You are here

Secretas espiaram ilegalmente jornalista do 'Público'

SIED teve acesso aos registos telefónicos do então jornalista do 'Público' Nuno Simas para tentar descobrir as suas fontes, de acordo com a edição deste sábado do 'Expresso'. Prática é totalmente ilegal e prefigura crime. Direcção do jornal exige inquérito e diz que caso não pode ficar impune. Mas governo já disse que não vai facultar aos deputados o relatório sobre outras fugas de informação nas secretas.
Prática é totalmente ilegal e prefigura crime

O Expresso teve acesso a seis páginas com os registos detalhados de todos os telefonemas e SMS feitos pelo jornalista entre 19 de Julho e 12 de Agosto. Na altura, o jornalista escrevia sobre tema relacionados com as secretas. Hoje, Simas faz parte da direcção da Agência Lusa. O jornalista confirmou ao Expresso que a lista é mesmo dos telefonemas que ele fez, mas não quis de momento acrescentar comentários.

O acto de espionagem terá contado com a colaboração de alguém da Optimus, a operadora do telemóvel em questão, e não teve qualquer registo interno, já que é totalmente ilegal e prefigura crime.

O Expresso afirma que o autor da iniciativa terá sido o então director-operacional do SIED João Luís, que terá enviado o registo das chamadas ao então director do órgão Jorge Silva Carvalho. João Luís, diz o semanário, já foi exonerado a 5 de Agosto por, alegadamente ter enviado informação a Silva Carvalho quando este já não era do SIED. Silva Carvalho dirigiu a instituição até 10 de Novembro, quando foi trabalhar para a empresa Ongoing.

Público considera inaceitável e pede inquérito e punição

Em nota enviada aos média, a direcção do Público considera inadmissível e inaceitável que um jornalista da redacção tenha sido objecto de uma prática desta natureza e “entende que este caso não pode ficar impune”, exigindo que “seja feito um inquérito para apurar responsabilidades e que vá até às últimas consequências”.

Bárbara Reis, directora do jornal, disse à TVI24 que esta notícia “é um News of the World ao contrário”. Para ela, “O mundo ficou chocado com o que se passou na imprensa britânica e em Portugal estamos a ver as instituições mais sérias e com responsabilidades altíssimas do Estado a espiarem os cidadãos para interesses próprios, aparentemente mesquinhos e corporativos. É absolutamente inacreditável”.

Ora é o próprio Público que informa também este sábado que o Governo não vai facultar à 1.ª comissão parlamentar as conclusões da investigação interna realizada nos serviços secretos sobre as alegadas fugas de informação para a Ongoing. O motivo invocado é que o relatório conterá dados susceptíveis de colocar em causa a segurança interna e externa. Assim, parece pouco provável que mais uma vez este caso não fique impune.

Entretanto, a direcção do Sindicato dos Jornalistas, além de manifestar toda a solidariedade para com o jornalista Nuno Simas, anunciu que “vai pedir ao procurador-geral da República e à Comissão de Fiscalização dos Serviços de Informações da República da Assembleia da República a investigação urgente e cabal dos factos denunciados”.

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Política
Comentários (2)