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Our son of a bitch

Só o imperialismo pode aplaudir o linchamento de Kadhafi.

De Barack Obama a Durão Barroso e Van Rompuy, passando pelas várias lideranças dos estados europeus, todos saúdam o assassinato do ditador Khadafi como o fim de uma era de despotismo e repressão. Hoje armam-se em pro-revolucionários árabes, ontem armavam os ditadores cuja morte aplaudem.

É a velha política externa realista de tradição norte-americana… mudam-se os ditadores, mantêm-se os interesses. “He may be a son of a bitch but he’s our son of a bitch” teria dito Roosevelt quando questionado sobre o apoio ao Somoza da Nicarágua ou ao Trujillo da República Dominicana. O verdadeiro destinatário da delicadeza não se sabe ao certo mas o que importa é que podia ter sido um qualquer ditador ou terrorista dos muitos que o realismo externo norte-americano tomou como aliados ao longo de várias décadas e de diferentes presidências.

Armas, financiamento, formação militar, cumplicidade política mais ou menos oculta, protecção, propaganda… nada faltou aos son of a bitch.

Mas o imperialismo é uma coisa tramada e a defesa dos interesses económicos, militares e geo-estratégicos de vez em quando obriga a reclassificações de estatuto, sobretudo quando as armas tão gentilmente fornecidas não chegam para calar o povo que se revolta. Voltemos ao caso Líbio: classificado pela NATO como terrorista, com base em informações de Kadhafi, capturado pela CIA e entregue ao regime líbio, torturado pelos serviços secretos britânicos... Agora, o líder rebelde Belhadj é comandante militar de Trípoli e chamam-lhe "aliado".

São estas as reviravoltas em que as intervenções militares servem para condicionar as revoluções desencadeadas pelo povo (é preciso escolher o próximo son of a bitch)... Só o imperialismo pode aplaudir o linchamento. Se justiça e o direito internacional não foram critério na hora da intervenção militar, também não o serão nunca para nada.

Adoptar o critério da justiça internacional seria determinar a solidariedade entre os povos e a igualdade entre Estados como princípios fundamentais da política externa. Mas enquanto a nossa política externa for determinada pela NATO, resta-nos a luta anti-imperialista e a expectativa sobre qual será o próximo son of a bich a cair pelas mãos do povo: o da Arábia Saudita, o de Angola…

Sobre o/a autor(a)

Deputada e dirigente do Bloco de Esquerda, licenciada em relações internacionais.
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