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O que é que a esquerda socialista pode fazer agora? Tudo!

O acordo com a troika é a consagração da precariedade, é a precariedade para todos, é a precariedade como regra, é o programa que sempre se quis fazer mas que nunca houve coragem para assumir.

Olhemos em volta, há quase 2 milhões trabalhadores precários, há mais de 700 mil desempregados, há quase um milhão de trabalhadores a falso recibo verde. A desigualdade salarial em Portugal é a terceira maior da Europa a 27 e a maior da Europa dos 15.

E chegámos aqui depois de anos de intensificação da exploração e da precariedade. As respostas do PS e do PSD à crise apenas criaram mais desemprego, apenas criaram mais precariedade, apenas adicionaram mais recessão à recessão e desistiram por completo de criar emprego. As respostas do PS e do PSD à crise nem nos deixam perguntas, deixam-nos a certeza de que não há soluções dos mesmos que criaram a crise.

E agora temos as soluções do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Primeiro disseram-nos que ia ser o muito mau e depois apresentaram-nos o pior de sempre mas com um laço bonito. Mas não somos ingénuos e já lemos as entrelinhas do contrato que querem que assinemos e que não assinamos. O acordo do PS, do PSD e do CDS com o FMI contém o maior ataque aos trabalhadores e às trabalhadoras dos últimos 30 anos.

Numa palavra: precariedade para todos.

Achas que não foi mau? Toma lá redução do subsídio de desemprego. Achas que não foi mau? Despedimento por justa causa se não cumprires os objectivos do patrão. Achas que não foi mau? Despedimentos mais baratos e pagos por ti. Achas que não foi mau? Os patrões pagam menos para a segurança social. Achas que não foi mau? Trabalha horas extra ordinárias e recebe o mesmo? Achas que não foi mau? Toma lá 13% de taxa de desemprego.

Se achas mesmo que não foi mau, tens razão. Foi muito pior do que isso.

Subsídio de desemprego para os falsos recibos verdes? Parece mesmo que não foi mau. Mas se conseguem identificar os falsos recibos verdes para lhes dar subsídio de desemprego, porque é que não acabam com essa chaga social? Se é assim tão simples, porque é que não se resolve o problema?

Não se resolve porque o acordo com a troika é a consagração da precariedade, é a precariedade para todos, é a precariedade como regra, é o programa que sempre se quis fazer mas que nunca houve coragem para assumir.

E é ver os patrões a pedir mais. É ver os Soares dos Santos, os Belmiros e os Antónios Saraiva a aplaudir as medidas da troika, a dizer que já faziam falta.

E é ver os Ricardos Salgados e os Carlos Santos Ferreira a pedirem avales ao Estado para pedirem empréstimos porque esbanjaram o dinheiro nos dividendos e agora pedem que paguemos mais BPN's.

Os mesmos senhores que se fartam de viver à custa do Estado, os mesmos senhores que se fartam de nos dizer que não há almoços grátis sentaram-se à mesa com o FMI e a conta fica para quem trabalha. Essa conta tem já tem valor: 78 mil milhões de euros mais juros!

Essa factura não tem nenhum compromisso para eles, não se comprometem com nada, não justificam coisa nenhuma. A factura é toda para nós.

Mas voltemos à primeira pergunta: O que pode fazer a esquerda socialista agora? Tudo!

Ao contrário deles, nós temos compromisso e responsabilidade. É assim que nos pautamos. Compromisso total com as vidas das vítimas da crise. Não viramos as costas. Estamos cá.

Façamos esta campanha e mudemos de futuro com as forças que acumulamos e não tenhamos receio de dizer que não tem de ser assim, que esse é o pior caminho e que há outros, os do crescimento, os do emprego, os do trabalho com direitos.

Foram as pessoas na rua que nos mostraram que são contra a precariedade, contra o trabalho sem direitos e contra o desemprego. Eu estive lá e era 12 de Março. 400 mil pessoas souberam dizer o que queriam. 400 mil pessoas exigiram responsabilidade e respostas.

Agora somos nós que temos a responsabilidade de apresentar as nossas propostas concretas, rigorosas e claras que provam que há alternativa à precariedade como regra.


* “O que é que a esquerda socialista pode fazer agora? Tudo!” - Frase do Maio de 68 no original: "O que pode fazer o movimento revolucionário agora? Tudo!"

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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