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Não há estado de graça

O Governo de Passos Coelho e Portas, por ter o programa da troika, não tem direito a estado de graça.

É da praxe que os novos executivos tenham quase 90 dias sem grande contestação social. Isto acontece porque se enraizou a ideia de que, por terem ganho recentemente as eleições, os Governos devem ter espaço para aplicar o programa que foi sufragado. No entanto, este Governo não tem direito a esse tempo porque o seu programa não pode diferir, nem difere, do memorando assinado com o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu.

Antes mesmo de tomar posse e ainda durante a campanha eleitoral, Passos Coelho foi explicando que pretende aplicar as políticas da troika e ir mais além. Assim, para além dos despedimentos sempre que o patrão decidir que as pessoas não atingiram os “objectivos”, do fundo para financiar despedimentos, da redução da taxa social única, dos cortes na Escola Pública, do despedimento de dezenas de milhares de professores, dos cortes no Sistema Nacional de Saúde e de privatizações dos sectores mais rentáveis do Estado, este Governo pretende ainda mais austeridade.

Pelo lado dos “jovens” académicos liberais de Passos, temos um ministro das Finanças que é forte adepto da estabilidade orçamental e de preços, o que provoca, ainda mais numa altura de crise, uma enorme retracção do consumo e, logo, da recessão, aumentando o desemprego; um ministro da Economia, Emprego, Obras Públicas, Transportes e Comunicações que defendeu sempre os despedimentos selvagens e o corte nos investimentos públicos, como o TGV; e um ministro da Saúde que é especialista fiscal e que já foi responsável pela gestão dos seguros de saúde privados do BCP.

Já do lado de Portas, já temos Mota Soares na pasta da Segurança Social, que terá de aplicar um corte na TSU e que defende a “liberdade” de cada um contribuir para o sistema previdencial público ou privado, ou seja, que defende a privatização da Segurança Social; e Assunção Cristas, que como ministra da Agricultura, Ambiente, Ordenamento do Território e Mar, voltará à visão retrógrada de que ambiente e agricultura são uma e a mesma coisa, com claro prejuízo para as populações.

Este Governo não deixa dúvidas, eles não recuarão perante a catástrofe social e a corrida para o abismo, que nos fará estar nas condições da Grécia, será um sprint. Por isso, não os podemos deixar dormir. Precisamos de recentrar o debate na auditoria à dívida e na sua negociação. Precisamos de saber o que estamos a pagar, porque é que temos de pagar e quanto estamos a pagar. Precisamos de afirmar a defesa do Estado Social e daqueles que vivem do seu trabalho, nomeadamente os precários, pensionistas e quem vive com salários miseráveis. Precisamos de defender a Economia e o Emprego com mais investimento público.

Temos tanto que fazer que não temos tempo para lhes oferecer essa graça.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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