You are here

Onde fica o interior?

O governo mostrou o mais completo desdém pelo espírito de coesão e solidariedade nacional e decidiu atirar o interior do país para o abismo.

A receita indicou o encerramento das linhas de caminho-de-ferro, à revelia dos protestos da vizinha Espanha; portagens na A23, quando temos acessibilidades rodoviárias grotescas; populações idosas mais isoladas, sem assistência; o fecho de serviços públicos e as Juntas de Freguesias também na mira do encerramento. Este cardápio de crueldades contra o Alto Alentejo, à imagem do restante interior parecia ser a fórmula para abater o interior onde a pobreza ataca em silêncio. Contudo, o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas mostrou o mais completo desdém pelo espírito de coesão e solidariedade nacional e decidiu atirar o interior do país para o abismo, com a passividade de António José Seguro que demonstrou não fazer oposição.

Com o orçamento de Estado para 2012, o Governo eliminou todas as taxas reduzidas e incentivos aplicados às empresas do interior. É mais uma medida desacertada, onde até o parecer do Concelho Económico e Social, sustentou que tal medida não traduz qualquer ajuda à crise económica. Já são evidentes as dificuldades das empresas que sentem mais de perto a concorrência com a vizinha Espanha, onde os custos de energia e combustíveis são mais baixos e as demais diferenças resultantes da taxa do IVA, assimétricas. Desta forma, todos sabemos, não se dinamiza a economia. Além de não se captarem investimentos, os poucos que temos podem vir a fechar ou a deslocalizar-se. Ao mesmo tempo que liquidam o interior, estão a condenar as empresas que já têm dificuldades por se situarem nesta região.

O preço da interioridade é uma realidade admitida por todos e é voz emproada nos discursos eleitorais ou visitas presidenciais, mas a realidade resume-se à demagogia permitindo o abandono irresponsável das populações.

A sustentabilidade, o equilíbrio do país e a vida das pessoas estão em causa e é fundamental que todos sem exceção lutem contra o interioricídio.

O Alto Alentejo é, cada vez mais, um imenso feudo esquecido, aglutinado por oportunistas. Se não lutarmos, daqui por uns anos ouviremos perguntar, onde fica o interior?

Sobre o/a autor(a)

Analista. Membro do Bloco de Esquerda.
Comentários (2)