You are here

Novas ideias para a esquerda

O Fórum Socialismo 2011, que este fim de semana decorre em Coimbra, espelha bem o modo como o Bloco de Esquerda tem que estar na política. Destaco três aspectos que me levam a ter esta convicção.

O primeiro é a combinação do constante com o inovador. Para alguns, a esquerda está condenada a abandonar traços essenciais da sua identidade constitutiva para se ajustar aos novos contornos da realidade económica e social de um capitalismo predador em galope. Neste Fórum, o Bloco acolhe, para as estudar, as novas faces da realidade social, económica e cultural. Mas não se encanta embasbacado diante delas. Nem as sataniza. Apenas as olha como novos desafios à imaginação de uma esquerda que não abandone as suas bandeiras de justiça, de igualdade e de primazia do comum sobre o excludente. Assim tem que ser a intervenção geral do Bloco: capaz de identificar o que muda, sem preconceitos nem preguiças, e desenhar políticas que vão buscar ao património de uma esquerda de combate a sua vertebração.

O segundo aspecto é a ambição de mudar as vidas. Talvez para alguns fosse mais agradável não ter que ouvir vozes que vêm de outras trajectórias à esquerda. As pulsões sectárias têm essa marca: absolutizar a razão que nos assiste, dispensando-nos de criar condições para interlocuções com outr@s e, assim, gerar uma prática que transforme mesmo a realidade. No Socialismo 2011 convergem muitas vozes diferentes das esquerdas. Trazem ângulos de abordagem diversos. É assim o universo da esquerda. E é essa pluralidade que o Bloco quer assumir como desafio. O Bloco de Esquerda não quer engrossar o grupo dos que vivem para o umbigo, cheios da sua razão. Quer – e isso é-lhe exigido sempre e mais ainda neste tempo – trazer a diversidade das esquerdas para batalhas que queremos ganhar, na economia, nos serviços públicos, na construção europeia, na garantia dos direitos de tod@s e de cada um/a.

O terceiro aspecto é a noção de que a emancipação se faz de todas as emancipações. Podíamos ter pensado um fórum mono-temático. A intensidade inédita da ofensiva contra o trabalho e os seus direitos talvez o justificasse. No Socialismo 2011, não nos permitimos distrair dessa ofensiva e debateremos a crise das dívidas soberanas, o cardápio dos ajustamentos estruturais ou os ataques aos direitos sociais na saúde, na educação, no trabalho ou na segurança social. Mas não remetemos para segundo plano a luta ideológica, nem a luta ecológica, nem a luta feminista, nem a luta do precariado. Não sabemos ser de outro modo: com bandeiras de todas as cores, porque atrás de uma libertação há sempre mais libertações por atingir.

Sobre o/a autor(a)

Professor Universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda
(...)