Como o próprio explica, tem uma "agenda reformista que vai ser implementada rapidamente que vai melhorar em muito pouco tempo as condições das empresas estrangeiras que querem investir em Portugal".
A receita é conhecida e antiga: salários baixos e despedimentos fáceis. O número de trabalhadores a ganhar o salário mínimo duplicou e as alterações à lei laboral aí estão. É uma receita injusta e incompetente, mas seguida sem hesitações. Mesmo reconhecendo que o mercado interno decresceu - porque os salários baixam e o desemprego cresce -, nunca o Governo põe em causa a receita. Não, quer sempre mais.
No seu fanatismo ideológico, transforma o país num laboratório do neoliberalismo experimentando com a nossa economia, com as nossas vidas. Depois do imposto extraordinário, dos aumentos dos transportes e na energia, dos despedimentos fáceis e baratos, virá mais IVA. O Ministro Álvaro diz que estudará caso a caso. Ninguém sabe muito bem o que será estudar IVA caso a caso, mas sabemos o que está em cima da mesa.
O FMI quer, e o Ministro Álvaro defende com unhas e dentes, a baixa da Taxa Social Única. Ou seja, que as empresas paguem menos à segurança social e que, para compensar a perda de receitas e permitir chegar ao défice previsto, o IVA suba. A teoria é que com menos custos associados ao trabalho as empresas vão ser mais competitivas e exportar mais. Claro que isto é sobre a descida da TSU. Sobre a subida do IVA que ela implica não há ideia nenhuma.
Mas a subida do IVA não é um pormenor. É um plano muito pesado, pesado demais. É tirar ainda mais a quem menos tem e sentirá mais o aumento dos preços. E é matar boa parte das empresas e dos empregos. Porque quando o IVA sobe, o consumo desce e as falências sucedem-se. E no deve e no haver, entre a baixa da TSU e a subida do IVA, percebemos que perdemos todos. Mesmo até boa parte das empresas exportadoras, mas que vivem também do mercado interno. Ou aquelas em que o IVA mais pesa, mesmo sendo as que mais exportam, como acontece com o turismo.
Diz o Ministro Álvaro que "todas as semanas recebe empresas que querem investir em Portugal". Talvez valesse a pena receber também quem cá trabalha e vê o salário mais baixo e o desemprego à porta. Alguém terá de explicar ao Governo que o país não é uma abstracção. É feito de gente. Gente que vê o futuro mais negro, numa espiral de recessão sem fim e o abismo aqui tão perto.
Gostaria o Governo de estar frente a uma folha em branco a fazer desenhos e experiências do perfeito neoliberalismo imaginado. Mas isso não é governar. E o país, que não é uma folha em branco, não aceita ser cobaia neste laboratório de horrores. Em Outubro a recusa da bancarrota está na rua. Dia 1 na manifestação convocada pela CGTP, dia 15 no movimento indignado europeu. Em nome da sensatez.