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Onde param os outros?

O eixo franco-alemão voltou agora para dominar a Europa, destruindo o projeto europeu.

A última vez que tinha ouvido falar do eixo franco-alemão tinha sido em 2002/2003, quando estes dois países decidiram não apoiar a invasão do Iraque pelos EUA e aliados. Infelizmente, desta vez com novos líderes, o eixo voltou agora para dominar a Europa, destruindo o projeto europeu. O papel da Alemanha na Europa tornou-se já uma fábula ridícula e ridicularizante, em que o interesse de um só país atira um conjunto de outros países para a sarjeta. Em quase 30 anos de Portugal na União Europeia, espero não me enganar ao dizer que esta é a primeira vez que a Europa faz-nos mal. E pior, não é bem a Europa… é mais um país!

A Alemanha decidiu, com a muleta de Sarkozy, que há um conjunto de países do sul que têm que empobrecer, cujas populações têm que ser atiradas para o desemprego, a precariedade, os salários baixos, países que têm de destruir os seus bens públicos, acabar com os sistemas públicos de saúde e de segurança social. A Alemanha decidiu fazer mal ao sul da Europa, porque esse mal faz bem aos bancos privados Alemães.

Mas a Alemanha não o faz sozinha. Fá-lo com o apoio dos tecnocratas e dos governos de direita desses países do sul e fá-lo com o apoio do Banco Central Europeu. O BCE, face à calamidade, tinha e tem ainda a escolha de salvar a zona euro do colapso inevitável. Durante estes últimos meses, todos os dias foram oportunidades desperdiçadas de equilibrar o euro. Para isso bastava o BCE comprar títulos de dívida soberana dos países em rota de destruição, substituir títulos nacionais por eurobonds e emitir moeda. Complicado? Nem por isso, a própria Reserva Federal Norte-Americana emite moeda sempre que necessário para equilibrar o dólar. Mas o BCE continua a optar por não o fazer – no fundo o BCE prefere manter a liquidez dos bancos Alemães a salvar o euro.

E no meio de tudo isto pergunto: o que se passa no resto da Europa? Onde param a Holanda, a Finlândia, a Bélgica, a Áustria, a Republica Checa e tantos outros países que não estando do lado do dominador nem em colapso junto com os do sul, parecem mudos e calados perante a eminência da destruição da União Europeia? Como podemos saber o que pensam estes países perante a guerra aberta que assola a Europa? Já de fora da zona Euro ouvimos David Cameron sugerir a intervenção do BCE e mais recentemente a recusar-se a assinar um novo tratado que reforce os poderes dos países do diretório, mas e os restantes da zona euro? Nada têm a dizer? Ser-lhe-ás indiferente que continue a existir euro ou que voltem à sua antiga moeda nacional? Onde para o resto da Europa?

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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