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E, se em 5 segundos, a tua casa fosse abaixo?

Porque é que as “torres” do Aleixo vêm abaixo? Porque estão num local privilegiado, uma zona de eleição da cidade Invicta, que não pode pertencer aos pobres.

Este ano de 2011 ficará na nossa História como o ano do ajuste de contas com o 25 de Abril. Para além das medidas de austeridade que levam um povo à pobreza e um país a retroceder décadas em direitos e desenvolvimento, as chamadas “reformas” dirigidas ao mundo do trabalho visam instituir e consagrar o trabalho sem direitos como regra.

Mesmo a chegar ao fim do ano assistimos à implosão de uma “Torre” no bairro do Aleixo, no Porto. Esta poderá vir a ser a imagem que fecha o ano do maior ataque aos pobres. Das muitas fotografias divulgadas, há uma, que me chamou particularmente a atenção. A fotografia que apresenta Rui Rio, num barco no Douro, servindo-se de um aperitivo (?), para assistir ao “espectáculo”. Suficientemente longe do pó, dos destroços, das lágrimas e da revolta dos moradores. É a imagem da insensibilidade social.

Porque é que as “torres” do Aleixo vêm abaixo? Porque estão num local privilegiado, uma zona de eleição da cidade Invicta, que não pode pertencer aos pobres.

Construído logo após o 25 de Abril, este “bairro social”, como muitos outros, foi mal planeado e correspondeu a uma política habitacional errada, dimensionada em altura, sem atender a todos os outros factores que são decisivos para o bom enquadramento de uma população.

Durante anos e anos, a manutenção foi diminuta ou inexistente. Pouco importava como viviam as populações. Investimento não valia a pena, já tinham as casas, que mais poderiam ambicionar?

Tornou-se num grande “supermercado de droga” e era preciso colocar um fim à criminalidade. Mas optou-se por criminalizar e punir toda a população. A solução encontrada é destruir o bairro e espalhar as famílias por vários locais. Não importa que tenham ali as suas raízes, as redes familiares e de vizinhança, o terreno é preciso para outros fins. E até sabemos o que vai acontecer, vai ali nascer outro “bairro” a que chamam de “condomínio” e alguém vai fazer um bom negócio.

Se, realmente, o interesse fosse acabar com o “supermercado da droga”, implodir uma construção anti-social e começar de novo, de raiz, aquele espaço ficaria para as famílias que sempre lá viveram e com um espaço público para que toda a gente desfrutasse da “zona de eleição”.

Mas não, ninguém foi ouvido, os moradores não participaram. Os moradores são expulsos, pura e simplesmente.

Houvesse coragem para implodir a pobreza e não assistíamos a esta situação. Mas os negócios falam mais alto. Rui Rio pode proteger-se do pó e ficar longe do entulho da Torre 5, mas colou-se à sua pele a desumanidade em forma de política.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Vereadora da Câmara de Torres Novas. Animadora social.
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