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Animais: as “coisas” de que não falamos

A questão que aqui se coloca é a de que posição é que devemos assumir perante estes animais. E esta é uma questão crucial na modernização ética da sociedade humana. Artigo de Mariana Pinho.

À luz da ciência, sabemos hoje que existem animais não-humanos sencientes, que sentem dor, prazer, stress, felicidade, tristeza, frio, fome e são capazes de desenvolver depressões quando são mal tratados.

No entanto, sabemos também que esses mesmos animais continuam a sofrer e a ser explorados pelas indústrias, quer seja em pseudo-espectáculos, como as touradas e os circos, em comércio, como as lojas de animais, em vestuário e acessórios (como o calçado, malas, cintos, carteiras), em experiências, que servem a indústria dos cosméticos e de todos os produtos de higiene, e para a alimentação, que tornou a produção massiva de animais para consumo uma das cinco indústrias mais poluidoras do planeta.

A questão que aqui se coloca é a de que posição é que devemos assumir perante estes animais. E esta é uma questão crucial na modernização ética da sociedade humana.

Na nossa lei, os animais são tratados como “coisas”. Isto é, são “coisas” que são propriedade de alguém e que servem os seus interesses. E se são propriedade de alguém, se são “coisas” de alguém”, nunca vão poder ter direitos, vai-lhes sempre ser negada a sua individualidade enquanto indivíduos de uma sociedade.

E é por isso que a reformulação da lei da protecção dos animais deve ser o primeiro passo nesta luta. Porque esta é uma luta que tem de ser construída gradualmente. É uma luta de mudança de mentalidades, uma luta por um mundo mais evoluído, mais justo e respeitador de princípios éticos.

E é por isso que é preciso consciencializar as pessoas, é preciso promover o debate político entre vários públicos sobre o assunto. É preciso contrariar o discurso de que há assuntos mais importantes para pensar, questões mais urgentes para resolver. Porque esse discurso geralmente vem acompanhado do desinteresse, do conformismo e da renúncia à construção social, acrescido da negação em reconhecer aos animais capacidades de sentir e de sofrer.

Assim, é urgente fazer um apelo às pessoas para que não deixem de lutar, não deixem de acreditar que é possível, não se deixem levar pelo discurso de que “isso nunca vai mudar, nunca vai acabar”, porque nenhuma forma de protesto é fácil. Mas para isso acontecer, não pode haver uma demissão da nossa parte das nossas competências sociais e políticas. É importante reivindicarmos por aquilo em que acreditamos. É importante o nosso envolvimento em estruturas formais como movimentos, organizações, associações, porque são ferramentas úteis na organização do próprio sistema.

A forma de mudarmos esses problemas é nós fazermos da nossa existência social, uma participação social. E a mudança começa em cada um de nós, em cada escolha que tomamos nas nossas vidas.

política: 
Animais
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Neste dossier:

Direitos dos Animais

O modo de produção capitalista e a forma como provocamos sofrimento aos animais não-humanos entram em notória contradição com o conhecimento adquirido acerca da senciência de muitos animais, incluindo todos os animais vertebrados, e a consciência do nosso parentesco evolutivo com as outras espécies. Dossier organizado por Mariana Carneiro.

Debate Direitos dos Animais

Este sábado, o Bloco de Esquerda organizou um debate sobre Direitos dos Animais, que contou com a participação da deputada do Bloco Catarina Martins, o biólogo Hugo Evangelista e o ativista dos direitos dos animais Ricardo Sequeiros Coelho. Após o debate esquerda.net recolheu o testemunho dos três oradores. Ver vídeo.

Cábula para o especialista instantâneo em direitos dos animais

Os preconceitos alastram ao sabor do zeitgeist e uma vez estabelecidos, passam a fazer parte do senso comum e deixam de ser questionados. Neste artigo, Cristina DʼEça Leal e Pedro Ribeiro procuram desmontar algumas dessas “ideias feitas”.

Todos diferentes, todos animais

Somos todos diferentes e o problema não é reconhecer e admitir a diferença, mas sim hierarquizar os outros com base nessa diferença. A inteligência é a capacidade de resolver novos problemas e isso não é exclusivo dos humanos. Artigo de Cristina D'Eça Leal.

Animais: as “coisas” de que não falamos

A questão que aqui se coloca é a de que posição é que devemos assumir perante estes animais. E esta é uma questão crucial na modernização ética da sociedade humana. Artigo de Mariana Pinho.

Uma nova geração que defende os animais

Enquanto vivermos da exploração dos animais nem eles nem nós, humanos, seremos livres. Artigo de Hugo Evangelista.

Direitos dos animais, uma causa da esquerda

A evolução humana prende-se com a evolução da forma como tratamos o outro. Aquele sobre o qual temos poder. A nossa evolução prende-se com o repensar a nossa posição no mundo, na vida, e na nossa posição em relação ao outro que tocamos com a nossa existência. Artigo de Luísa Ferreira Bastos e Ricardo Sequeiros Coelho.

Não é a falar que a gente se entende

O debate que costuma acompanhar a questão do papel da tauromaquia na sociedade portuguesa actual é inevitável e, em boa medida, apaixonante: envolve e empolga os participantes, suscita posições vincadas e raramente deixa as pessoas indiferentes. Artigo de Pedro Ribeiro.

Esterilização e Eutanásia

Defender a Esterilização e em alguns casos até a Eutanásia são posições que geram sempre alguma surpresa quando vindas de quem assume defender os direitos e a protecção animal. Artigo de Cassilda Pascoal.

Circos com animais: The Saddest Show on Earth

O bonito e luminoso espectáculo que pode ser um circo com animais, onde estes parecem felizes e contentes, a saltarem e dançarem, é na verdade a fachada de um campo de tortura e escravatura animal. Artigo de Cassilda Pascoal.

O Conflito Estudantil da Garraiada Académica

Na garraiada académica nega-se o direito inegável de se sentir, superioriza-se uma existência face a outra, na mesma premissa em que assentou a escravatura no Império Português até 1878. Artigo de Irina Castro.

Será o Vegetarianismo um ato político?

Desde sempre a alimentação tem sido o reflexo das culturas dos países, cidades ou comunidades onde a humanidade reside. Por todo o planeta, assistimos a uma diversidade imensa de pratos e sabores que enriquecem os povos ou os demarcam do resto do mundo. Artigo de João Pedro Santos.

Direitos dos Animais: O que deve a esquerda propor?

Na minha perspetiva, importa que a Esquerda continue a manter os temas dos Direitos dos Animais na agenda parlamentar e no debate público. Texto de Manuel Eduardo dos Santos