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Cronologia de dez anos de guerra

Os principais acontecimentos de uma guerra que os Estados Unidos não conseguiram vencer.
Tropas dos EUA no Afeganistão: opinião pública americana é agora maioritariamente contra a guerra. Foto de The US Army

2001

11 de Setembro: Dois aviões de passageiros chocam-se com os edifícios do World Trade Center em Nova York, provocando o seu desmoronamento. Um terceiro avião despenha-se sobre o edifício do Pentágono e um quarto cai em Somerset Country, no estado da Pensilvânia. Osama Bin Laden, líder da rede Al Qaeda, é apontado como o principal responsável pelos atentados.

12 de Setembro: - O presidente George W. Bush declara que os atentados nas torres gémeas não foram apenas terrorismo, foram actos de guerra.

13 de Setembro: Osama bin Laden é apontado com o principal responsável pelos atentados.

15 de Setembro: "Estamos em guerra", diz Bush, afirmando que o conflito "não será curto", nem fácil.

16 de Setembro: O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, declara "guerra ao terrorismo", entrando numa maratona diplomática para reunir consenso em torno de uma intervenção militar no Afeganistão.

19 de Setembro: Termina o prazo para a entrega de Bin Laden pelos taliban. Centenas de aviões de guerra norte-americanos começam a dirigir-se para bases estrangeiras no Médio Oriente e Ásia Central. A operação é chamada "Justiça Infinita".

21 de Setembro: "Ou estão do nosso lado, ou estão do lado dos terroristas”, diz Bush.

Na presidência há menos de um ano, a popularidade do presidente sobe para níveis históricos (90 por cento).

3 de Outubro: A NATO activa, pela primeira vez em 52 anos, a cláusula de defesa mútua prevista no tratado fundador, adoptando oito medidas para ajudar os EUA.

7 de Outubro: Começa o ataque ao Afeganistão. A operação "Liberdade Duradoura" envolve inicialmente o recurso a 40 aviões, 50 mísseis Tomahawk e forças terrestres.

Depois de várias explosões, Bush confirma o início dos ataques e anuncia a participação da Grã-Bretanha na operação. Bin Laden promete aos Estados Unidos que "nunca conhecerão a segurança enquanto a Palestina não tiver segurança" e conclama todos os muçulmanos à guerra santa, a Jihad. França e Canadá juntam-se aos EUA, enquanto o Irão e o Iraque condenam os ataques.

19 de Outubro: No Conselho Europeu, os líderes dos Quinze reafirmam “o mais firme apoio às operações militares” no Afeganistão.

26 de Outubro: Bush promulga uma nova lei anti-terrorismo, que dá às autoridades federais mais poder para colocar sob escuta, apreender, deter e eventualmente expulsar suspeitos de actividades terroristas.

4 de Novembro: O primeiro-ministro britânico Tony Blair reúne em Londres com sete líderes europeus com o objectivo de coordenar a estratégia para o conflito no Afeganistão.

9 de Novembro: A Aliança do Norte, oposição armada aos taliban, toma Mazar-i-Sharif, o que abre caminho à entrada de 2.000 soldados norte-americanos estacionados no Uzbequistão.

14 de Novembro:Uma resolução "unânime" da ONU prevê um governo multi-étnico interino, eleições no espaço de dois anos e uma força de segurança para o Afeganistão.

20 de Novembro: Washington oferece 25 milhões de dólares pela captura de Osama Bin Laden, e 10 milhões de dólares pela prisão do chefe taliban, o mulah Omar.

4 a 16 de Dezembro: uma ofensiva a Tora Bora, nas montanhas do leste, atinge o suposto refúgio de Bin Laden.

5 de Dezembro: Patrocinado pela ONU (Organização das Nações Unidas), o Acordo de Bonn une as facções afegãs num governo interino liderado por Hamid Karzai.

7 de Dezembro: Os EUA declaram encerrado o reinado taliban, com a captura de Kandahar.

22 de Dezembro: Entra em vigor a ISAF - Força Internacional de Assistência para Segurança (força internacional da Nato).

2002

Janeiro: Hamid Karzai, com apoio dos EUA e do ex-rei Zahir Shan, é escolhido para formar um governo interino.

Janeiro: O primeiro grupo de 20 combatentes capturados é levado para Guantánamo

2 a 18 de Março: A Operação Anaconda da coligação americana atinge as Províncias da fronteira do Paquistão, local para onde muitos dos taliban fugiram em busca de refúgio.

6 de Julho: O vice-presidente afegão Abdul Oadir é assassinado em Cabul.

