You are here

“Este rapaz não vai dar nadinha”

O PS viabilizará um desastre para o país acenando com alguma medida resgatada por entre os escombros. Uma estratégia tão oportunista como míope.

António José Seguro deixou o país suspenso durante semanas enquanto agonizava em dúvidas e hesitações sobre o orçamento mais à direita da história da democracia portuguesa. No final de tanta angústia, o General saiu decidido do seu labirinto e anunciou: abstemo-nos. Mas temos condições. E se essas condições não forem cumpridas… abstemo-nos à mesma.

O PS subscreveu o memorando da Troika e continua a tentar convencer os portugueses de que se o PEC IV tivesse sido aprovado, estaríamos salvos. Mas mesmo para quem ainda se consegue manter nesta posição quando as consequências da austeridade devastam a Europa, a viabilização do orçamento é incompreensível. O PS fez a sua campanha em torno da austeridade “soft” em que o Estado Social, os direitos de trabalho seriam protegidos. Serão protegidos agora?

A aposta de António José Seguro é evidente: no meio da tragédia, conseguir qualquer coisa que possa apresentar aos portugueses como a conquista do PS e, com isso, fazer prova da sua relevância e ganhar capital político. E se conseguir alguma coisa, essa estratégia será bem sucedida. No curto prazo, bem entendido. O PS viabilizará um desastre para o país acenando com alguma medida resgatada por entre os escombros. Uma estratégia tão oportunista como míope.

Tudo isto são más notícias para toda a esquerda. É hoje muito claro que esta política (e não apenas este Governo) só poderá ser derrotada com uma enorme mobilização popular. Um PS colado à Direita mais fanática que este país já conheceu até pode abrir espaço para que outros possam crescer à sua esquerda. Mas fragiliza toda a esquerda social e política naquela que é provavelmente a mais importante luta que tem pela frente desde há muitas décadas.

É por isso que quem quer ser “violento” contra esta política, tem um caminho simples. Rejeitá-la, no Parlamento e na rua. Nem precisa de ser uma “rejeição violenta”. Basta que seja coerente e consequente. Mas esta pode ser uma exigência excessiva para quem a coerência é uma batata e a palavra dada um verbo de encher.

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputado e economista.
(...)