com a urgência no hospital do Barlavento, em Portimão, a registar até oito horas de espera, o dobro do tempo de atendimento na urgência do hospital D. Pedro, em Aveiro, para quem tinha pulseira laranja, segundo dados recolhidos pelo Correio da Manhã.