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Balanços ou demissões?

Contributo de Francisco Tomás

A classe jornalística, de forma consciente ou por seguidismo e perante a perda de 8 deputados e 270 mil votos, pelo Bloco de Esquerda, não deixou de pressionar, as causas ou causa das perdas do Bloco, focados apenas na demissão do Francisco Louçã.

O Bloco de Esquerda, em toda a sua dimensão organizativa e junto de sectores independentes, deve, no meu entendimento, procurar ler os sentimentos, as preocupações, os medos, os desejos etc., que levaram os cidadãos portugueses a não seguir as nossas propostas.

Porque ficaram pura e simplesmente, uma grande parte sem votar, ou procurar outras saídas no quadro partidário das troikas.

Tenho, para mim que o povo não é ingrato. Se as pessoas não votaram em nós e já o tinham feito, é porque nós Bloco não soubemos interpretar, ler o seu estado de consciência e adaptarmos as nossas propostas, a nossa mensagem, a nossa organização ao seu estado de compreensão ou seja consciência.

Hoje, tenho a opinião de que nos começámos a afastar do estado de consciência das grandes massas de votantes, nas presidenciais.

Em tese, o apoio a Manuel Alegre no quadro da necessidade de uma frente contra o neoliberalismo, não seria errado se as pessoas, nomeadamente se as que nele votaram a primeira vez, dessem sinais de ampla adesão. Mas não aderiram, não a defenderam nem defendem, não se bateram nem se batem por ela, não a propagaram no seio da família, no seio dos amigos, no seio dos colegas etc.

E nós não soubemos captar esta situação de recuo em relação às anteriores eleições presidenciais. Não soubemos ler os sinais dos novos tempos em Portugal e deixámo-nos influenciar pelo despoletar de novas situações de luta em vários pontos do mundo, nomeadamente no Magreb.

As nossas propostas políticas não foram devidamente trabalhadas em função do nível da consciência desses milhares de cidadãos.

A forma como interviemos na recusa pura e simples de ir a uma reunião com a troika, não terá correspondido ao nível de consciência actual dos cidadãos, não foi por eles compreendido porque não íamos colocar os nossos pontos de vista, as nossas propostas, os nossos argumentos contra a venda de euros, a Portugal, a um preço agiota.

Mas quero também chamar à atenção para a forma como envolvemos ou não envolveu, o maior número de cidadãos na feitura, discussão e posterior alteração, das propostas políticas ou de lei, sob as quais queremos organizar os cidadãos para a luta pelos seus interesses.

Tenho consciência de que não é fácil articular a luta parlamentar com o envolvimento das pessoas, dos movimentos ou seja da sociedade. Mas sem este trabalho de envolvimento e ligação constante entre dirigentes e Bloco com os cidadãos “anónimos”, como poderão eles, cidadãos anónimos, sentir que para nós eles contam, afinal os partidos e os ditos políticos não são todos iguais. O Bloco, os seus militantes e dirigentes é com eles que partilhamos sentimentos, preocupações, anseios e desejos para uma vida melhor. Nós, Bloco e eles, cidadãos anónimos, partilhamos tudo e até as propostas e os movimentos concretos que deverão reger as formas de vida da nossa sociedade.

Este meu pensamento reflexivo é um embrião na tentativa de aprofundar a comunicação interpessoal, como uma das mais poderosas vias a ser percorridas de forma ininterrupta, entre nós, Bloco, e os cidadãos ditos anónimos.

Tenho para mim que é por este caminho que devemos avançar no debate da situação objectiva que vivemos e que vivemos. É a realidade concreta da vida e do sentir dos cidadãos, que nos interessa apurar e não demissões ou auto demissões. Os debates e as votações sempre foram colectivos e maioritários. Se houvesse que demitir alguém teríamos que demitir a maioria dos aderentes que sempre têm votado o primado do programa político do bloco.

Como vêem o debate está a passar por aqui e eu em função da minha consciência, não quero que ele termine na minha porta, porque a realidade objectiva da vida e da natureza muda a cada instante. Por esse facto, mais vale fazer, mesmo que à frente vejamos que não foi certo o que fizemos, do que não fazer porque não concluímos o debate ou porque não queremos errar. Mas se não fizermos algo, então erramos de certeza.

Venha daí cada opinião, que certamente cada um tem e que não deve guardar, mas sim contar aos restantes. Só assim procedendo, agora e sempre, poderemos chegar mais perto da verdade.

O nosso debate não é antagónico com a vida, antes é o fruto da vida que pulsa em cada recanto do nosso planeta e em cada mundo constituído pelo animal pensante.

Em muitos locais do planeta há ”fogos” e até ebulição. Mas não me parece que em Portugal estejamos nesse estado. Por cá, a” panela” foi colocada no fogão, mas o lume ainda não foi aceso. Quando o povo disser “dá-me lume”, o Bloco deverá estar pronto a dar-lhe o lume.

Francisco Tomás

Seixal, 12/06/2011

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