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A carreira de desempregado(a)

Perante a hecatombe provocada pelas estatísticas o governo decidiu um conjunto de medidas tão patéticas que até o presidente do IEFP, recentemente nomeado pelo governo, já veio a público duvidar da sua eficácia.

Os números são alarmantes: o desemprego sobe em flecha. O desemprego registado chega aos 14%, sabendo-se, garantidamente, que peca por defeito. O desemprego jovem ultrapassou os 35% (35,4%) e o desemprego de ambos os membros de um casal aumentou 65,5% entre Janeiro de 2011 e Janeiro deste ano.

Este é o quadro cruel de um país em recessão, esmagado pelas políticas de austeridade.

Mais de um milhão de desempregados e desempregadas, famílias inteiras atingidas. Todos os dias surgem as notícias sobre o encerramento de empresas, aumentam as situações de salários em atraso e o medo de perder o emprego está estampado nos rostos das pessoas.

A tudo isto somam-se as medidas previstas para a administração pública que trazem consigo mais desemprego e encerramento dos serviços públicos.

Esta é a fratura social que o país enfrenta e que se traduz em maior empobrecimento, com o consequente afastamento de famílias inteiras de bens essenciais como é a saúde ou a educação.

O desemprego não atinge só o trabalhador ou trabalhadora que ficou sem o seu posto de trabalho, atinge todos os que o rodeiam e cria uma espiral depressiva que afasta as pessoas da vida em sociedade, que afasta os mais jovens do direito à educação, que agudiza os problemas dos idosos, que empurra as mulheres para as tarefas domésticas.

Já não é possível ignorar esta situação e todas as suas consequências. Há famílias a entregar as casas porque as não conseguem pagar, pessoas a passar fome, crianças que vão para a escola sem nada no estômago.

Perante a hecatombe provocada pelas estatísticas o governo decidiu um conjunto de medidas a que chamou Programa de Relançamento do Serviço Público de Emprego. Analisando o que foi divulgado, duas contradições saltam à vista.

A primeira contradição a assinalar é o facto de, perante uma subida tão acelerada do desemprego, não existirem medidas de apoio social a quem fica sem trabalho. É aqui que as chamadas “almofadas sociais” são necessárias. Mas nesse aspeto, nada, absolutamente nada, a não ser a medida que já era conhecida da possibilidade de acumular salário com subsídio de desemprego, durante um período que ainda não é conhecido, quando o salário for inferior ao subsídio. Seria bom que o governo esclarecesse com números o que isso significa, para ficarmos a saber se não será mais uma medida que tem como resultado trabalhar por uns escassos euros, o que na prática resulta em baixar ainda mais os salários.

A segunda contradição é o facto de o governo anunciar um Programa para o Relançamento do Serviço Público de Emprego e depois anunciar que vai financiar as empresas de trabalho temporário, que como sabemos são as autênticas praças de jorna da atualidade.

Em vez de investir nos Centros de Emprego, em recursos humanos e meios, para que possam ter uma política ativa de captação e gestão das ofertas e também na sua capacidade em oferecer os meios para que as pessoas desenvolvam a procura de emprego (sim, porque procurar emprego também tem custos e não são poucos) vai subsidiar as empresas que já ganham muito dinheiro com a exploração a que milhares de pessoas estão sujeitas. É a lógica ruinosa das Parcerias Público Privadas, agora aplicada, sem pudor, até no desemprego.

Por último, a “novidade” requentada: cada desempregado vai ter um gestor de carreira. Um nome pomposo, para uma coisa que não se sabe exatamente o que é, nem como vai ser possível acompanhar um milhão de pessoas, sempre a aumentar todos os dias, com os meios hoje existentes. Basta passar por um Centro de Emprego nas áreas metropolitanas para se perceber a capacidade instalada para responder às solicitações.

As medidas são tão patéticas que até o presidente do IEFP, recentemente nomeado pelo governo, já veio a público duvidar da sua eficácia.

Assim não vamos lá, e o Governo sabe bem que não. A solução para criar emprego prende-se com outras medidas de estímulo à economia, onde o investimento público tem um papel dinamizador e são incompatíveis com o remédio da troika que seca tudo à sua volta.

Desemprego não é carreira, é desgraça.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Vereadora da Câmara de Torres Novas. Animadora social.
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