2003

20 de Março: Forças americanas e britânicas, apoiadas por pequenos contingentes da Austrália, da Dinamarca e da Polónia invadem o Iraque, dando início à nova guerra.

3 de Janeiro a 12 de Abril: Grupos anti-guerra por todo o mundo organizam protestos. Calcula-se que neste período 36 milhões de pessoas em todo o mundo tomaram parte em quase 3.000 protestos contra a guerra do Iraque, sendo as manifestações de 15 de Fevereiro as maiores e mais activas.

11 de Agosto: A Nato assume o controlo do contingente internacional do Afeganistão.

2004

6 de Janeiro: A ISAF expande o seu mandato para além de Cabul.

Março:Responsáveis militares dos EUA explicam que as forças no Afeganistão vão intensificar operações próximo da fronteira com o Paquistão para procurar membros da al-Qaida, incluindo Bin Laden. A Câmara dos Representes dos EUA vota unanimemente, a 18 de março, o aumento da recompensa pela captura de Bin Laden para os 50 milhões de dólares.

16 de Setembro: Kofi Annan, Secretário Geral da ONU, diz sobre a invasão do Iraque: "Indiquei que não foi em conformidade com a Carta das Nações Unidas. Do nosso ponto de vista, do ponto de vista da Carta, [a invasão do Iraque] foi ilegal".

9 de Outubro: Karzai vence a eleição presidencial com 55% dos votos no primeiro turno, mas opositores acusam-no de fraude.

2 de Novembro: George W. Bush é reeleito presidente dos Estados Unidos na primeira eleição desde 1998 em que o vencedor teve mais de 50 por cento dos votos.

2005

23 de Junho: Forças afegãs e americanas fazem uma grande operação no chamado Triângulo Negro do sul do país que deixa mais de 130 mortos.

28 de Junho: No pior ataque isolado às forças dos EUA no Afeganistão, 16 soldados americanos das forças especiais são mortos quando o helicóptero MH-47 Chinook onde estavam é derrubado por rebeldes; três fuzileiros americanos também morrem no mesmo dia em apoio à missão no Afeganistão. O ano de 2005 foi o pior para o exército norte-americano em termos de baixas desde a chegada ao Afeganistão.

18 de Setembro: O Afeganistão realiza as suas primeiras eleições legislativas e provinciais depois de 2001.

19 de Dezembro: O novo Parlamento faz a sua primeira reunião.

2006

Maio: A coligação internacional realiza a ofensiva Mountain Thrust no sul do país. Em seis semanas, cerca de mil taliban são mortos, segundo fonte militar.

2 a 17 de Setembro: A Operação Medusa na Província de Kandahar deixa mais de mil taliban mortos, segundo a Nato, que perde cerca de 20 soldados.

2007

27 de Fevereiro: Atentado suicida em frente à base americana de Bagram (norte de Cabul), durante visita do então vice-presidente americano Dick Cheney, deixa 24 mortos.

Agosto: A produção de ópio atingiu um nível recorde, de acordo com um relatório da ONU.

Dezembro: Dois enviados da ONU são acusados pelo governo afegão de fazer contactos com os taliban e são expulsos do país.

2008

21 de Julho: Realiza-se em Guantánamo o primeiro julgamento por crimes de guerra promovido pelos Estados Unidos desde o fim da II Guerra Mundial. No banco dos réus sentou-se o antigo motorista de Bin Laden.

22 de Agosto: Um bombardeio americano no oeste do país mata 90 civis e reactiva a polémica sobre as vítimas civis de bombardeios estrangeiros.

Novembro: Os taliban rejeitam uma oferta de Karzai de iniciar negociações de paz, dizendo que não pode haver negociações enquanto as tropas estrangeiras estiverem no país.

4 de Novembro: Barack Obama é eleito o 44º presidente dos Estados Unidos com 52,9 por cento dos votos.

2009

11 de Fevereiro: Ataques reivindicados pelos taliban contra edifícios do governo em Cabul deixam 34 mortos.

27 de Março: O presidente Barack Obama anuncia uma nova e "abrangente" estratégia para a Guerra do Afeganistão. Em anúncio oficial, afirma que a Al Qaeda encontrou solo seguro no Paquistão e por isso os EUA devem expandir a "guerra ao terror" para o país vizinho. O presidente norte-americano promete ainda um reforço de 17 mil soldados e 4.000 militares de instrução para reverter os recordes de violência no país.

