Aumenta a repressão aos movimentos sociais

A violência policial em Portugal continuou a fazer manchetes em 2011 e pela primeira vez foi desmascarada a utilização de agentes provocadores em manifestações por parte da PSP, no dia da greve geral.

29 de December 2011 - 11:59
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A ação da polícia contra os movimentos sociais já tinha ficado evidente nos últimos meses de 2010, por altura da cimeira da NATO em Lisboa. Várias notícias colocadas nos media por fontes próximas da PSP denunciavam a presença de "perigosos extremistas" estrangeiros que estariam a ensinar aos portugueses técnicas de "guerrilha urbana" para usar durante a cimeira.



Este clima criado pela polícia e por vários órgãos de comunicação social procurava desmobilizar o protesto e incutir o medo  à população, quando na verdade não passava de uma invenção para tentar criminalizar o movimento. Durante a manifestação contra a NATO, um cordão da polícia de intervenção cercou um grupo de poucas centenas de manifestantes, onde se encontravam muitos idosos e crianças, não os deixando abandonar o cortejo e circular livremente pela avenida da Liberdade. Numa ação simbólica no Parque das Nações, as dezenas de ativistas que se sentaram no chão pintados de vermelho foram todos detidos, mas cinco meses depois o Ministério Público decidiu arquivar todas as queixas.



Em janeiro, um grupo de dirigentes sindicais que protestavam junto à residência oficial de José Sócrates também foram agredidos e detidos pela PSP, quando foram impedidos de descer a rua no fim do protesto, como habitualmente acontece.



Nas comemorações do 25 de abril em Setúbal, um grupo que organizara uma manifestação anticapitalista separada do cortejo organizado pela CGTP preparava-se para terminá-la com um piquenique de convívio no Largo da Fonte Nova quando a polícia irrompeu disparando balas de borracha e tiros para o ar, fazendo um ferido.



Em junho, acontece nova carga policial contra um grupo de ativistas da Acampada do Rossio, quando preparavam mais uma assembleia popular naquela praça de Lisboa. Dois jovens foram detidos e uma magistrada, que passava no local do incidente e foi ouvida como testemunha, arrasou em tribunal a atuação policial, revelando ter sido ela própria agredida pelos agentes quando se identificou como magistrada e pediu explicações sobre o sucedido. Na sequência deste depoimento, o Ministério Público acabou por pedir a absolvição dos jovens.



Apesar da evidente falta de provas que sustentassem a tese dos "perigosos anarquistas" difundida nos media pela mão das fontes policiais nas semanas antes de grandes manifestações, o impacto das medidas de austeridade na vida das pessoas e o provável crescimento da revolta social deu o mote para novos episódios dessa narrativa. Quer antes da manifestação do 15 de outubro quer nas vésperas da greve geral, as mesmas "notícias" do receio da polícia face a prováveis desacatos regressaram com grande destaque aos media.



Mas os únicos incidentes registaram-se no dia da greve geral - a começar na intervenção policial contra os piquetes de greve - e apesar de todos os telejornais terem dado destaque aos "manifestantes violentos", a realidade veio desmentir essas notícias.



Graças aos vídeos e fotos tiradas por telemóveis e às imagens das televisões, foi possível apurar a presença de alguns indivíduos a derrubar grades e injuriar agentes do Corpo de Intervenção que minutos depois estavam a prender manifestantes. Um vídeo filmado por um manifestante testemunhou a bárbara agressão de um agente à paisana a um jovem imobilizado no chão por outros agentes. A RTP tinha imagens melhores desse incidente, mas só as revelou dias depois quando o vídeo de telemóvel já tinha dezenas de milhar de visualizações no youtube e era partilhado nas redes sociais para desmontar as mentiras da polícia e dos media.



A relação perigosa da hierarquia da PSP com alguns jornalistas ficou evidente quando foi revelado pelo subdiretor do Correio da Manhã um email enviado por Paulo Flor, relações públicas da PSP, a jornalistas que apelidava de "amigos de jornada", apelando a que aumentassem o alarme social e o sensacionalismo nas notícias da detenção de suspeitos por carjacking, de forma a obrigar com essa pressão o juiz a aplicar-lhes as medidas de coação mais graves.



Para além da violência contra movimentos sociais, a polícia destacou-se novamente este ano pela intervenção violenta contra bairros sociais. Uma delas aconteceu na Arrentela em fevereiro, com a detenção violenta de um jovem de 17 anos à saída de um jogo de futebol júnior, que foi hospitalizado após o espancamento. Os moradores do bairro da Boa Hora não conseguiram conter a revolta por mais este episódio violento por parte da polícia e durante dois dias houve incidentes, com um automóvel e um autocarro dos TST incendiados.

Dias depois teria início o julgamento do agente que alvejou mortalmente o rapper Mc Snake durante uma perseguição policial após uma rotineira operação stop a 15 de março de 2010. No julgamento ficou provado que Nuno Manaças não chegara a desobedecer à operação stop, mas o agente que disparou acabou condenado a 20 meses de prisão com pena suspensa.

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