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Estudo do Governo Sócrates dado à troika propõe o fecho de 800 km de linha férrea

Um estudo dos ministérios das Finanças e das Obras Públicas e Transportes do Governo Sócrates, feito à revelia da Refer, propõe o encerramento de 800 km de linha férrea, reduzindo a ferrovia ao eixo Braga-Faro e às linhas da Beira Alta e da Beira Baixa.
O documento reduz a ferrovia ao eixo Braga-Faro e às linhas da Beira Alta e da Beira Baixa. Foto de nmorao/flickr - Estação de Alcácer do Sal, 2008

O jornal “Público” deste domingo revela que o anterior Governo PS encomendou o estudo e entregou-o à troika, como uma medida para reduzir a despesa pública, através da redução das despesas da Refer e da CP. Os cortes impostos por FMI, CE e BCE impuseram na Grécia a redução de 700 km de via férrea, cortando 44 por cento das suas linhas e reduzindo 59 por cento do tráfego de passageiros. Estes cortes fomentam o transporte rodoviário, como alternativa, e a prazo aumentam o défice energético do país, agravando o défice externo e a dependência energética. Têm também um efeito devastador no aumento das emissões de dióxido de carbono e vai contra todas as perspectivas de defesa da sustentabilidade ambiental. Contrariamente a esta posição do documento do Governo Sócrates, o Bloco de Esquerda sempre defendeu a ferrovia, opôs-se à sua privatização e ao encerramento de linhas, tendo na última campanha eleitoral apresentado um Plano Ferroviário Nacional.

No artigo de Carlos Cipriano no jornal “Público” compara-se esta proposta de encerramento de 794 km de linhas ferroviárias, à “razia” dos anos 80, quando foram encerrados 800 km de linhas, nomeadamente no Alentejo e em Trás-os-Montes. O documento que foi entregue à troika propõe o encerramento das linhas que estão “provisoriamente” encerradas à espera de modernização (Corgo, Tâmega, Tua e troços Figueira da Foz-Pampilhosa e Guarda-Covilhã, num total de 192 quilómetros), a Linha do Oeste entre Louriçal e Torres Vedras (127 quilómetros), a Linha do Douro, entre Régua e Pocinho (68 quilómetros), a Linha do Leste entre Abrantes e Elvas (130 quilómetros), a Linha do Vouga (96 quilómetros), o ramal de Cáceres (65 quilómetros), a Linha do Alentejo entre Casa Branca e Ourique (116 quilómetros). Os cortes agora propostos não ficam pelo interior, como em 80, mas abrangem áreas mais vastas, sendo no entanto o interior norte e o Alentejo os mais penalizados, deixando até a cidade de Beja sem comboio.

Segundo o jornal, a actual administração não compartilha do plano entregue à troika, apesar de, num estudo ainda não terminado, propor igualmente cortes mas de 240 km: o encerramento das linhas “provisoriamente” fechadas (com excepção da ligação Guarda-Covilhã), o ramal de Cáceres (Torres das Vargens-Marvão), a Linha do Vouga apenas entre Albergaria e Águeda (14 quilómetros) e a Linha do Alentejo entre Beja e Ourique (36 quilómetros).

Técnicos da Refer salientaram ao jornal diversas contradições do estudo, salientando nomeadamente que o encerramento conjunto do ramal de Cáceres e da Linha do Leste deixaria os portos de Sines, Setúbal e Lisboa quase sem ligação ferroviária a Madrid e à Estremadura espanhola, uma vez que a sul de Vilar Formoso não haveria ligação ferroviária a Espanha.

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