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É necessário interromper este sistema económico e monetário

Contributo de Gonçalo Ribeiro

Um artigo que escrevi a algum tempo e que mostra a minha perspectiva:

Quando comecei a ter consciência do estado em que se encontrava a minha sociedade, ou seja, quando comecei a ter verdadeiramente consciência política, denotei que o meu povo, a minha nação, a minha pátria estava a ser cada vez mais descaracterizada e entregue ao deus dará. Conhecendo minimamente Portugal, como um simples cidadão, reparo logo que este país não está bem, não está a aproveitar todas as potencialidades. Potencialidades essas que fazem deste pequeno "rectângulo" à beira-mar um país especial. Mas ainda que não o fosse, ou que não o seja para muitas pessoas, é um país que não necessita de passar por tantas dificuldades como tem passado. Não necessita de ser tão dependente como é, não necessita de perder tanta soberania como tem vindo a acontecer nos últimos tempos da sua riquíssima história.

Tínhamos uma economia pequena e, graças ao processo de capitalização verificado em todo o mundo, tornamos a nossa pequena economia numa economia onde os padrões de qualidade e quantidade se elevaram e, com a liberalização dos mercados, deixámos de ser um pequeno país para ser mais um país pequeno da União Europeia. União essa que preparou terreno para a transformação completa de Portugal. Com pontos positivos evidentemente, mas que nos fez levantar do chão sem sequer nos ensinar a andar. Resultado: uma queda inevitável.

Fomos progressivamente e quase que sem nos queixarmos, pois íamos recebendo subsídios que, supostamente, nos estavam a ajudar a evoluir económica e socialmente, assistindo a uma destruição da produção nacional. Da agricultura, resultado da política aplicada pela UE que nos afastou dos mercados internacionais, das pescas, das indústrias têxteis, que viram grandes grupos económicos invadir o país e não foram apoiadas como deviam, e da pouca indústria pesada e siderúrgica que tínhamos no nosso país.

O sector dos transportes foi melhorado. De facto, tão melhorado que hoje somos o único país da UE que tem mais quilómetros de auto-estradas do que de ferrovia. Aproximámos as cidades dirão, reduzimos ou eliminamos o facto de cidades estarem isoladas, mas, ao invés, o que eu observo é uma tentativa, bem conseguida, de aproximar as pessoas das cidades, para que estas abandonassem as condições precárias que lhes foram dadas no mundo rural do interior, como que convidando-as a colaborarem neste sistema de empregadores e empregados onde o proletariado é sempre quem sai a perder.

As pessoas sentiram que era impossível possuir terrenos, que era insustentável levar uma vida como as suas gerações anteriores tinham tido, pois o nível de vida tinha subido, mas só para alguns.

O nível de vida subiu substancialmente com a entrada no euro, com a adesão à moeda única que, destruiu a nossa competitividade face ao exterior, que nos pôs ainda mais dependentes, que aumentou o preço dos bens essenciais (dos bens em geral), e como que quase numa proporcionalidade directa fez subir os salários, uns mais que outros, mas todos para patamares insuportáveis. Resultado disso, assistimos a uma diminuição desses mesmos salários anos mais tarde, ao aumento do desemprego de uma forma quase exponencial, aos cortes nas pensões e nas reformas. Mas agora essa proporcionalidade directa não se verificou. Os valores dos impostos continuaram a aumentar, a inflação foi repetitivamente, de ano para ano, doentia para uma sociedade que começou a cambalear perante um cenário de crise iminente.

Todas estas políticas descaracterizarão Portugal, tornaram-nos em mais um país colonizado economicamente pelos gigantes internacionais. Alemanha, França, Japão e Estados Unidos da América continuam a prosperar e a ultrapassar as suas crises de forma mais ou menos normal, indo de encontro aos chamados ciclos económicos e tendo ainda assim boas perspectivas de futuro. Mas cada vez que passam por uma crise alastram-na ao restante mundo contemporâneo, consequências da liberalização económica e financeira. Mas os países que contraem essas mesmas crises, países como Portugal, Grécia, Irlanda, Argentina, México e até Espanha, não têm tido capacidade para depois fazer face a essa mesma crise. E aí aparece sempre soluções propostas por esses mesmos países que, como que num complô generalizado, se proclamam e se assumem como principais, e ainda mais grave, como únicas soluções para travar essa crise que os leva à bancarrota. Mas, e não fosse isto tratar-se de um sistema capitalista, o que pedem em troca é a dependência económica e financeira, o que pedem é que os países abram portas a uma colonização que já não se faz hoje pelo poder da força mas sim pelo poder do económico. Países têm sido subjugados, cada um a seu tempo, como que de províncias destes donos do mundo se tratassem. Primeira vaga: África. Que desde cedo se tornou colónia do resto do mundo. Segunda vaga: América latina. Que possibilitou a entrada de várias empresas transnacionais desses mesmos países dominantes nas suas terras explorando as suas potencialidades e os seus recursos, entre muitos outros problemas. Terceira vaga: Europa. A actual crise, parece-me a mim, é como que o resultado de um processo de afirmação mundial de potencias como os EUA ou Alemanha, subjugando outros países a sua mercê. Os países que os prosperam são esses. Esses e os que estes permitem que prosperem, países do sudoeste asiático que das duas uma: ou são, principalmente e talvez por isso sobrevivam, boas terras para as ETN das grandes potências obterem mão-de-obra barata e leis laborais inexistentes, como o caso da Índia, ou não pactuam com o actual sistema ocidental e se mostram como principal opositor do ocidente, do colonialismo económico, como é caso da China.

Hoje estamos a vergar-nos perante o exterior e o pior ainda virá, soluções propostas por "inimigos disfarçados de amigos" como é o caso da Troika levar-nos-ão à bancarrota e aí nada poderemos fazer. Nada poderemos fazer para travar uma marcha que já estará em curso para destruir economias nacionais aos poucos e que nos obrigam a seguir determinados caminhos que duvido que sejam os melhores.

Daí ser necessário interromper esta máquina, ou se quiserem, este sistema económico e monetário, este capitalismo desmedido.

Estarei a ser radicalista? Talvez, mas outro pensamento não me parece solução, parece-me antes dissolução, dos costumes, da sociedade. Para citar um grande pensador Jiddu Krishnamurti "Não é demonstração de saúde estar adaptado a uma sociedade profundamente doente". É necessário mudar de rota, mudar de caminho, enfrentar o mundo e bater com a mão na mesa dizendo que não pactuamos com eventuais calotes financeiros, com metas propostas que nos levam ao endividamento eterno, que não seremos aqueles que vêm que tudo está mal mas que depois têm medo de agir!

Apesar de tudo isto, é de lembrar que sou apenas eu, cidadão comum e que pouco entendido, que afirma. Ou não serei o único a dizê-lo?

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