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Um Bloco de Democracia, de Activistas, de Construção Colectiva!

Contributo de João Mineiro

Uma das principais razões, talvez a mais importante para a minha adesão ao Bloco há três anos e meio atrás, foi que à necessidade que eu sentia de ajudar a construir e dar força a um partido de esquerda plural, onde as decisões fossem tomadas de baixo para cima, correspondia uma prática política, uma organização colectiva, um partido. Chamava-se Bloco de Esquerda, e desde aí nunca mais a minha vida foi a mesma.

No Bloco aprendi que as melhores decisões são as que tomamos colectivamente. No Bloco aprendi que uma prática política para ser emancipadora só pode ser feita com gente que não pensa sempre como eu. No Bloco aprendi que tudo na vida é questionável, tudo é susceptível de crítica, que a democracia é uma prática e uma vivência. No Bloco aprendi que ninguém é feliz sozinho e que é na militância política e social que ganhamos a força para dizer que outro Mundo é possível. Aprendi que as mudanças estão impressas nos sorrisos e nas vivências daqueles que as constroem e que as tomam com as suas mãos. No Bloco aprendi que pensamos melhor, sempre que pensamos juntos.

Se tudo isto é verdade, o contrário também o é: no Bloco aprendi que nem sempre as decisões são tomadas democraticamente; no Bloco aprendi que nem sempre os órgãos próprios e a militância de base é ouvida; no Bloco aprendi que se há decisões colectivas, outras são fechadas; no Bloco aprendi que há quem não queira discutir tudo nem pôr tudo a discussão; no Bloco aprendi que a tendência para a burocracização e para o “funcionarismo” paralisante nos deve preocupar; no Bloco aprendi que nos precisamos de repensar.

E neste rescaldo das eleições, que eu acho que é muito mais que isso, deixo três propostas, para pensarmos colectivamente:

A primeira é que o Bloco precisa de uma reinvenção democrática de fundo. A escolha do Alegre era acertada. Quem nos dera que o Alegre fosse neste momento Presidente da República. Tínhamos garantias e compromissos claros. O que aconteceu foi que a decisão de apoiar o Alegre não correspondeu a um debate franco e sério dentro do Bloco. A decisão foi tomada fora do órgão próprio, os militantes não foram incluídos na tomada decisão. E não podemos pedir a militância numa campanha, em que os militantes não foram ouvidos. Isto levou ao afastamento dos activistas do Bloco na campanha e afastou a campanha das nossas bases. Não disputámos a campanha. E isso enfraquece-a. Atarantados com o resultado fraco e com todos os objectivos por cumprir, lançámos uma moção de censura que é o acentuar do erro: as bases não foram ouvidos, os órgãos democráticos do partido foram desrespeitados

Esta é a minha primeira conclusão: se queremos um partido onde a militância é a regra, onde os militantes se sentem incluídos e onde as decisões são partilhadas, temos de fazer uma reinvenção democrática e deixar de achar que três ou quatro pessoas são iluminados ao ponto de decidirem por tod@s.

Em segundo lugar, temos de aplicar realmente aquilo que sempre defendemos, um partido ancorado nos movimentos sociais, sem correias de transmissão de nenhum tido, mas onde os movimentos sociais são a base da nossa acção e da nossa proposta política. Temos excelentes activistas contra a precariedade, estudantis, feministas, anti – homofobia, anti – guerra e ambientalistas. Contudo, parece crescente uma atenção apenas para os movimentos em que temos hegemonia. Não chega. Temos que incentivar o activismo e estar atentos a todos os movimentos. Porque um partido de esquerda sem activistas é um partido sem percepção social, é um partido que abdica da disputa dos espaços, é um partido que se resume à burocrática tarefa de estar permanentemente nos espaços do partido, abdicando da disputa do Mundo.

Esta é a minha segunda conclusão: se queremos um partido de esquerda capaz de transformar Portugal, precisamos de estar nos movimentos sociais, sem correias de transmissão, com liberdade, mas onde consigamos disputar os nossos espaços de actuação e de vivência. Queremos um partido de activistas sociais comprometidos com os valores da esquerda mas comprometidos também com as pessoas com quem partilham os espaços de vivência e actuação.

Em terceiro lugar, temos de nos pensar como um todo e não como uma soma de partes. A verdade é que no Bloco parece haver um clima de desconfiança permanente, de cacique (desculpem se assusto alguém com esta palavra) em conversas de café e restaurantes. No Bloco parece, muitas vezes, haver duas caras. Uma é aquela em que somos tod@s muitos amig@s e que, abraçados, cantamos a Internacional. A outra é aquela onde falamos dos nossos camaradas como se fossem alvos de combate, como se fossem eles o foco da nossa luta. Não! No Bloco assumimos a divergência nos espaços do Bloco, e não apenas nos espaços das correntes ou nas conversas de café. No Bloco temos uma cara apenas, criticamos sempre que achamos necessário e estamos disponíveis sempre para que nos critiquem a nós também. E ainda sim, construímos juntos um projecto próprio que quer ser transformador.

Esta é a minha terceira conclusão: se queremos um Bloco transformador, temos de ter um entendimento do Bloco como um todo e não como uma soma de partes. Se queremos transformar este país temos de ser antes de mais honest@s connosco mesm@s e com @s noss@s camaradas. Só com a sinceridade de quem diz tudo na cara, e que ainda assim estamos juntos no projecto que democraticamente construímos e com qual queremos transformar Portugal, podemos ultrapassar e esta crise, que não é uma crise de identidade.

Temos uma escolha a fazer: ou assumimos, com a humildade que qualquer revolucionário tem, de que erramos e que não somos donos de razão e da verdade, e assim nos superamos a nós próprios e continuamos a fazer estrada juntos, ou então, ficamos como as “vacas sagradas”, arranjamos tácticas para afastar os militantes mais críticos, tomamos decisões de cima para baixo, excluímos pessoas que nem sempre pensam como nós, e fechamo-nos no nosso casulo da verdade.

Esta é uma escolha histórica: ou queremos transformar o Mundo ou queremos ficar esquecidos. Ou queremos lutar pelo socialismo, ou damos uma carta-branca à barbárie.

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