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Os números escondidos da "ajuda" da troika

Só em juros e comissões, o país vai pagar mais de 35 mil milhões, quase metade do valor do empréstimo. E há 12 mil milhões que vão diretamente para a recapitalização da banca, poupando os seus acionistas a arriscar mais capital. Se lhe somarmos a transferência dos seus fundos de pensões para o Estado, a operação resulta num 'duplo jackpot' para os banqueiros, à custa dos sacrifícios dos trabalhadores.
Só e juros e comissões, o FMI, BCE e UE vão sugar ao país quase metade do dinheiro emprestado.

Segundo informou o Ministério das Finanças, o empréstimo da troika vai custar 34,4 mil milhões de euros só em juros. O dinheiro que vem do Fundo Europeu de Estabilização Financeira tem uma maturidade (duração) média de 12 anos, a uma taxa de juro média de 4%. Já o do FMI fica mais caro (5% de taxa de juro média) e vence em média daqui a sete anos e três meses.

Mas para além dos juros também há comissões a pagar pelo negócio, uma parcela das contas que sempre foi omitida do conhecimento público até outubro. Até 2013, o país vai entregar à troika 655 milhões só a título de comissões, um valor comparável ao do corte previsto para 2012 no setor da Educação.

Uma parcela do empréstimo que o Governo se comprometeu a pagar ao longo da década com estes juros é à partida destinada aos bancos. Os seus acionistas ficam assim dispensados de reforçar o capital, recorrendo aos dividendos fabulosos que receberam ao longo dos anos, e o primeiro-ministro já avisou que a presença do Estado na administração dos bancos que recorrerem aos 12 mil milhões da troika será "silenciosa". Ou seja, o Estado entra com o capital, mas abdica de ter uma palavra a dizer sobre a gestão do banco.

Com o argumento de abatar o défice, Passos Coelho concretizou a passagem dos fundos de pensões dos bancos para o Estado, uma velha pretensão dos banqueiros que é feita em condições que mais uma vez os favorecem só a eles. Este foi o maior negócio de transferência de fundos de pensões no país, avaliado em 6 mil milhões de euros, e foi intermediado por uma empresa do grupo de um dos principais beneficiados, o Banco Espírito Santo Investimento. Na prática, cerca de um terço deste valor irá regressar aos cofres dos bancos e a banca irá beneficiar de deduções fiscais nos próximos 20 anos enquanto o conjunto do país paga mais em sacrifícios nos salários e impostos.

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Neste dossier:

O País em 2011

Este foi um ano marcado pela crise económica e política, com o país a ser entregue às mãos dos credores. À custa de cortes salariais e do desmantelamento dos serviços públicos, é o rendimento dos trabalhadores que se transfere para a banca do centro da Europa. Portugal não vai ter saudades de 2011. Dossier coordenado por Luís Branco.
 

O assalto da troika aos trabalhadores

O Governo de Passos Coelho assumiu que a sua receita é empobrecer o país e sacrificá-lo à troika na maior recessão desde 1975. As medidas subscritas pelo PSD, CDS e PS cortam salários, pensões e serviços públicos e aumentam o desemprego e a emigração.

O País em 2011: "País à rasca" saiu à rua

Mais de 300 mil pessoas juntaram-se num protesto inédito nas capitais de distrito, convocado nas redes sociais em nome da democracia e contra a precariedade que atinge boa parte dos trabalhadores jovens. A iniciativa teve sequência meses depois no protesto do 15 de outubro e numa iniciativa legislativa popular a apresentar no parlamento no início de 2012.

Direita junta maioria, governo e presidente

O velho sonho de Sá Carneiro foi concretizado, mas não da forma que o fundador do PSD imaginava. A direita gere o país como um protetorado e cumpre as ordens emanadas por Berlim e Bruxelas: mergulhar a economia na recessão e transferir a riqueza para os credores da banca europeia.

Greve geral mobilizou sociedade contra a austeridade

As medidas de austeridade no Orçamento de Estado para 2012 motivaram a convocatória de uma greve geral conjunta da CGTP e UGT, considerada a maior de sempre e que pela primeira vez contou com uma grande manifestação em Lisboa. Para a história fica também a intervenção policial, que reprimiu os piquetes de greve e infiltrou agentes provocadores na manifestação.

Os números escondidos da "ajuda" da troika

Só em juros e comissões, o país vai pagar mais de 35 mil milhões, quase metade do valor do empréstimo. E há 12 mil milhões que vão diretamente para a recapitalização da banca, poupando os seus acionistas a arriscar mais capital. Se lhe somarmos a transferência dos seus fundos de pensões para o Estado, a operação resulta num 'duplo jackpot' para os banqueiros, à custa dos sacrifícios dos trabalhadores.

Última maioria absoluta de Jardim teve sabor a derrota

Pela primeira vez desde o 25 de abril, o PSD/Madeira não conquistou os votos da maioria dos madeirenses. Depois duma campanha marcada pela descoberta da dimensão do buraco das contas da Região, Jardim conservou por escassa margem a maioria absoluta no parlamento.

Aumenta a repressão aos movimentos sociais

A violência policial em Portugal continuou a fazer manchetes em 2011 e pela primeira vez foi desmascarada a utilização de agentes provocadores em manifestações por parte da PSP, no dia da greve geral.

Governo aconselha jovens e professores a sair do país

Numa entrevista dada em dezembro, o primeiro ministro avisou os jovens que as suas pensões de reforma vão valer metade do que valem hoje e aconselhou os professores desempregados a emigrar para Brasil ou Angola.

Falsos recibos verdes em luta contra cobrança indevida

Depois de recolherem 12 mil assinaturas numa petição a contestar a cobrança de dívidas da segurança social que deviam ter sido pagas pelos patrões, os movimentos de precários não pouparam o ministro Pedro Mota Soares, que ameaçou os precários de prisão penhoras e pô-los a pagar num escalão acima do que seria devido.

Convenção de Lisboa lança Auditoria Cidadã à Dívida Pública

Cerca de 700 pessoas responderam no dia 17 de dezembro ao apelo para dar início ao trabalho de auditoria cidadã da dívida portuguesa. O objetivo é separar o trigo do joio e identificar os abusos que têm sido cometidos contra os interesses dos contribuintes para alimentar negócios milionários em proveito da banca e das empresas privadas.