Maio: O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, substitui o comandante das tropas dos EUA no Afeganistão, general David McKiernan, pelo general Stanley McChrystal, afirmando que a batalha contra os taliban precisa ser “repensada”.

4 a 5 de Maio: Os EUA lançam bombardeios aéreos na Província de Farah (oeste) que deixam dezenas de civis mortos. Os relatos, contudo, são contraditórios. A comissão afegã de direitos humanos afirma que houve 97 vítimas, o governo afegão culpa os americanos pela morte de 140 e Washington coloca entre 20 a 30 civis mais 60 a 65 taliban. O ataque reaviva as críticas aos ataques aéreos das forças internacionais e às vítimas civis.

23 de Junho e 2 de Julho: Início das operações militares britânica Garra de Pantera e americana Khanjar ("Punhalada" em pashtu) na fortaleza taliban na Província de Helmand.

30 de Julho: Os taliban ordenam que os afegãos boicotem as eleições e peguem em armas contra os invasores.

31 de Julho: A ONU anuncia que mais de mil civis morreram durante o primeiro semestre de 2009, um aumento de 24% em relação ao menos período de 2008. No total, 76 soldados estrangeiros morreram em Julho, um recorde desde 2001.

12 de Agosto: Cerca de 400 marines americanos e cem soldados afegãos lançam uma nova ofensiva contra os taliban na Província de Helmand (sul), com o objectivo de garantir a segurança antes das eleições presidenciais.

20 de Agosto: Eleições presidenciais. Os taliban, na tentativa de impedir o processo eleitoral, promovem atentados no norte, mas o forte esquema de protecção armado, com 300.000 polícias e soldados estrangeiros, garante a votação.

Setembro: Uma sondagem da CNN mostra que a oposição da opinião pública americana à guerra do Afeganistão é agora largamente maioritária: 58% dos americanos opõem-se à guerra, contra o apoio de 39%.

Setembro: Fuga de informação torna público um relatório do general Stanley McChrystal dizendo que a guerra contra os taliban pode ser perdida em 12 meses se não houver um aumento significativo da presença militar americana.

Novembro: o líder da oposição, Abdullah Abdullah, anuncia que desistiu de apresentar-se ao segundo turno das eleições, que se realizariam no dia 8, o que significava a reeleição automática do presidente Hamid Karzai.

1 de Dezembro: O governo dos EUA pede à Nato o envio de 10.000 tropas suplementares às mais 30.000 que a Casa Branca se compromete a enviar em 2010. O Reino Unido compromete-se com enviar mais 500 militares.

2010

Abril: O president Karzai responsabiliza os observadores internacionais pela fraude nas eleições presidenciais do ano anterior, e acusa a ONU e a UE de manobrarem para pôr no poder um governo fantoche. A Casa Branca considera estas afirmações “genuinamente perturbadoras”.

Julho:O general David Petraeus assume o comando das forças norte-americanas e da ISAF.

1° de Agosto: A Holanda é o primeiro país membro da Nato a retirar as suas tropas do Afeganistão.

20 de Novembro: A NATO e o Governo do Afeganistão assinam, em Lisboa, um acordo que formaliza um processo de transição, entre 2011 e 2014, que culminará com a entrega total da responsabilidade pela segurança do país aos próprios afegãos.

2011

2 de Maio: Unidades de operações especiais da marinha norte-americana matam Bin Laden numa operação especial em Abbottabad, nos arredores da capital paquistanesa de Islamabad. Apesar de estar desarmado, as forças especiais não quiseram capturá-lo vivo. O corpo foi levado para um porta-aviões dos EUA e lançado ao mar.

7 de Maio de 2011: Os Taliban lançam um pesado ataque contra prédios do governo em Kandahar com o objectivo de tomar o controlo da cidade. Pelo menos oito locais foram atacados: o complexo do governador, o escritório do presidente da câmara, o quartel-general da NDS, três estações da polícia e duas escolas. A batalha durou mais um dia, e foi considerado o pior ataque sobre Kandahar desde a queda da cidade.

23 de Junho: Barack Obama anuncia a retirada de 33 mil soldados até Setembro de 2012. Os primeiros dez mil devem deixar o Afeganistão até ao fim de 2011.

24 de Junho: O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciam em Bruxelas os planos de retirada de seus 4.000 e 1.500 soldados, respectivamente, do Afeganistão. Zapatero diz que os soldados espanhóis deixarão o solo afegão de forma gradual até o fim de 2014. A retirada francesa também será gradual.

