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Primavera valenciana

Quase um ano depois do 15-M, a violenta carga policial sobre os estudantes de Valência foi o detonador da resistência à austeridade repressiva do Partido Popular.

Ao justificar a ação brutal dos agentes policiais nas concentrações de estudantes contra os cortes no Ensino e a degradação das escolas, o chefe da polícia da Comunidade Valenciana referiu-se aos liceais como "o inimigo". Era difícil ao Governo arranjar pior relações públicas, depois das imagens captadas pelos telemóveis dos adolescentes e postas a circular no youtube terem chocado milhões de pessoas na internet. Não só pela violência usada pela polícia de choque contra os jovens desarmados, mas também por a mesma polícia ter sido depois apanhada à porta dos hospitais a roubar das mãos dos estudantes o registo hospitalar dos ferimentos.

O que queriam os estudantes em luta? Simplesmente que numa região onde há milhões para corridas de Fórmula 1 ou para regatas internacionais, houvesse a mesma disponibilidade para arranjar o aquecimento das salas de aulas. O Governo Regional está a dever 60 milhões de euros às escolas e cortou 150 milhões à escola pública no verão passado e mais 105 milhões na semana passada. Muitas escolas anunciam ter chegado ao colapso e correm o risco de encerrar a meio do ano letivo. Enquanto corta no essencial e esbanja no foguetório, o Governo afunda-se em escândalos de corrupção envolvendo empresários e dirigentes do PP, o que alimenta ainda mais a revolta.

A fantástica resposta social desta terça-feira aos acontecimentos da véspera (120 mil pessoas em Valencia e 60 mil em Alicante, segundo a Plataforma en Defensa de l'Ensenyament Públic, que convocou o protesto) foi para além da Comunidade Valenciana e juntou milhares em Barcelona, Madrid e Sevilha contra o uso da repressão policial para impor medidas de austeridade que não servem os interesses das pessoas.

A tentativa de criminalização das manifestações contra o programa dos governos da troika não é uma novidade no estado espanhol nem em Portugal, como vimos na manifestação da greve geral de novembro. E lá como cá, as televisões só passaram as imagens brutais da violência policial depois de terem somado dezenas de milhares de visitas na internet.  A diferença é que em Valência foram os próprios trabalhadores - em concreto os do Canal 9 e da Rádio 9 - que denunciaram a ocultação das imagens da brutalidade policial e dos motivos do protesto estudantil.

"Somos o povo, não o inimigo" é o lema da manifestação que pede agora a demissão do chefe da polícia e da delegada do Governo, que tentaram disfarçar o estado de sítio que na prática está a ser imposto aos estudantes, perseguidos onde quer que se manifestem desde o início de fevereiro. Nas manifestações, os estudantes mostram a sua razão e erguem livros frente aos bastões policiais. A "Primavera Valenciana" merece toda a solidariedade por parte de quem resiste aos governos da troika.

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