13 de Julho: A Itália anuncia que deverá retirar todos os seus soldados da linha da frente da operação militar no Afeganistão até 2014. Segundo o ministro de Defesa do país, Ignazio La Russa, "o objectivo é chegar em 2014 com zero homens na linha de frente", no Afeganistão, quando então as tropas italianas devem se concentrar no trabalho de "apoio, assistência e treinamento" .

20 de Setembro: Ataque à bomba em Cabul mata o Presidente do Conselho Superior da Paz, Burhanuddin Rabbani, principal responsável das negociações de paz com os taliban.

1 de Outubro: O governo do Afeganistão suspende os contactos com os taliban e aponta o Paquistão como o único interlocutor para as negociações de paz.

(...)

Neste dossier:

Dez anos de Guerra do Afeganistão

Neste dia 7 de Outubro, a Guerra do Afeganistão completa dez anos. É quase tanto tempo quanto a I e a II Guerras Mundiais juntas. Estimativas prudentes apontam para a morte de 40 mil civis e 3 milhões de refugiados. Mas a coligação invasora foi incapaz de vencer a guerra. Hoje anuncia a retirada progressiva  e tenta a negociação com os taliban. Dossier coordenado por Luis Leiria.

Cronologia de dez anos de guerra

Os principais acontecimentos de uma guerra que os Estados Unidos não conseguiram vencer.

Um Mês em Cabul

Cabul é uma cidade de sacos de areia e de homens armados e nervosos, que circulam a pé ou em veículos grandes, reluzentes e buzinantes. Vive-se de uma maneira opaca por detrás de portas blindadas e de muros eriçados com arame farpado. Por Ed Kinane, Truthout | News Analysis

Vídeo: Qual o verdadeiro custo da Guerra do Afeganistão?

Em 8 de Outubro, a Guerra do Afeganistão fará dez anos. Quase tanto tempo quanto a I e a II Guerras Mundiais juntas. É tempo de perguntar qual o verdadeiro custo da guerra.

A bagunça dos EUA no Afeganistão

Foram certamente os Estados Unidos da América que optaram por invadir o Afeganistão. E foram os Estados Unidos que manipularam o Conselho de Segurança das Nações Unidas para aprovar uma resolução que parecia apresentar uma justificação para a sua guerra impossível de vencer. Por Brian Cloughley

'Drones' espalham morte no Afeganistão

Os ataques com aeronaves não-tripuladas dos EUA no Afeganistão estão a provocar uma  enorme onda de ódio face aos Estados Unidos, relatam Kathy Kelly e Joshua Brollier, do Counterpunch 

Guerras do Afeganistão e Iraque sugam orçamento dos EUA

Os EUA gastam cerca de 2 mil milhões de dólares por semana somente no Afeganistão, o que representa cerca de 104 mil milhões de dólares ao ano – isso sem incluir o Iraque.

A guerra está perdida

A aproximação aos Taliban não é de modo algum a demonstração de uma 'posição de força', mas um sinal claro de fraqueza dos Estados Unidos. O próprio presidente Hamid Karzai descreveu o anúncio de que as tropas americanas se retirariam como "um momento de felicidade para o Afeganistão". Por Eric Walberg

O assassínio de Rabbani evidencia as contradições

Ex-presidente encabeçava uma comissão de paz com os taliban, tinha boas relações com o Irão e à opunha-se à presença dos Estados Unidos e da Nato no Afeganistão, culpnado-as pela turbulência no país. Por Juan Cole

Cansaço da guerra nos Estados Unidos?

As mais recentes sondagens nos Estados Unidos mostram oposição à permanência no Afeganistão. Os analistas estão a falar de "cansaço da guerra", já que é difícil afirmar que os EUA tenham sido vitoriosos nalgum dos três conflitos em que está envolvido.

Os taliban sob a lei dos taliban

Foi uma das maiores fugas de prisioneiros de que se tem notícia, em termos de engenho e perseverança dos envolvidos. Aconteceu às 22h do dia 25 de Abril de 2011, no sul do Afeganistão. Patrick Cockburn, The Independent

90% dos “taliban” capturados por Petraeus eram civis

A confusão deliberada de referir-se a todos os que foram levados a interrogatório como combatentes taliban foi um elemento chave numa estratégia planeada cautelosamente para criar uma imagem mais favorável da guerra. Por Gareth Porter

Vídeo: Jimmy Cliff contra a guerra

Num concerto em Glastonbury, em 2011, o cantor muda o título da sua música contra a Guerra do Vietname para Afeganistão. E grita que "nós, o povo, não queremos outro Vietname no Afeganistão.